Há boas notícias para as exportações nacionais? Depende do parceiro comercial
A economia espanhola está a todo o gás. Espanha é o principal parceiro económico de Portugal, seguida da Holanda, Reino Unido, Alemanha e França, economias que também vão crescer em 2017.
A Comissão Europeia divulgou esta quinta-feira o Boletim Económico da Primavera onde mede o pulso à economia dos Estados-membros. Este raio-X à Europa faz também um retrato sobre os principais parceiros comerciais de Portugal, nomeadamente os destinos das exportações. No total, Bruxelas espera que a zona euro cresça 1,7% em 2017 e 1,8% em 2018. Na União Europeia, o crescimento económico deverá ser de 1,9% nos dois anos. Estas são as previsões da Comissão para Espanha, França, Alemanha, Reino Unido, Holanda e ainda as da Grécia, um país com o qual Portugal é comparado muitas vezes.
Em conferência de imprensa, o comissário europeu responsável pelos Assuntos Orçamentais, Pierre Moscovici, sublinhou esta quinta-feira que “as economias do euro vão entrar no seu quinto ano de crescimento sem interrupções, apesar das incertezas”. E frisou que “todos os países, sem qualquer exceção, vão crescer em 2017 e em 2018.” Ainda assim, o crescimento das economias europeias está a ser “travado pelos problemas herdados da crise”, notou o responsável. Além disso, também a incerteza na conjuntura impede a economia de avançar mais depressa.
"As economias do euro vão entrar no seu quinto ano de crescimento sem interrupções, apesar das incertezas.”
Moscovici destacou “o crescimento acima da média na Polónia, Espanha e Holanda”. E fez uma leitura guiada do mapa do crescimento das maiores economia do euro. A Alemanha “continua a beneficiar do bom consumo privado, da construção e das exportações”, Itália vai ter a ajuda da “recuperação da procura mundial”, mas “ainda persistem fragilidades.” Espanha terá a “contribuição da procura externa”.
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Espanha
O eterno parceiro comercial de Portugal é dos que mais cresce na Europa. Para 2017, Bruxelas estima um crescimento económico de 2,8%. Ainda esta quarta-feira o Instituto Nacional de Estatística revelou que Portugal exportou, no primeiro trimestre, 3.624 milhões de euros para Espanha, mais 466 milhões do que no mesmo período do ano passado. A Comissão Europeia prevê que as importações de Espanha continuem a subir, crescendo 4,8% em 2017.
No boletim desta quinta-feira, Bruxelas espera que a “atividade económica continue a exceder as expectativas” dado que o investimento está a acelerar e o cenário externo é mais positivo. A Comissão refere também o esforço espanhol para diminuir o défice graças a medidas tomadas do lado dos impostos às empresas. O ciclo económico também está a ajudar de forma significativa, o que levará o défice espanhol para um nível inferior a 3% do PIB em 2018.
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França
Bruxelas destaca a recuperação das exportações francesas para sustentar um crescimento económico mais positivo no futuro. 2016 foi “fraco”, mas o comércio internacional deverá ajudar os franceses a aumentar o PIB, agora com o ex-ministro da Economia, Emmanuel Macron, aos comandos do país. Mas a meta mais importante — também um compromisso de Macron — é que o défice desça em 2017 para lá dos 3%.
A Comissão prevê que as importações do país cresçam moderadamente (3,3%) em 2017 dado que a procura interna irá desacelerar. Porquê? O poder de compra dos franceses vai descer já que os salários não estão a acompanhar a inflação, ou seja, a subida dos preços dos bens e serviços. Bruxelas assume que estas previsões foram mais difíceis de estimar uma vez que o país esteve muito recentemente em período eleitoral.
Na conferência de imprensa sobre o boletim, Moscovici optou por dar as boas vindas a Emmanuel Macron. “As eleições são um bom resultado”, defendeu, notando que o país evitou “a ameaça do populismo”. “Digo a Macron: bem-vindo”, afirmou o comissário. “Não pomos França sob pressão, queremos trabalhar com França”, frisou.
"Não é uma mensagem de pressão, de forma nenhuma de sanções, é uma mensagem de confiança.”
“A minha mensagem para as autoridades francesas é positiva”, enfatizou, lembrando que “é a primeira vez desde 2007 que França está com 3%” de défice e garantindo que a Comissão quer trabalhar em conjunto com as autoridades francesas para que o país aproveite para sair do Procedimento por Défice Excessivo. E repetiu: “Não é uma mensagem de pressão, de forma nenhuma de sanções, é uma mensagem de confiança.”
