Quanto é que cada ministério vai poder gastar em 2018?

Os ministérios do Planeamento e Infraestruturas, Economia, Ambiente, Agricultura e Florestas e o do Mar são os que registam um maior aumento percentual.

António Costa ministros primeiro-ministro governo
António Costa reunido em Conselho de Ministros.D.R. Governo

Depois de meses de negociações, os ministérios já sabem com que orçamento vão poder trabalhar no próximo ano.

O Orçamento do Estado para 2018 estabelece os valores de despesa total consolidada que cada programa orçamental vai poder gastar em 2018. Praticamente todos aumentam face ao orçamento que se espera executar no corrente ano, mas há quem se destaque: ministérios como o da Economia, Ambiente ou Mar têm variações superiores a 50%.

Quanto é que cada ministério vai poder gastar em 2018?

Fonte: Proposta do Orçamento do Estado para 2018

Segundo as previsões do Ministério das Finanças, face às estimativas de orçamento executada em 2017, estas são as variações, em percentagem e em milhões, dos orçamentos dos programas orçamentais em 2018:

  1. O orçamento do programa orçamental dos Órgãos de Soberania aumentará 2,4%, o que corresponde a mais 83 milhões de euros;
  2. O orçamento do programa orçamental da Governação crescerá 2,6%, o que corresponde a mais 11,1 milhões de euros;
  3. O orçamento do programa orçamental da Representação Externa (Ministério dos Negócios Estrangeiros) subirá 10,9%, o que corresponde a mais 38,8 milhões de euros;
  4. O orçamento do programa orçamental das Finanças crescerá 18,7%, o que corresponde a mais 2.430 milhões de euros. Acresce ainda o programa orçamental da Gestão da Dívida Pública cuja despesa total consolidada aumentará 14,8% para os 77.045 milhões de euros, o que corresponde a mais 9.946 milhões de euros. 7.268 milhões de euros são apenas para suportar encargos com juro da dívida pública em 2018;
  5. O orçamento do programa orçamental da Defesa crescerá 7,5%, o que corresponde a mais 150 milhões de euros;
  6. O orçamento do programa orçamental da Segurança Interna subirá 5,9%, o que corresponde a mais 116 milhões de euros;
  7. O orçamento do programa orçamental da Justiça aumentará 7,7%, o que corresponde a mais 99 milhões de euros;
  8. O orçamento do programa orçamental da Cultura crescerá 11,3%, o que corresponde a mais 49 milhões de euros;
  9. O orçamento do programa orçamental da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior subirá 13,7%, o que corresponde a mais 306 milhões de euros;
  10. O orçamento do programa orçamental do Ensino Básico e Secundário e Administração Escolar diminuirá 2,9%, o que corresponde a menos 182 milhões de euros;
  11. O orçamento do programa orçamental do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social cairá 0,3%, o que corresponde a menos 60 milhões de euros;
  12. O orçamento do programa orçamental da Saúde aumentará 2,4%, o que corresponde a mais 239 milhões de euros;
  13. O orçamento do programa orçamental do Planeamento e Infraestruturas subirá 20,1%, o que corresponde a mais 645 milhões de euros,
  14. O orçamento do programa orçamental da Economia crescerá 65,5%, o que corresponde a mais 823 milhões de euros;
  15. O orçamento do programa orçamental do Ambiente aumentará 75,8%, o que corresponde a mais 924 milhões de euros;
  16. O orçamento do programa orçamental da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural e Mar subirá 49%, o que corresponde a mais 487 milhões de euros;
  17. O orçamento do programa orçamental do Mar crescerá 55,1%, o que corresponde a mais 35 milhões de euros;

Quem regista os maiores aumentos em milhões de euros?

Fonte: Proposta do Orçamento de Estado para 2018

O ministro que mais dinheiro deverá “ganhar” com o novo Orçamento é João Pedro Matos Fernandes. O orçamento para o programa orçamental do Ambiente deve-se maioritariamente à evolução da despesa nos serviços e fundos autónomos, despesa que será alocada à reabilitação do parque habitacional. Além disso, as receitas consignadas servirão para apoiar a expansão das redes de metro de Lisboa e do Porto.

