Petróleo sob pressão. O que está a arrastar as cotações?
O preço do barril de petróleo entrou num ciclo de quedas, negociando já em níveis anteriores ao acordo da OPEP. Conheça as três principais razões que justificam a quebra do "ouro negro".
É quase um regresso à “casa partida”. A cotação do petróleo regressou esta sexta-feira à casa dos 45 dólares por barril, com o crude norte-americano a recuar assim a níveis anteriores ao acordo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) celebrado no final de novembro do ano passado. Desde o máximo registado em fevereiro, acima dos 54 dólares, o barril de crude já desvalorizou perto de 17%, aproximando-se assim de entrar em “bear market”.
Cotação do crude nos últimos seis meses
Com os membros do cartel reunidos num consenso generalizado em torno do cumprimento dos limites de produção definidos no acordo, o que poderá então estar a pressionar a cotação do “ouro negro”? Conheça abaixo as três principais razões por de trás dessas quedas.
Produção nos EUA não pára de crescer
Os Estados Unidos aproveitaram a boleia do acordo da OPEP, e a recuperação dos preços do petróleo, para abrirem a torneira à sua própria produção. Os últimos dados oficiais disponíveis indicam que a produção de crude voltou a aumentar na semana passada, nos EUA, com esta a ficar próxima dos níveis máximos registados em agosto de 2015. No total foram mais 28 mil barris a mais, por dia, que elevaram para perto de 9,3 milhões de barris a produção diária. Esta é uma das principais razões que tem justificado a recente queda das cotações do petróleo.
Também a contagem de plataformas petrolíferas a produzir nos EUA tem ajudado a pressionar as cotações do petróleo. Segundo os últimos dados da Baker Hughes, entidade que realiza essa contabilização, o número de plataformas em atividade atingiu máximos de dois anos, na semana terminada a 28 de abril. No total, existiam nessa ocasião 697 plataformas a extrair a matéria-prima.
Estes números ajudam a suportar as perspetivas que apontam no sentido de mais aumentos de produção de “ouro negro” na maior economia do mundo. As estimativas do Departamento de Energia dos EUA vão no sentido de que a produção média de crude se situe nos 9,22 milhões de barris por dia, em 2017. Para o próximo ano, as estimativas governamentais apontam para uma produção média de 9,9 milhões de barris por dia, com a produção norte-americana a atingir o patamar mais elevado dos últimos 48 anos.
Reservas de gasolina a acumular
Se a produção de petróleo nos Estados Unidos não para de aumentar, o mesmo acontece com as reservas de gasolina que continuam a avolumar-se na maior economia do mundo. Esta realidade está também a ajudar a pressionar a cotação do “ouro negro”. Os últimos dados disponíveis pelo Departamento de Energia dos EUA indicam que na semana passada, os stocks de gasolina cresceram em 191 mil barris, dando seguimento a uma tendência de acumulação que se regista desde o início do ano.
Os stocks de combustível, ao nível de 241,2 milhões de barris, estão assim 10% acima da média sazonal da última década. A acumulação de reservas resulta da fraca procura de gasolina que, de acordo com dados governamentais, nas últimas quatro semanas caiu 2,7% face ao mesmo período do ano passado.
“Esta é uma tendência continua desde o início do ano, em que as vendas têm sido menores, o que está a lançar uma sombra no mercado e a pressionar os preços“, afirmou Andrew Lipow, presidente da norte-americana Lipow Associates, citado pela Reuters.
Cortes na OPEP: até quando podem durar?
A incerteza da resposta a esta questão é um dos fatores que está também a ajudar a pressionar a cotação do petróleo. Os membros da OPEP acordaram no final de novembro, uma redução concertada na produção da matéria-prima, por um período de seis meses que termina no final de junho. Uma redução cujo prolongamento irá ser reavaliado na próxima reunião dos membros do cartel que acontece em Viena no próximo dia 25 de maio. Apesar do compromisso que até tem sido cumprido num grau elevado pelos países signatários do acordo, existe a incerteza se este será, ou não, prolongado por mais seis meses, até ao fim deste ano.
De acordo com uma sondagem realizada pela Reuters junto de 35 economistas e analistas, poderá conduzir a um reequilíbrio do mercado petrolífero no final de 2017. Contudo, será necessário reunir consensos, o que muitos analistas consideram que será quase certo, mas que ainda não é garantido. E mesmo que se confirme, quais serão as principais consequências disso?
"Aumentar a produção de petróleo nos EUA continuará a impedir novas extensões ao limite de output da OPEP e dos países fora da OPEP… e mais uma vez, fazer renascer o debate relativamente à defesa de quota de mercado por parte dos países que participam no acordo.”
“Os produtores chave do Médio Oriente parecem estar dispostos a limitar a produção de petróleo por mais seis meses, na esperança de que os preços do crude se aproximem ou superem a marca dos 60 dólares“, afirmou Giorgos Beleris, analista de research de petróleo da Thomson Reuters, citado pela agência de notícias. Mas preços mais elevados da matéria-prima também podem ter um efeito enviesado. Podem ajudar a puxar ainda mais pela produção dos Estados Unidos. “Aumentar a produção de petróleo nos EUA continuará a impedir novas extensões ao limite de output da OPEP e dos países fora da OPEP… e mais uma vez, fazer renascer o debate relativamente à defesa de quota de mercado por parte dos países que participam no acordo”, afirmou Abhishek Kumar, analista sénior da Interfax Energy Global Analytics, em Londres, citado pela Reuters.
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