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Alemanha
Outro país que vai a eleições, mas só a 24 de setembro. Merkel e Schäuble (ministro das Finanças alemão) vão às urnas com um país a crescer e sem défices. Bruxelas espera que a subida do PIB continue firme graças ao consumo privado, mas também ao emprego e às exportações. “Espera-se que o ‘momentum’ do crescimento económico da Alemanha se mantenha forte“, lê-se no documento. O excedente das finanças públicas deverá continuar e prevê-se que o rácio da dívida diminua.
Um dos riscos que os alemães têm de ter em atenção refere-se às políticas comerciais dos principais parceiros comerciais. Em 2016, as importações já cresceram mais do que as exportações e essa tendência continuará a verificar-se em 2017 e em 2018. As importações vão crescer sobretudo pelo consumo, mas também porque existe uma significativa parte das exportações que depende de produtos importados.
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Reino Unido
Já com a saída no horizonte, o Reino Unido está com um crescimento económico moderado. A inflação está a pressionar a economia britânica, de tal forma que o consumo privado deve diminuir dado que o poder de compra dos cidadãos está em queda. A incerteza com o Brexit fará com que o investimento estagne, prevê Bruxelas, mas as exportações devem contribuir de forma mais positiva por causa da depreciação da libra.
O primeiro Estado-membro a sair da União Europeia enfrentará dois anos de negociações com a Comissão Europeia, o que traz dúvidas e riscos perante uma série de setores da economia. No entanto, a Comissão prevê que o PIB do Reino Unido avance 1,8% em 2017, desacelerando para os 1,3% em 2018. As importações vão crescer a um ritmo mais baixo do que as exportações.
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Holanda
Mesmo com eleições, a Holanda continuou o caminho de crescimento económico forte. Em 2018 essa tendência deverá desacelerar, mas nesse mesmo ano a taxa de desemprego deverá ser inferior a 5%. O ajustamento orçamental do presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças holandês, Jeroen Dijsselbloem, resultou e continuará o seu caminho nos próximo anos com as finanças públicas holandesas a atingirem excedentes.
As exportações holandesas atingiram um máximo de seis anos em fevereiro deste ano. Já o crescimento forte da procura interna está a dar gás às importações. Bruxelas prevê que o consumo privado continue a ser o principal motor da economia holandesa dado que, ao contrário do que acontece no Reino Unido ou em França, o poder de compra dos holandeses vai aumentar.
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Grécia
Apesar de não ser um dos principais parceiros comerciais de Portugal, este é o país com que mais comparou no passado. A Comissão elogia o desempenho das finanças públicas gregas: o défice em 2016 de 5,9% passou a excedente de 0,7%. Ainda assim, esta tendência vai interromper-se em 2017 com um défice de 1,2% e depois passa novamente a ser um saldo orçamental positivo de 0,7%.
No final de 2016, a economia grega desacelerou mas Bruxelas prevê que este ano o crescimento económico ganhe força. Contudo, a Comissão alerta que é preciso ver com cautela os desenvolvimentos da Grécia uma vez que o país está novamente a negociar com os seus credores. A dívida desceu ligeiramente em 2016, mas continua a ser muito alta. Depois de uma queda das importações este ano, Bruxelas espera que a Grécia importe mais 3% este ano e mais 3,8% no próximo ano.
Moscovici deixou vários elogios à Grécia. “Tanto em 2016, como em 2017, a Grécia conseguiu superar as metas”, fez questão de sublinhar o comissário. “A performance foi muito robusta”, defendeu, notando que “o saldo primário atingiu 4,2% em 2016” — “isto é cerca de nove vezes melhor do que o programado”, sublinhou.
"Sempre achei que o Grexit não devia acontecer e não aconteceu.”
Pierre Moscovici adiantou ainda que espera “ter um acordo na reunião do Eurogrupo de 22 de maio” e garantiu que a Comissão tem dedicado “muita energia” a estas discussões. Depois de atingido o acordo de nível técnico, trata-se de fechar as negociações a nível político e de tomar decisões sobre a dívida pública da economia grega. “Espero que o acordo a que cheguemos seja o mais alargado possível e que também sejamos capazes de lidar com o problema da dívida”, adiantou.
“Posso ter parecido otimista em relação à Grécia. Sempre estive, sempre achei que o Grexit não devia acontecer e não aconteceu. Agora acho que podemos passar para o próximo passo. É o que o povo grego espera, o que precisa e o que merece”, argumentou. E deixou um recado: “É solidariedade, uma palavra de que eu gosto mas de que alguns não.”
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