Bagão Félix alerta para o esquecimento das vozes das aldeias

Bagão Félix criticou o Governo pela forma como lidou com os incêndios que provocaram a morte de mais de cem pessoas. Garante que as vozes das aldeias não conseguem ser ouvidas.

António Bagão Félix criticou severamente o Governo porque dá mais importância à voz dos cidadãos das grandes cidades do que aos aldeões, que “não têm voz ou a sua voz não chega ao poder”. Destacou ainda que os milhões de hectares ardidos dos últimos anos não tiveram qualquer relevância para o PIB, visto este não considerar a depreciação do “capital natural”.

Num artigo de opinião publicado no Público (acesso condicionado), o antigo ministro das Finanças deixou uma crítica à forma como o Governo tem lidado com a questão dos incêndios. Chamou a atenção para o facto de apenas as vozes das grandes cidades serem ouvidas, seja em greves ou manifestações, enquanto aquelas das aldeias do interior são ignoradas. “Os pobres, os velhos, as pessoas sós, os artesãos e pequenos agricultores sem férias, não têm esse poder da rua. Não têm voz ou a sua voz não chega ao poder. E as notícias dão mais importância a uma qualquer parvoíce urbana do que à genuinidade rural“, diz Bagão Félix.

O vice-governador do Banco de Portugal dá assim eco à declaração ao país do Presidente da República na qual sublinhou a importância de se “olhar para estas gentes, para o seu sofrimento, com maior atenção ainda do que aquela que merecem os que têm os poderes de manifestação pública em Lisboa”. “Por muito que a frieza destes tempos, cheios de números e de chavões políticos, económicos e financeiros, nos convidem a minimizar ou banalizar estes mais de 100 mortos”, dizia Marcelo Rebelo de Sousa, na declaração que levou à demissão da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, é fundamental que tal não aconteça.

E nessa dimensão económica, Bagão Félix sublinha que “as leis da economia utilitarista têm prevalecido brutalmente sobre as leis da Natureza”, na medida em que se discute “até à náusea 0,1% do PIB que não representa mais de 1,4 euros por mês para cada habitante, ao mesmo tempo que, só neste século, 2.530.000 hectares foram destruídos, sem que o tal PIB tenha dado sinal de alarme“. Para o economista, é urgente adotar novas medidas, de forma a dar mais voz às populações do interior. Ou, então, fazer mais como Marcelo Rebelo de Sousa que, citando, devemos “olhar para os dramas de pessoas de carne e osso com a distância das teorias, dos sistemas ou das estruturas […] é passar ao lado do fundamental que é o que vai na alma dos portugueses”.

O atual membro do Conselho de Estado sublinhou ainda a influência que as novas tecnologias têm vindo a ganhar na vida das pessoas, ao mesmo tempo que prejudica as populações do interior, com a eliminação dos postos de trabalho. “A aldeia deixou de ter extensão de serviços essenciais públicos, posto de saúde, policial e dos correios, agência bancária, escola, estradas e transportes facilitadores, sinal televisivo e redes de telecomunicações estáveis“, escreve, justificando que “o mundo virtual de amanhã segregou o mundo real de ontem, o deles”.

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