Ex-secretário de Estado da Energia: “O lóbi da energia tem condicionado Governos”
Henrique Gomes critica o lóbi da energia, pelo poder que tem, mas alerta que a culpa é do Estado que não se protege. Para o futuro pede que os subsídios sejam eliminados "o mais depressa possível".
O ex-responsável governativo do setor elétrico — cujas empresas como a EDP e a REN estão atualmente a ser alvo de investigações — critica o Estado por não ser capaz de defender os seus interesses perante o lóbi das empresas de energias. Em entrevista esta quinta-feira ao Diário de Notícias, Henrique Gomes admite que saiu do Governo PSD/CDS, poucos meses depois de ter entrado, por causa dessa influência externa. O ex-secretário de Estado da Energia diz ter tentado resolver o problema das “rendas excessivas”, mas a preocupação do Governo era a dívida.
Tudo o que seja subsídios tem de ser eliminado o mais depressa possível.
Henrique Gomes é direto sobre as pressões: “O lóbi da energia defende os seus direitos e os seus interesses, daí não vem mal ao mundo. Mas o lóbi da energia tem condicionado os governos. E isso acho mal, é um erro”. Algo que diz ter sentido dentro do Governo que integrou com a desvalorização de um relatório que pediu sobre o problema e a dispersão das preocupações mais urgentes para a dívida e o défice. “No caso da energia, a preocupação era fazer dinheiro de qualquer maneira, por pouco que fosse“, através das privatizações, explica.
Esteve apenas nove meses no Governo de Pedro Passos Coelho, inserido no Ministério da Economia de Álvaro Santos Pereira, demitindo-se em 2012 por causa da pressão das energéticas. O ex-secretário de Estado da Energia conta até ter entregue um relatório ao primeiro-ministro de manhã e à hora de almoço ter recebido chamadas da EDP. “Chamo a atenção para qual é o poder económico de que estamos a falar”, alerta, referindo que a EDP, a EDP Renováveis, a GALP e a REN valem em conjunto quase metade do PSI-20. “Este valor concentrado em três empresas… está a ver o poder que pode ter“, conclui.
O lóbi da energia tem condicionado os governos. E isso acho mal, é um erro.
Para o futuro — dada a pressão europeia para se acelerar com as energias renováveis — Henrique Gomes afirma que “tudo o que seja subsídios tem de ser eliminado o mais depressa possível”. Mais: “Já devia ter sido eliminado”. Os contratos, argumenta, foram “mal negociados” pois deviam ter sido “muito mais reduzidos”, de forma apenas a dar um “apoio mínimo” para compensar a passagem para o mercado liberalizado. Atualmente, para o ex-secretário de Estado da Energia, o setor elétrico em Portugal continua “sobre remunerado”.
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