Tony Carreira, Trump e o mundo bizarro
A Justiça, que tantas oportunidades tem perdido para acusar os poderosos, tantos processos arquivados, mostra uma disposição activa para a ribalta ao atacar um dos cantores mais populares do País.
Estamos a uma semana das autárquicas, mas estranhamente, ou não, os principais temas da semana foram as questões dos alegados plágios de Tony Carreira e o discurso incrivelmente sofrível e belicoso de Donald Trump nas Nações Unidas. Confesso que, para lá dos assuntos do Orçamento do Estado que deixo para quem sabe pois não escrevo sobre o que não domino, ambos os assuntos revelam a pobreza franciscana do estado actual do que mexe com o interesse das pessoas.
Há uns tempos escrevi aqui no ECO que ser racional tem de estar sempre na moda. No mundo bizarro em que vivemos, o turbilhão de maus sentimentos misturado com gente sem substância é um perigoso cocktail que não deixa tranquila uma pessoa de bem. Escrevia que estamos num mundo próximo do manicómio e os homens que o comandam, as pessoas que condicionam as percepções da maioria, têm pouco de genial e muito de desequilibrado (para ser brando).
Donald Trump mostrou a sua impreparação perante uma assembleia que, atónita, o ouviu nos seus dislates bélicos e apocalípticos. Nunca nenhum presidente americano tinha ido tão longe. Sabemos que na Coreia do Norte está um indivíduo do mesmo quilate, alguém com o poder nas mãos, usando-o como se fosse uma brincadeira de crianças, mas o discurso dualista do bem e do mal, a ameaça de destruição e a visão global marcada pela violência e guerra é uma corrente vital negativa, sem esperança e um sinal de isolacionismo que agitará o nosso planeta.
Bizarro também é que no meio de tanta coisa para investigar, tanta corrupção latente, casos de indivíduos a quem são perdoados 600 milhões de dívida, o Ministério Público tenha perdido tempo e dinheiro a formular uma acusação de plágio a Tony Carreira. De facto parece que não há nada de mais grave, o ridículo mata. A Justiça que tantas oportunidades tem perdido para acusar os poderosos, tantos processos arquivados, e mostra agora uma disposição activa para a ribalta ao atacar um dos cantores mais populares do País.
Não sou fã de Tony Carreira, nunca lhe comprei um disco ou assisti a concertos, não é a minha onda. Respeito 30 anos de carreira e, acima de tudo, os muitos milhares de portugueses que gostam dele e o tornam um artista especial. Valorizo muito quem trabalha, em qualquer área que seja, e quem corre atrás de um sonho e o realiza. Durante esta semana vimos um excelente trabalho de comunicação na sua defesa, com entrevista de “prime-time” na TVI, capa da principal revista social, a Caras, e declarações certeiras e humildes que reconheceram o momento complicado. Não perdeu a simpatia de ninguém, com a excepção das hienas que diariamente usam as redes sociais para atirar os seus maus fígados contra quem quer que seja que se mexa. É mais um sinal da bizarria em que estamos atolados.
«Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã preocupar-se-á consigo mesmo. A cada dia basta o seu mal», assim reza no Evangelho segundo São Mateus. O problema é que a espuma se tem imposto ao que verdadeiramente deve interessar. Perversamente, temas capitais são atirados para debaixo do tapete e as sociedades vivem sem conhecerem bem o seu estado e os seus fundamentos. Os alicerces estão podres mas obnubilados em luzes de néon dos temas de palha. O bizarro está a vencer, mas parece que ninguém se interessa ou não quer ver.
Nota: autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.
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