Editorial

Um economista para a política florestal

Há muitos problemas a resolver para travar os incêndios. mas há um que deveria ser prioritário: Os milhares de proprietários rurais têm de ser remunerados pela gestão da floresta.

Outra vez os incêndios, com uma agressividade que, visto a partir das televisões, parece até mais severa do que a dos incêndios de Pedrógão — felizmente sem a tragédia de perda de vidas como em 2017 –, talvez porque os vemos a entrar em zonas urbanas e a pôr em risco vidas e património. É uma fatalidade, por causa das mudanças climáticas, do calor, do vento? Ou revela que não aprendemos nada, ao contrário do que diz, de forma cândida, o Presidente de República?

Nas últimas 24 horas, já ouvimos todas as explicações de especialistas de áreas diversas para o que está a acontecer, as ignições a horas ‘estranhas’ e que sugerem fogo posto, as temperaturas (não) muito elevadas, o ordenamento do território, a falta de meios de prevenção, os meios de combate. E poucos — Henrique Pereira dos Santos é uma exceção no espaço mediático — a apontarem o dedo para a árvore e não para a floresta. Como em outras áreas de atividade, a saúde, por exemplo, os portugueses parecem ter vergonha do que significa a economia da floresta. E por isso, ano após ano, definem-se estratégias, avançam-se para investimentos, criam-se zonas de intervenção florestal. E não há maneira de resolver um problema simples de identificar mas difícil de ultrapassar: Os milhares de proprietários rurais têm de ter uma remuneração que pague a gestão da floresta. Sem isso na primeira linha de prioridades, vamos voltar a ter, ano após ano, os incêndios que destroem o país.

Quando um proprietário abandona a floresta, por ato ou omissão, está a tomar uma decisão racional. Não retira daquele espaço o rendimento que pague sequer a sua gestão, quanto mais uma rentabilidade. É o que qualquer um de nós faria em circunstâncias idênticas. A floresta, para a esmagadora maioria dos proprietários, que são privados, é um ativo de enorme valor social mas de curto valor económico. Mas o aumento de produtividade da floresta só pode ser conseguido mediante uma gestão silvícola ativa… Ou então, arranjam-se modelos de remuneração que pague o referido valor social, a gestão para evitar os incêndios, para reter população e ordenamento.

Já esta manhã, ouvia uma declaração que, primeiro, se estranha e, depois, entranha. Se calhar, temos árvores a mais para uma capacidade de gestão a menos. Se calhar, deveríamos ter menos floresta, simplesmente porque não temos pessoas para as ocupar, porque se abandona o mundo rural, porque não se retribui, em remuneração, o devido valor social, que só é valorizado quando há incêndios.

O primeiro-ministro nomeou um economista para gerir a educação e o ensino superior, Fernando Alexandre, com uma visão, uma estratégia e medidas de incentivo para um objetivo: Melhor educação para todos os alunos, independentemente da sua condição social. Luís Montenegro deveria seguir o mesmo princípio para a gestão da floresta e ordenamento do território.

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