Quanto dinheiro precisa para se reformar?

Parte do processo de investir para a reforma começa por identificar uma meta e, mais importante, perceber o que vale e não vale a pena arriscar.

Espere. Não responda já. Reflita um pouco. Faça inclusive algumas contas de cabeça: 500 mil euros, 1 milhão de euros ou bastariam 200 mil euros? De quanto dinheiro precisaria realmente de ter no bolso para deixar de trabalhar e continuar a viver uma vida tranquila?

Se num primeiro impulso talvez responderia que não sabe, que nunca pensou nisso, numa segunda reflexão, provavelmente, apontaria para um prémio do Euromilhões ou algo parecido. Mas a verdade é que é um valor muito mais baixo do que aquele que tem em mente.

Num inquérito realizado entre 13 e 17 de fevereiro pela Bloomberg a 552 investidores de diferentes espaços geográficos, a resposta mais comum (cerca de dois terços) a esta questão foi uma cifra entre 3 milhões e 5 milhões de dólares (cerca de 2,8 milhões de euros e 4,7 milhões de euros).

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Os números relevados pelos investidores consultados para este estudo apontam para uma ambição elevada, sobretudo quando colocados à margem da realidade portuguesa. Talvez porque os entrevistados sejam ricos ou simplesmente porque é uma pergunta difícil de ser respondida e, por isso, sentem-se mais confortáveis em “atirar para o ar” um número elevado.

É bom estabelecer metas elevadas. Isso obriga-nos a lutar para as alcançar e posteriormente dar valor às suas conquistas. Mas é igualmente importante ser realista. E a verdade é que a maioria das pessoas (em Portugal e no resto do mundo) nunca sequer irá ganhar 3 milhões de dólares ao longo de toda a sua vida.

A resposta à pergunta que faz título deste texto não é imediata. Sobretudo se nunca parou para pensar neste assunto. E também é certo que não há uma resposta correta nem errada. O “número mágico” está dependente de algumas variáveis como o local onde vive (e onde pretende vir a viver), o montante dos créditos que precisa de amortizar, o modo e o custo de vida de cada um, as expectativas de quando pretende reformar-se e as expectativas que tem em relação ao futuro.

Optar pelo suficiente não significa ficar-se pelo “poucochinho”. Consiste em perceber que o desejo insaciável de querer mais, e sempre mais, acabará por levar a um ponto e arrependimento.

Mas lançando a questão no seu grupo de amigos, talvez o elo comum a todas as respostas que venha a obter é a ideia de todos quererem juntar sempre mais. De ganhar sempre mais e mais. E é neste ponto que as coisas podem tornar-se complicadas para a gestão das suas finanças pessoais e, mais importante, para a sua vida.

Trocar o “mais” pelo “suficiente” pode parecer conservadorismo. Pode inclusive ser visto como falta de ambição e até de alguma preguiça. Afinal, renegar a ideia de querer sempre mais, de querer lutar por mais, significa não querer trabalhar mais que o suficiente, não pretender correr mais que “os mínimos olímpicos”. Para muitos, este comportamento é algo de negativo e até reprovável. Eu não me incluo nesse grupo e duvido que as suas finanças pessoais não concordem comigo.

Optar pelo suficiente não significa ficar-se pelo “poucochinho”. Consiste em perceber que o desejo insaciável de querer mais, e sempre mais, acabará por levar a um ponto e arrependimento. Isso acontece com quase tudo, a começar pela gestão do tempo. Dificilmente encontra um pai ou uma mãe que não lhe diga que gostaria de ter passado mais tempo com os seus filhos quando eram pequenos. Mas não só.

Por exemplo, a única forma de sabermos quantas horas aguentamos sem dormir é ficarmos acordados o máximo de tempo possível. São poucas as pessoas que tentam fazer este teste porque o sofrimento e o cansaço associados “à falta de cama” são muito superiores à satisfação que possa retirar ficando acordado por ad aeternum.

Mas esta lógica não parece aplicar-se aos investimentos e, não raras vezes, “muitos dos que procuram ter cada vez mais só acabam por parar quando ficam arruinados ou são forçados a tal“, escreve Morgan Housel no livro “A Psicologia do Dinheiro”, destacando que “isto pode suceder em moldes tão inocentes quanto um esgotamento no trabalho ou uma alocação de investimentos arriscados que não conseguimos manter.”

Parte do processo de investir começa por perceber o que vale e não vale a pena arriscar. E na vida há coisas que por mais elevado que o seu ganho potencial possa parecer, não valem ser colocados ao sabor do risco. A família e os amigos têm um valor inestimável; a reputação e o nosso bom nome têm um valor inestimável; a liberdade e a independência financeira têm um valor inestimável.

Sobre nenhum desses elementos o risco de os perder ou sequer beliscar deve ser considerado. Mas para medir a sua importância é preciso medir o seu valor e definir uma estratégia de como os manter protegidos. Na construção de um complemento de reforma o princípio é o mesmo.

É muito importante definir um número, uma meta, um objetivo para a sua reforma. E é igualmente importante que o faça de acordo com todas as variáveis que para si são relevantes considerar. Depois só tem de seguir um plano de poupança e investimento disciplinado até à chegada dos “Anos Dourados”. Desta forma, não só não correrá riscos desnecessários pelo caminho, como também não cairá nas armadilhas do desejo insaciável de querer sempre mais.

(Conteúdo integrante da edição de 27 de fevereiro da newsletter de finanças pessoais do ECO, Portefólio Perfeito, que pode subscrever neste link.)

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