No caso do Planeamento e Infraestruturas, o Governo prevê gastar mais no setor ferroviário e dos transportes. Este ministério, assim como o da Economia, será um dos pilares do investimento público em 2018, ano em que o Executivo prevê que o Estado invista mais 40,4% — o que corresponde a 4.525 milhões de euros. Quanto ao Mar, a subida no orçamento justifica-se através da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos, que irá intervir nos acessos e infraestruturas essenciais à pesca.

Ainda assim, o principal ganho ficará concentrado no próprio ministro das Finanças. O Ministério das Finanças prevê gastar mais em despesas excecionais, as transferências para a União Europeia e as transferências de receita consignada com origem nas cobranças coercivas. Do lado do subsetor dos serviços e fundos autónomos, o aumento da despesa será com ativos financeiros “relacionados por um lado com aplicações financeiras, e por outro pela contração de empréstimos”.

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Nas 276 páginas do Orçamento, a palavra mais repetida é…

O Governo vê a economia a crescer no próximo ano, isto ao mesmo tempo que o défice vai cair. Há crescimento, há receitas a captar, mas é a despesa que se brilha nas 276 páginas do Orçamento do Estado.

O Orçamento do Estado (OE) para o próximo ano chegou. Tarde, mas lá foi entregue na Assembleia da República. São 276 páginas com todas as projeções para a economia, mas recheadas também de várias medidas que vão mexer com o bolso dos portugueses. Há medidas para aumentar a receita, mas é a despesa que se destaca. Nenhuma outra palavra é utilizada tanta vez no relatório da proposta de OE do Executivo de António Costa.

Entre parágrafos atrás de parágrafos, intervalados por várias tabelas e gráficos, são milhares as palavras escritas nas centenas de páginas do documento orientador das finanças públicas. Mas é a despesa que mais vezes surge repetida. Aparece, ao todo, 1.011 vezes neste relatório (985 no relatório de 2017), sendo esta parte da explicação para a estratégia de consolidação orçamental. O défice será de 1,4% este ano e baixa para 1% em 2018.

Fonte: Wordle.net

“A revisão em baixa do défice face às previsões anteriores deve-se, maioritariamente, à aceleração da atividade económica a um ritmo superior ao esperado – que se refletiu no aumento da receita fiscal e contributiva – e à diminuição dos encargos com juros, que permitiram acomodar um aumento moderado da despesa“, diz o Executivo em relação a 2017.

“No que concerne a 2018 a estratégia de consolidação orçamental permitirá alcançar um défice orçamental de 1% do PIB, o que consubstancia uma redução de 0,4 p.p. do PIB face ao valor estimado para 2017. Esta evolução resulta da redução da despesa total em 0,3 p.p. do PIB aliada a um aumento da receita em 0,1 p.p.”, remata.

A despesa bate todas as outras palavras por larga margem, sendo que no ranking surgem os milhões (de euros), com mais de 500 referências. Depois vem a receita, com 316 referências, seguida do termo social (300 vezes), reflexo das medidas de âmbito social adotadas neste OE. Crescimento (304 vezes) e economia (203 vezes) completam o top 5. E a dívida? É referida 197 vezes.

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Marcelo pressiona Governo a reagir sobre Pedrógão

  • Lusa
  • 14 Outubro 2017

“Portugal aguarda com legítima expectativa as consequências que o Governo irá retirar de uma tragédia sem precedentes na nossa história democrática”, afirmou o Chefe de Estado.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse este sábado, em Pedrógão Grande, que Portugal aguarda “as consequências que o Governo irá retirar” do incêndio na região Centro no qual morreram 64 pessoas.

“Portugal aguarda com legítima expectativa as consequências que o Governo irá retirar de uma tragédia sem precedentes na nossa história democrática”, afirmou o Chefe de Estado, que, nesse momento, recebeu um forte aplauso das cerca de 200 pessoas presentes na sala.

