Quando o investimento se confunde com entretenimento
A era dos influencers financeiros trouxe mais visibilidade ao investimento, mas também alguma confusão. Investir não é um jogo de sorte, é um exercício de método.
Entre os profissionais de gestão de ativos há uma pergunta que surge com frequência, que é simples de fazer, mas complexa de responder: como investir bem as poupanças? A resposta, apesar de direta, exige compromisso.
Deve-se olhar para o investimento numa perspetiva de longo prazo e ser disciplinado na execução da estratégia escolhida. Não há atalhos nem formulas mágicas. Apenas consistência e rigor ao longo do tempo. É a combinação destes dois pilares, visão e disciplina, que aumenta a probabilidade de sucesso. Descurar qualquer um deles reduz significativamente as hipóteses de conseguir bons resultados.
A disciplina permite seguir o plano definido, mesmo quando a volatilidade dos mercados gera receio ou quando a euforia toma conta dos investidores perante a perspetiva de retornos elevados. Já a visão de longo prazo protege o investidor da tentação dos ganhos imediatos, uma das causas mais frequentes de perdas no mercado financeiro.
As promessas de rentabilidades elevadas com um investimento mínimo de tempo e dinheiro, soam sempre demasiado bem para serem verdade e raramente resistem à prova do tempo.
Contudo, vivemos numa era dominada pelo imediatismo, em que a pressa por resultados rápidos se sobrepõe ao raciocínio ponderado. Esse contexto leva muitos investidores menos experientes a ceder à tentação das chamadas “dicas” de investimento, frequentemente apresentadas como infalíveis.
Perante qualquer proposta rotulada de “garantida” ou “sem risco”, a atitude mais sensata é desconfiar. Mesmo quando bem-intencionadas, estas sugestões raramente produzem bons resultados. A experiência mostra que, nestes casos, é mais prudente agradecer a recomendação, mas manter-se fiel à estratégia previamente delineada. Tal postura evita perdas desnecessárias e, por vezes, até preserva amizades.
Também são comuns negócios apresentados como “imperdíveis”, onde os ganhos parecem tão evidentes que a recusa se torna difícil. No entanto, a prática demonstra que quem verdadeiramente beneficia com estes esquemas são quem os cria e quem os promove. As promessas de rentabilidades elevadas com um investimento mínimo de tempo e dinheiro, soam sempre demasiado bem para serem verdade e raramente resistem à prova do tempo.
Nos últimos anos, também temos assistido a um fenómeno particularmente preocupante: a proliferação crescente de influencers financeiros nas redes sociais. Plataformas como o TicToc, Instagram ou YouTube estão repletas de indivíduos carismáticos que apresentam o investimento como um jogo simples de jogar, atraindo milhares de seguidores, sobretudo da geração Z, que investem quase cegamente seguindo as suas recomendações.
Os produtos promovidos são, na maioria dos casos, ativos com um histórico de elevada volatilidade e variam entre moedas transacionadas no mercado Forex, a criptomoedas, produtos derivados sobre os mais variados ativos ou ações de empresas que estão na “moda”.
O poder destes influencers é crescente e o objetivo de quem os segue passa sempre por ganhar muito, muito rapidamente. E a combinação de ganância e impetuosidade leva muitos destes jovens investidores a procurar atalhos para a riqueza, sem compreenderem plenamente os riscos que assumem.
Investir nos mercados financeiros implica aceitar que o risco é parte integrante do processo. Não existem “almoços grátis”. Quanto maior for a promessa de retorno, maior tende a ser a exposição ao risco.
Os influencers, conscientes dessa vulnerabilidade, exploram-na habilmente. Histórias pontuais de sucesso são amplificadas nos fóruns certos, criando a ilusão de ganhos fáceis, sempre com o objetivo de atrair novos investidores em busca do mesmo sucesso. Já as perdas, muito mais frequentes, permanecem discretas e esquecidas. Esta é uma realidade que importa esconder e diluir na espuma dos dias.
Investir nos mercados financeiros implica aceitar que o risco é parte integrante do processo. Não existem “almoços grátis”. Quanto maior for a promessa de retorno, maior tende a ser a exposição ao risco. Ganhos fáceis ou garantidos devem, por isso, levantar desconfiança. Nenhum especialista, por mais convincente que pareça, consegue contornar as regras básicas do investimento.
Mesmo para economistas e analistas financeiros, prever o futuro é uma tarefa ingrata. O economista John Kenneth Galbraith observou com ironia que existem dois tipos de analistas: os que não sabem e os que não sabem que não sabem. Já o autor William Green, no seu livro “Richer, Wiser, Happier” recorda que se alguém soubesse realmente antecipar os movimentos do mercado, dificilmente venderia essa informação por alguns euros, preferindo investir silenciosamente o seu próprio dinheiro.
Em suma, investir não é um jogo de sorte, mas um exercício de método, conhecimento e paciência. Basear decisões financeiras em conselhos avulsos, de amigos ou de autoproclamados especialistas, raramente produz bons resultados.
O verdadeiro caminho para a solidez financeira constrói-se com consistência, disciplina e uma compreensão clara dos princípios básicos do investimento e dos objetivos pessoais. É essa combinação que permite fazer crescer o património ao longo do tempo, evitando riscos desnecessários e ilusões de enriquecimento rápido.
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