Desinteresse do CaixaBank no Novo Banco pode ser tático?
"É muito pouco provável que o La Caixa não queira mesmo o Novo Banco", garantem fontes próximas ao processo. O BPI mantém-se na corrida.
A oposição do CaixaBank à compra do Novo Banco, por parte do BPI, pode ser tática, assumindo-se como uma uma estratégia negocial por parte dos catalães de modo a pressionar o Banco de Portugal e, por conseguinte, o preço da operação. Mas fontes contactadas pelo ECO, muito próximas ao processo, adiantam que “é muito pouco provável que o La Caixa não queira mesmo o Novo Banco”. É preciso capital.
A notícia, avançada pelo Bloomberg, que dá conta de que o CaixaBank poderá bloquear a ida do BPI ao Novo Banco, surgiu como um entrave à expectativa criada pelo fim do limite de votos aprovado na assembleia de acionistas, realizada a 21 de setembro, no Porto. A notícia, citando fontes anónimas, dá conta de que responsáveis do CaixaBank terão dito aos acionistas que se irão opor à compra do Novo Banco, quando assumirem a liderança do BPI.
A noticia contraria as declarações do próprio presidente do BPI, Artur Santos Silva, proferidas depois da assembleia geral, garantindo que a administração do banco estava a estudar seriamente o dossiê. Santos Silva diria mesmo que “estamos a estudar seriamente a opção. Com o aspeto que ficou hoje resolvido [a desblindagem], isto permite tomar posições porque o banco já não está bloqueado”.
"Estamos a estudar seriamente a opção. Com o aspeto que ficou hoje resolvido [a desblindagem], isto permite tomar posições porque o banco já não está bloqueado.”
A afirmação de Santos Silva é tanto mais relevante na medida em que são conhecidas as boas relações entre o presidente do BPI e o principal acionista da instituição portuguesa, o CaixaBank.
Já o CaixaBank optou por não confirmar nem desmentir a notícia da Bloomberg, limitando-se a uma declaração oficial afirmando que a prioridade é o BPI e que não faz sentido falar no Novo Banco. Aliás, posição semelhante à defendida pelo presidente executivo do CaixaBank, Gonzalo Gortázar que em julho passado já tinha adiantado que a prioridade era o BPI.”Primeiro temos que concluir a OPA sobre o BPI”, adiantou.
De resto, no dia em que os estatutos do BPI foram desbloqueados o presidente executivo dos catalães afirmava em Madrid que o “setor bancário não está em época de aquisições transfronteiriças“. Gonzalo Gortázar afirmou mesmo que a aquisição do BPI era uma exceção na estratégia de internacionalização do CaixaBank, tendo justificado a aposta com a boa gestão do BPI e com a relação de mais de vinte anos que marca as duas instituições.
Fontes conhecedoras do processo adiantaram ao ECO que “o fato do BPI não avançar para o Novo Banco acarreta um problema de dimensão ao próprio BPI, o que eventualmente não será bom para o CaixaBank”. Porém as mesmas fontes reconhecem que o próprio CaixaBank está pressionado em termos de capital e que uma ida ao Novo Banco poderá implicar a necessidade de um aumento de capital da instituição catalã.
O CaixaBank comunicou ao mercado que vendeu 9,9% do capital, através da venda de ações próprias, para financiar a OPA do BPI. O CaixaBank detém 45% do capital do BPI e para ficar com a totalidade do capital do banco terá que despender cerca de 900 milhões de euros.
Governo prefere BPI
O fim da desblindagem dos estatutos do BPI foi bem encarado pelo Banco de Portugal. O banco liderado por Carlos Costa viu na clarificação acionista do BPI uma forma do banco de Ulrich melhorar a proposta de compra do Novo Banco. Aliás, o próprio Governo tinha o BPI como preferido na corrida ao Novo Banco, segundo dava conta o Expresso em agosto. A vantagem, segundo o executivo de António Costa, era o facto de o banco passar a ser liderado por uma instituição já presente no mercado e com uma perspetiva de investimento de longo prazo.
O processo de venda do Novo Banco está a entrar numa fase decisiva, devendo os interessados — quatro contando com o BPI — entregar nas próximas semanas as propostas vinculativas. Na corrida estão o BPI, o BCP, a Lone Star e a Apollo/Centerbridge.
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