Marcelo Rebelo de Sousa fez esta declaração, tendo em conta “o anúncio feito pelo senhor primeiro-ministro”, António Costa, relativamente “a uma reflexão ponderada e exaustiva baseada no teor do relatório” da Comissão Técnica Independente, divulgado e apresentado à Assembleia da República, na quinta-feira.

O Chefe de Estado intervinha na abertura do primeiro Encontro para a Autoproteção e Resiliência das Populações, organizado pela Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG), em que fez alguns comentários ao documento, na Casa Municipal da Cultura de Pedrógão Grande.

A Comissão Técnica Independente nomeada para analisar os incêndios rurais de junho na região Centro, em particular o fogo que deflagrou em Pedrógão Grande, entregou na quinta-feira no Parlamento o seu relatório final. O documento, que analisa incêndios em 11 concelhos dos distritos de Leiria, Coimbra e Castelo Branco ocorridos entre 17 e 24 de junho, refere que, apesar de o fogo de Pedrógão ter tido origem em descargas elétricas na rede de distribuição, um alerta precoce poderia ter evitado a maioria das 64 mortes registadas.

Além disso, acrescenta, “não foram mobilizados totalmente os meios disponíveis” no combate inicial e houve falhas no comando dos bombeiros. A GNR fica, por outro lado, ilibada de direcionar carros para a Estrada Nacional 236-1, onde ocorreram cerca de metade das mortes.

O documento aponta falta de conhecimento técnico no sistema de defesa florestal e falta de preparação dos atuais sistemas de combate às chamas para as alterações climáticas, confirmando, por outro lado, falhas de comunicação do Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal (SIRESP).

O primeiro-ministro, António Costa, afirmou, na sequência da divulgação do relatório, que o Governo assumirá todas as responsabilidades políticas, se for caso disso.

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Governo tem 421 milhões de euros para pagar dívidas a fornecedores em 2018

  • Margarida Peixoto
  • 14 Outubro 2017

O Orçamento do Estado para o próximo ano tem previstos 421 milhões de euros para regularizar as dívidas aos fornecedores. O valor é mais alto do que o disponível para este ano.

O ministro das Finanças, Mário Centeno, apresentou o Orçamento do Estado para 2018 em conferência de imprensa, esta sexta-feira.Paula Nunes/ECO

Perante uma execução de 2017 onde as dívidas aos fornecedores da Saúde continuam a subir, o ministro das Finanças, Mário Centeno, precaveu-se para o próximo ano. No Orçamento do Estado para 2018 haverá 421 milhões de euros para pagar dívidas a fornecedores — um valor mais elevado do que o disponível em 2017 (180 milhões de euros)

O relatório da proposta de Orçamento não especifica que parcela dos 421 milhões de euros inscritos será canalizada para a área da Saúde. Mas sublinha os fornecedores do SNS como uma preocupação central. “Está ainda previsto para 2018 um esforço substancial de diminuição da dívida das entidades do Serviço Nacional de Saúde, permitindo a obtenção de melhores condições comerciais junto de fornecedores,” lê-se no documento entregue esta sexta-feira à Assembleia da República.

Verba para pagamentos em atraso

Fonte: OE2018

Com a regularização dos pagamentos em atraso, o Executivo espera conseguir uma poupança de 75 milhões de euros. Além disso, anuncia a criação de uma nova “Unidade de Análise Orçamental” com o objetivo de reforçar os “mecanismos de monitorização e acompanhamento da execução orçamental das entidades do SNS.” Esta Unidade será uma iniciativa conjunta dos Ministérios da Saúde e das Finanças.

Tal como recorda o relatório da proposta de OE2018, “no passado, a gestão financeira das Administrações Regionais de Saúde implicou atrasos nos pagamentos, e nalguns casos, avultadas penalizações financeiras.” O Executivo decidiu, entretanto, centralizar as dotações para pagamentos de meios complementares de diagnóstico e terapêutica, transporte de doentes, vacinas, o Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia, a dispensa de medicamentos em farmácias de hospitais, e a rede nacional de cuidados continuados com o objetivo de reduzir esses atrasos e os custos daí decorrentes.

Contudo, a execução orçamental disponibilizada mensalmente pela Direção-Geral do Orçamento revela que o problema não está resolvido. As dívidas dos hospitais a fornecedores continuam a crescer face ao ano passado.

