ERC abre investigação. “Porquê só a TVI?”, pergunta o diretor
A TVI questiona porque é que o regulador apenas está a averiguar a cobertura que a estação fez da tragédia. Diz que "não recebe lições de ninguém sobre sensibilidades profissionais".
O Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) decidiu abrir um procedimento de averiguações a uma reportagem emitida na edição de domingo do Jornal das 8 da TVI sobre os incêndios em Pedrogão Grande. A TVI diz que “é perfeitamente normal e inquestionável” que se façam averiguações à cobertura jornalística da tragédia. Mas questiona porquê só abrir este processo contra a estação de Queluz de Baixo.
Quando a ERC esclarece que as averiguações apenas incidem numa “reportagem emitida, na edição de ontem [domingo], do Jornal Nacional da TVI” sobre os incêndios, isso “é algo que já não se entende e carece de uma explicação por parte do regulador”, diz a direção de informação da estação. “Porquê a TVI? Porquê só a TVI?”, questiona Sérgio Figueiredo.
"Num desses locais, estava efetivamente um cadáver, estendido há muitas horas e tapado com um lençol branco – a pior das metáforas da incapacidade da assistência civil atender todas as populações que foram implacavelmente atacadas pelas chamas. Esta circunstância confere um evidente relevo informativo, que não compete ao regulador definir.”
A ERC diz ter recebido mais de 100 participações que contestam o plano televisivo em que aparece um dos cadáveres da tragédia, na reportagem da TVI. A estação diz que o regulador não é explícito quanto à reportagem em questão, “escondendo-se” atrás das queixas recebidas sobre o plano utilizado. Isso, diz a TVI, “presumivelmente reduz o problema a uma questão de ângulo. Remete, também presumivelmente, para uma reportagem live on tape que a jornalista e diretora-adjunta desta estação [Judite de Sousa] realizou em aldeias onde bombeiros ou equipas de resgate tinham sequer ainda chegado”.
“Num desses locais, estava efetivamente um cadáver, estendido há muitas horas e tapado com um lençol branco – a pior das metáforas da incapacidade da assistência civil atender todas as populações que foram implacavelmente atacadas pelas chamas. Esta circunstância confere um evidente relevo informativo, que não compete ao regulador definir”, remata a estação em comunicado.
“Há órgãos de comunicação social que decidiram revelar as fotos de crianças que morreram nos incêndios. Outras televisões abriram os seus principais serviços noticiosos mostrando corpos espalhados no chão, enfatizando a gigantesco cemitério em que num ápice se transformou aquela que fica para a nossa memória coletiva conhecida como a estrada da morte”, nota, salientando que “a TVI tem procurado respeitar a dor de quem sofre, sem a esconder”.
“Os acontecimentos de Pedrógão Grande são uma tragédia a vários níveis. Estamos todos chocados com a devastação, sobretudo o inusitado número de perdas humanas até agora registadas. É uma contabilidade macabra que toda a gente dispensaria mas ninguém pode ignorar. Nomeadamente os jornalistas, a quem cabe tratar as várias dimensões dessa tragédia”, diz Sérgio Figueiredo, o diretor de informação.
A direção de informação da TVI diz que “não recebe lições de ninguém sobre sensibilidades profissionais. Nem do regulador, que se deve limitar ao cumprimento do seu dever e da missão que lhe foi fixada pelas leis da República. A informação da TVI faz jornalismo. Apura factos, vai para o terreno, procura proximidade com os portugueses – e tem-no feito com sucesso, porque recolhe há anos consecutivos, mês após mês, a preferência da maioria dos cidadãos. Este sim, um indicador objetivo que valida a sintonia com a sociedade portuguesa que, sabe-se lá como e porquê, a ERC reivindica para si”, remata.
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