Daniel Bessa: “São precisos 500 anos para pagar a dívida”
Em entrevista ao Público, o antigo ministro da Economia disse ainda que conseguiria, "no mínimo", um défice nulo com os níveis de crescimento económico que Portugal tem atualmente.
O economista Daniel Bessa, ministro da Economia no tempo de António Guterres, garante que “teria, no mínimo, um défice zero” com o nível de crescimento que Portugal está a ter. Numa entrevista ao Público [acesso condicionado], considerou que o país está “a gerir mal o risco” e que, se fosse o responsável, pegaria no excedente de mil milhões e o aplicaria na redução do défice, ainda que isso impedisse de baixar os impostos e aumentar as pensões.
“Isso é que daria ao mundo um sinal de que os dez milhões de senhoras e cavalheiros deste país estão preocupados com este problema [da dívida elevada] e, de uma vez por todas, resolveram dar-lhe uma resposta”, referiu ao jornal. Para Daniel Bessa, a dívida pública elevada é “um barril de pólvora” que lhe causa “preocupação”. “O que este país não geriu (…) foi [o] risco. Acumulou dívida em excesso, um dia as coisas desandaram e a dívida caiu em cima de nós”, disse.
Assim, se fosse ministro, Daniel Bessa garantiu que pegaria no excedente de mil milhões e o aplicaria, na totalidade, na redução da dívida. “Com o crescimento que a economia está a ter, no mínimo, no mínimo eu tinha défice zero. Mais, em vez do zero eu propunha 0,5% de excedente”, atirou.
Entre outras coisas, o ex-ministro da Economia congratulou-se também por o crescimento se dever às exportações e não à procura interna, como pretendia o Governo de António Costa. “A mudança de chip na condução da coisa pública prometia um crescimento pela procura interna, através da devolução dos rendimentos e de toda essa orientação. Pela despesa pública não poderia crescer muito, como já sabemos, mas cresceria pelo consumo privado determinado pela devolução dos rendimentos. Mas a economia cresce puxada pelas exportações”, recordou.
E acrescentou: “Não, é bom, é melhor do que eu esperava, é conseguido de uma forma diferente da que o Governo disse que ia fazer. Ainda bem que o Governo, sabe-se lá porquê, contra aquilo que tinha anunciado, vê as coisas correrem bem.”
Além do mais, e ainda no campo da dívida, Daniel Bessa disse: “Este país tem esse problema da dívida. Ia-se desgraçando por causa disso. Eu gostava de dizer aos portugueses, olhos nos olhos, que qualquer pequeno sinal que possamos dar que sentimos esse problema e que estamos dispostos a atacá-lo, seria extremamente remunerador.” E atirou: “Mas, esqueçam os mil milhões. Fiquemos pelos 500 milhões por ano. Sabe quantos anos são precisos? São precisos 500 anos para pagar a dívida. Não é muito. Era um pequeno sinal.”
"Com o crescimento que a economia está a ter, no mínimo, no mínimo eu tinha défice zero. Mais, em vez do zero eu propunha 0,5% de excedente.”
Sobre se o crescimento da economia portuguesa é ou não sustentável, Daniel Bessa apontou para o setor do Turismo. E sublinhou: “Quer se queira, quer não, em termos de volume o que está a contribuir mais [para a economia] é o turismo. E há grandes hesitações em Portugal em torno do turismo que eu olho com algum espanto.”
Depois, concluiu: “Surpreende-me é que no momento em que o turismo, num português mais prosaico, está a dar, haja tanta gente preocupada, a dizer que é demais. Eu acho francamente que o turismo nunca é demais. Pode ser de menos a resposta que lhe damos.”
(Notícia atualizada às 14h57 com mais informação)
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