Dívidas a fornecedores

Fonte: DGO

Segundo a proposta de Orçamento para 2018, em 2017 deverão ser utilizados 180 milhões de euros para regularizar as dívidas aos fornecedores das administrações públicas, o equivalente a uma décima do PIB.

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Centeno garante que não há aumento de impostos para recibos verdes

  • Cristina Oliveira da Silva
  • 14 Outubro 2017

O ministro das Finanças garante que estaria tranquilo se fosse trabalhador independente. Em entrevista à Antena1, afirma que os recibos verdes vão pagar menos impostos, não mais.

O ministro das Finanças garante que não haverá aumento de impostos para os recibos verdes em 2018. Em entrevista à Antena1, Mário Centeno afirmou que, tal como acontece com os trabalhadores por conta de outrem, também os independentes pagarão menos impostos.

“Os trabalhadores independentes vão, tal como todos os outros trabalhadores em Portugal, pagar menos IRS”, disse. O Orçamento do Estado para 2018 (OE2018) prevê alterações ao regime simplificado de IRS, o que levou já alguns fiscalistas a antecipar um aumento de impostos. Mas este sábado, Centeno garantiu que o que vai acontecer é o inverso, “desde logo porque as taxas dos escalões vão descer, porque a sobretaxa vai ser eliminada”, e ainda porque o mínimo de existência “agora é alargado pela primeira vez aos recibos verdes”, uma medida que Centeno diz ser muito importante para os chamados falsos recibos verdes.

Os trabalhadores independentes vão, tal como todos os outros trabalhadores em Portugal, pagar menos IRS.

Mário Centeno

Ministro das Finanças

O ministro não descarta que haja medidas de “transparência” fiscal que abrangem os trabalhadores independentes. “Ninguém entende que um contribuinte possa ter acesso a uma dedução automática sem prestar contas”, diz. “Os limites dessa dedução não foram alterados”, acrescenta.

Com tudo isto, Centeno diz que não consegue perceber “nenhuma das afirmações que são feitas” e garante mesmo que estaria tranquilo se fosse um trabalhador a recibos verdes.

Ministro admite mudanças na especialidade

Depois de o corte de 10% no subsídio de desemprego ter caído apenas nas prestações de valor mais baixo, a esquerda tem insistido na eliminação total daquela redução, que se aplica ao fim de seis meses de pagamento. Mas a medida não consta da proposta de OE2018.

Mário Centeno recordou que as prestações sociais vão crescer, no seu conjunto, mais de 1.250 milhões de euros em 2018, um número “significativo”, ainda que decorra em grande parte de mudanças nas pensões. “Houve outras prioridades para incluir nesta fase da negociação do Orçamento do Estado”, avisou o ministro, acrescentando, porém, que a “discussão na especialidade vai decorrer”. Centeno diz ter a certeza de que muitas propostas vão aparecer nessa fase, mas frisa que é preciso manter o equilíbrio nas contas públicas. “Isto não significa que ele esteja fechado”, mas também não tem “uma plasticidade quase indefinida”, salientou.

Na mesma linha, a questão coloca-se também quanto a mudanças na derrama estadual: “é uma outra medida de que se tem falado, que tem um impacto, aliás, positivo na receita fiscal”, disse. Mas além do debate parlamentar que existirá sempre, as medidas com impacto nas empresas “deveriam ser objeto” de concertação social, avançou Centeno.

Portanto, o ministro das Finanças mostra abertura para a discussão posterior de “variadíssimas matérias”. “Nesta legislatura, nunca um orçamento saiu da especialidade pior do que aquele que entrou”, vincou Centeno.

Progressões: este teria de ser o último ano de congelamento

Questionado sobre o impacto deste Orçamento em 2019, o ministro das Finanças assume que algumas matérias são “incomportáveis orçamentalmente apenas num ano”, sobretudo porque visam “repor situações que se geraram ao longo de muitos anos”.

