Alberto da Ponte morreu. Quem era e o que fez?
Um líder no topo, que passou do grande consumo para o serviço público de rádio e televisão. Em 64 anos de vida, o que fez e o que conquistou Alberto da Ponte? O ECO recorda a carreira do gestor.
Poucos terão a experiência que Alberto da Ponte somou ao longo de 64 anos de vida, mais de 40 anos de carreira e 20 deles em cargos de topo. Sempre ligado ao mundo empresarial, à gestão, à finança e ao marketing, chegou a ser distinguido em 2012 com o prémio Marketeer de Ouro, após regressar à Central de Cervejas como administrador não executivo e pouco antes de se tornar presidente executivo da RTP, antecedendo a Gonçalo Reis.
Mas para falar da carreira de Alberto da Ponte, o melhor é começar pelo princípio. Nasceu em Lisboa a 18 de junho de 1952, cresceu no bairro de Alvalade e, em 1969, ingressou no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) para estudar Ciências Económicas e Financeiras. Terminou a licenciatura em 1975. Em 1999, concluiu o Curso Superior de Finanças na norte-americana Harvard Business School. E teve ainda oportunidade de estudar gestão empresarial na Business School for the World.
No panorama profissional, a carreira profissional de Alberto da Ponte teve início em 1973, quando ingressou na Unilever como estagiário de gestão. Um ano depois, Alberto da Ponte tornar-se-ia diretor de marca da Elida Fabergé em Lisboa, cargo que ocupou até 1980 e com uma passagem por Bruxelas pelo meio. Acabou promovido a gestor de produto do grupo em Madrid, permanecendo aí até 1982.
Nesse ano, ainda na Elida Fabergé, voltou a ser promovido: desta vez, a diretor de marketing. Nisso, trabalhou durante os quatro anos seguintes. Em 1986, recebeu uma nomeação especial por ter reorganizado o departamento de vendas da Unilever em Kuala Lumpur, na Malásia. Mas os últimos passos na empresa de cosméticos seriam dados daí até 1989, já como diretor de marketing e de vendas da firma. Terá sido nesse período, entre 1984 e 1989, que conheceu Luís Amaral: nessa altura, o empresário português acabava de entrar também na Unilever, grupo Jerónimo Martins.
Um gestor no topo
Foi já perto do final da década que Alberto da Ponte pôde subir ao primeiro cargo de topo. Em 1989, tornou-se presidente executivo da Jerónimo Martins Distribuição para, em 1991, passar a liderar a portuguesa Cadbury Schweppes e ingressar o conselho de administração europeu da Schweepes Beverages. Começava assim a ascensão do gestor português, com passagens por altos cargos na Unilever, em direção à Sociedade Central de Cervejas (SCC). Tornou-se presidente executivo desta companhia do grupo Heineken em 2004, um dos cargos mais marcantes da carreira de Alberto da Ponte. Desempenhou-o durante oito anos.
O certo é que o fez com bons resultados. Num relatório sobre o gestor datado de 2016, a Heidrick & Struggles destaca como a liderança de Alberto da Ponte fez a SCC tornar-se líder de mercado no setor cervejeiro. Separadas por 20 pontos percentuais em 2004, a dona da cerveja Sagres ultrapassou a Unicer, dona da Super Bock, e alcançou uma quota de mercado de 50% em 2009, com um crescimento dos lucros líquidos na ordem dos 30%. A consultora sublinha a “orientação para as pessoas” da liderança de Alberto da Ponte, bem como a sua “visão, espírito de equipa, pensamento global, ‘permanente insatisfação’ e resiliência”.
No início de 2012, Alberto da Ponte deixaria a liderança da SCC, mantendo-se, ainda assim, administrador não executivo da sociedade — na altura, foi substituído por Ronald den Elzen, que era administrador financeiro em Inglaterra. Deixou esse cargo para assumir funções ao nível internacional na empresa holandesa Heineken em maio desse ano… mas não por muito tempo. Saiu cinco meses depois, para entrar numa área completamente nova: a televisão.
Da distribuição ao serviço público
A notícia surgiu a 5 de setembro de 2012: “Alberto da Ponte é o novo presidente da RTP“. A escolha do gestor para novo presidente executivo da empresa deu-se poucos dias depois da administração de Guilherme Costa ter entrado em colisão com o Governo de Pedro Passos Coelho — em causa, a suposta concessão do serviço público de rádio e televisão a uma empresa privada, que nunca chegou a avançar. Miguel Relvas era o ministro da tutela à altura.
Sem afiliação partidária, Alberto da Ponte nunca escondeu a sua opinião em relação a Passos Coelho: era, para ele, “o melhor primeiro-ministro desde Sá Carneiro”, como afirmou em entrevista ao jornal i e, mais tarde, viria a reiterar ao Diário de Notícias. Tomaria as rédeas à RTP em outubro, liderando-a durante quase dois anos e meio.
O resto da história não é difícil de recordar. O PSD queria privatizar parte da RTP, Paulo Portas não era favorável a essa decisão e, entretanto, Miguel Relvas fora substituído por Miguel Poiares Maduro. Foi então criado o novo Conselho Geral Independente (CGI) da RTP que, no início de dezembro de 2014, propôs ao Governo a destituição da administração de Alberto da Ponte. O Governo aceitou. Alberto da Ponte ainda se manteve no cargo até fevereiro, acabando por ser substituído por Gonçalo Reis.
Verde, entre vermelhos
Falar da vida de Alberto da Ponte é também contar pormenores. Como o facto de, apesar de ter um pai benfiquista, ser sportinguista por influência dos amigos. No entanto, nem isso o impediu de, em 2009, ainda à frente da dona da Sagres, ter assinado um contrato por doze anos para estampar o logótipo da sua cerveja nas camisolas do Benfica.
Foi também presidente da Associação Portuguesa dos Produtores de Cerveja e membro dos conselhos consultivos de duas universidades lisboetas: o ISEG, onde estudou, e o ISCTE. Além disso, após a experiência na RTP, acabaria por fundar a AdPonte Lda. e a Business Operational Success Systems (BOSS). Até hoje, era presidente executivo de ambas as empresas, continuando a ser também administrador não executivo da SCC. Morreu na madrugada deste domingo, 22 de janeiro, vítima de cancro.
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