Responsável do gigante de soluções de software, que comprou o grupo Primavera, acredita que a IA tem potencial para mudar o mundo. Do centro de Braga vai desenvolver soluções para todo o planeta.
Imagine que trabalha numa empresa com centenas de funcionários e cabe-lhe a tarefa de confirmar todos os recibos de ordenado. Parece uma tarefa impossível? Não se tiver uma ajuda. A Cegid tem um programa que permite verificar, de forma automática, se há anomalias nos recibos. Este é apenas um exemplo das soluções que o gigante global de software, que comprou o Grupo Primavera e que emprega 500 pessoas no país, está a desenvolver com recurso à Inteligência Artificial Generativa (IA Generativa) e que agora concentra em Braga o desenvolvimento destas soluções. A partir da capital minhota, o grupo vai exportar IA para todo o mundo.
No icónico edifício espelhado, situado junto ao Minho Center, na cidade de Braga o nome Primavera mantém-se bem visível no topo da sede da Cegid em Portugal, que foi desenvolvido pela Castro Group e chegou a receber a nomeação internacional WAF – World Architecture Festival. A multinacional francesa, que concluiu a aquisição do Grupo Primavera em 2022, depois de Jorge Batista e José Dionísio terem vendido a empresa ao fundo britânico Oakley Capital Investments, em 2021, tem em Portugal uma das apostas do grupo.
“Estamos envolvidos em algumas iniciativas”, reconhece Pedro Vale, vice-presidente de Engenharia para a área de IA e Data na Cegid. O responsável pelo novo centro de IA do grupo explica que a decisão de criar em Portugal esta divisão surge na sequência de um trabalho inicial para “centralizar tudo o que se fazia em IA, tanto em Portugal, como em França” e que culminou com a escolha de Portugal para reunir uma equipa dedicada à Iniciativa Artificial.
“Havia iniciativas que já tinham começado e estavam concentradas em várias áreas da empresa e que trouxemos para aqui.” Ainda em fase de arranque, Pedro Vale, que lidera o centro de IA situado em Braga a partir de Lisboa, confirma que o centro vai “levar as tecnologias de IA para linhas de produto num âmbito global. Em todos os produtos que a Cegid oferece em todas as linhas de negócio.”
“O lançamento deste centro de expertise é uma das iniciativas mais alinhadas com a estratégia global da Cegid, uma estratégia global forward-IA. Transformar a Cegid numa empresa IA led”, explica o mesmo responsável, que esteve em Braga reunido com a equipa e o CTO do grupo.
Segundo Pedro Vale, a estratégia da Cegid é “focada na IA e este centro é uma parte fundamental nisso”. Para já, a empresa está a desenvolver “várias iniciativas na área dos assistentes virtuais, chatpots, capazes de responder a perguntas sobre o produto, ajudar os utilizadores a usarem melhor o produto, ou mesmo responderem perguntas sobre dados do utilizador”. “Por exemplo, estão aqui as minhas vendas no último ano por região, indica-me se há alguma anomalia”, exemplifica.
Há ainda projetos na área do payroll, também na ótica de conseguir detetar anomalias. É aqui que entra o programa para gerir o processamento de salários de empresas com centenas ou milhares de empregados. “Conseguimos ter uma forma automática de detetar anomalias e sinalizar à pessoa responsável. É uma situação que ocorre com alguma frequência.”
“A maior parte [das soluções] está em desenvolvimento. Já disponibilizamos para os nossos utilizadores um assistente virtual, um produto de Espanha, que é o contasimple. Temos também um assistente em França que responde a perguntas sobre fiscalidade”, resume o vice-presidente de Engenharia para a área de IA e Data na Cegid. “Parte do trabalho que estamos a fazer é construir um modelo de IA centralizado. Construir uma plataforma centralizada, onde possamos disponibilizar serviços para serem consumidas pela linha de produto”, acrescenta.
Apesar da existência de uma equipa especializada em IA, o desenvolvimento de novas soluções pode funcionar num modelo de consultoria e mentoria, “em que estamos a ajudar as equipas a fazerem eles próprios e damos linhas orientadoras, lançamos protótipos”. Mas esta é uma área onde está (quase) tudo por descobrir. “Estamos todos a tentar descobrir quais são as grandes mais-valias que IA traz. Há muita coisa para descobrir”, reconhece o responsável.
A IA vai mudar o mundo? “Acho que tem potencialidade para isso. Bill Gates tem um artigo onde diz que já assistiu a três grandes revoluções tecnológicas. A primeira foi a utilização do computador pessoal, a segunda a Internet e agora o ressurgimento da IA.” “Concordo que é uma tecnologia que tem a potencialidade de mudar o mundo tal como as outras duas mudaram. Ou de uma forma ainda mais impactante”, assegura Pedro Vale.
Uma das principais potencialidades desta tecnologia é automatizar tarefas que consomem entre 60 a 70% do tempo dos colaboradores das empresas. A IA automatiza tarefas repetitivas (eliminando erros humanos), analisa rapidamente grandes quantidades de dados, identifica anomalias e pode mesmo prever problemas antes que ocorram, contribuindo para uma gestão ágil, proativa, que liberta tempo das várias equipas para que se possam concentrar em atividades mais complexas e de maior valor acrescentado.
Há riscos sempre que delegamos uma decisão que pode afetar a vida de uma pessoa numa máquina há riscos.
Uma vantagem é a “IA ser uma extensão do utilizador. Expandem as capacidades do utilizador. Permite-nos fazer coisas que humanamente não eram possíveis. Não é humanamente possível esperar que alguém consiga fazer corretamente uma validação de salários de centenas de empregados”, destaca. O resultado são ganhos de eficiência e de produtividade.
Do lado dos riscos, Pedro Vale refere que os “riscos maiores são a legislação que a UE passou recentemente”. “Há riscos sempre que delegamos uma decisão que pode afetar a vida de uma pessoa numa máquina há riscos”, reconhece. “Olhamos para a IA como um apoio à decisão”, remata.
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Cegid quer criar tecnologia que vai mudar o mundo a partir de Braga
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