Espanhóis já controlam 30% da banca portuguesa
A banca nacional fala cada vez menos a língua de Camões. Banqueiros encaram diversidade geográfica com normalidade. Com venda do Novo Banco, protagonismo nacional fica a pertencer à CGD.
É uma tendência consolidada em 2017: a espanholização da banca portuguesa. Nuestros hermanos já detêm 30% do mercado nacional, um domínio que é salientado com a compra do Banco Popular pelo Santander por um simbólico euro.
Santander, Bankinter, CaixaBank... é de peso o protagonismo que o país vizinho tem vindo a assumir nos últimos anos na banca portuguesa. Depois da aquisição do problemático Popular pelo Grupo Santander, o Santander Totta viu alargada a sua influência no mercado nacional com a integração do Popular Portugal. Foi a segunda aquisição do Santander em território nacional em menos de dois anos, depois da compra do Banif no final de 2015. E com ela os espanhóis passaram a controlar o maior banco privado no país, com uma carteira de ativos de 53,9 milhões, representando 17% do mercado.
Isto acontece poucos meses depois de os catalães do CaixaBank terem concluído a oferta pública de aquisição (OPA) sobre o BPI. O grupo de Barcelona já era o principal acionista do BPI. Mas, depois de finalizada a OPA em fevereiro passado, apoderou-se de cerca 95% do capital do banco português cujos ativos ascendiam no final de 2016 a 31,3 mil milhões de euros, aproximadamente 10% do total do mercado português.
Cerca de um ano antes, o Bankinter adquiriu o negócio do Barclays por cerca de 86 milhões de euros. Ou seja, feitas as contas com base nos ativos sob gestão dos bancos em Portugal, os grupos financeiros espanhóis assumem atualmente uma quota de mercado de 29,2% de um mercado bancário português que fala cada vez menos a língua de Camões. Algo que não assusta propriamente os banqueiros nacionais, mas que já mereceu reparos de Marcelo Rebelo de Sousa no passado em relação à forte presença espanhola na banca deste lado da fronteira.
“É importante haver uma participação significativa, o que é diferente de haver um exclusivo. É uma posição de fundo. Nenhuma economia deve ter uma posição exclusiva noutra economia”, disse o Presidente há um ano.
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Foi também em fevereiro deste ano que o BCP concluiu um aumento de capital no valor de 1.300 milhões de euros. Esta operação de reforço de capital veio dar força à presença de chineses e angolanos na instituição liderada por Nuno Amado. Na prática, contribuiu para que atualmente mais de 46% do mercado nacional seja pertença de investidores internacionais.
“A questão da nacionalidade do acionista não importa, mas antes a qualidade. Sou muito favorável a essa diversificação. Mas é bom que nessa diversidade haja uma base portuguesa“, tinha dito Nuno Amado, CEO do BCP, em novembro passado, a propósito da internacionalização do setor financeiro português.
"A questão da nacionalidade do acionista não importa, mas antes a qualidade. Sou muito favorável a essa diversificação. Mas é bom que nessa diversidade haja uma base portuguesa.”
Nestas contas não está ainda incluída a venda do Novo Banco para o fundo norte-americano Lone Star. A instituição ainda pertence ao Fundo de Resolução. Mas, ao que tudo indica, o processo de venda do banco de transição está na reta final e, assim que a operação estiver oficialmente encerrada, mais um bom pedaço do bolo português vai parar a mãos estrangeiras. O retrato será este: 60% internacional e 40% português — com a pública Caixa Geral de Depósitos a assumir o protagonismo principal do lado luso, com 21% do total da quota.
Para António Ramalho, do Novo Banco, esta nova ordem no panorama bancário português é natural: “Não tem nada de anormal nesta diversificação geográfica dos acionistas dos bancos. Aliás, num país com a história de Portugal é natural que haja muitas geografias a olhar para nós“.
"Não tem nada de anormal nesta diversificação geográfica dos acionistas dos bancos. Aliás, num país com a história de Portugal é natural que haja muitas geografias a olhar para nós.”
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