É o caso das carreiras na Função Pública, uma medida inicialmente prevista para quatro anos, com 200 milhões de euros para cada ano. Mas “feitas as contas, nós conseguimos fazer que o custo se reflita em três anos” e que todas as decisões sejam tomadas nesta legislatura, para não “deixar esse peso de decisão para quem há-de vir“, afirmou.

Aliás, Centeno diz que não podia ser de outra maneira. “Este seria provavelmente o último ano em que esta medida poderia ser congelada”, afirmou o ministro, apontando para “o volume de obrigações e de responsabilidades que o Estado tem assumido com estes trabalhadores”. E a “dimensão destes direitos assume já hoje uma expressão financeira tal, que se esperássemos mais tempo provavelmente a situação que os governos futuros teriam que enfrentar obrigaria a medidas um pouco mais drásticas”, concluiu.

(notícia atualizada)

 

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É desta que a carga fiscal desce? Governo diz que sim

  • Margarida Peixoto
  • 14 Outubro 2017

Na proposta de Orçamento do Estado para 2018, o Governo projeta receitas fiscais e contributivas que, juntas, pesam menos uma décima no PIB face a este ano. É que em 2017 a carga fiscal deverá subir.

Mário Centeno, ministro das Finanças, na apresentação do Orçamento do Estado para 2018, esta sexta-feira.Paula Nunes / ECO

A carga fiscal deverá cair uma décima em 2018, para 34,3% do PIB. As contas resultam das projeções apresentadas pelo Ministério das Finanças, na proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano, entregue na Assembleia da República esta sexta-feira. Mas vamos ver se será mesmo desta que desce. É que em 2017 deverá acabar por subir duas décimas, mostram os números.

Em 2018, o Governo espera arrecadar 49.747 milhões de euros em receita fiscal. O valor fica 3,8% acima da coleta estimada para este ano e deverá representar 25% do PIB, menos duas décimas do que em 2017.

Já no que toca a contribuições sociais efetivas, o Executivo antecipa um encaixe de 18.621 milhões de euros, uma subida expressiva, de mais 5%, face a 2017. A justificar este aumento estará, previsivelmente, a melhoria das condições do mercado de trabalho, com o emprego a crescer 0,9%. O peso das contribuições sociais efetivas no PIB será de 11,7%, precisamente o mesmo que se projeta para 2017.

Somadas as duas parcelas, é de esperar que o peso da carga fiscal sobre o PIB passe de 34,4% em 2017, para 34,3% no próximo ano — uma descida ligeira.

Mas vamos ver se a descida se confirma. Com uma diferença tão ligeira, pequenas variações no ritmo da atividade económica podem fazer mexer o rácio. Em 2017, a carga fiscal deverá acabar por subir, depois de ter caído em 2016 quatro décimas. O próximo gráfico mostra os cálculos com as projeções mais atualizadas.

Como tem variado a carga fiscal?

Fonte: INE, OE2018 e cálculos ECO

(Gráfico atualizado com mais informação)

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PSD não vai entrar no leilão orçamental

Maria Luís Albuquerque denuncia o aumento da carga fiscal em 2017, ao contrário do que está inscrito no OE para este ano e frisa que investimento público foi revisto em baixa. Partidos reagem.

A ex-ministra das Finanças. Maria Luís Albuquerque, denunciou o facto de, em 2017, afinal ter havido um aumento da carga fiscal, ao contrário do que estava inscrito no Orçamento do Estado, o que a leva alertar para a possibilidade de, em 2018, se repetir a diferença entre a previsão e a execução. Numa primeira reação ao documento entregue na noite de sexta-feira no Parlamento, o PSD garante que não vai entrar “no leilão do Orçamento” e que apenas apresentará medidas “mais estruturais” e que expressem a preocupação do partido face ao futuro.

Maria Luís Albuquerque sublinhou ainda que o alívio de IRS inscrito no OE2018 é inferior à reforma levada a cabo pelo Governo de Pedro Passos Coelho.

“As diferenças entre o Orçamento e a sua execução decorre do aumento dos impostos indiretos. O Governo opta por um topo de impostos, mas mais injusto porque incidem de igual forma sobre as pessoas de diferentes rendimentos”, disse a antiga responsável pela pasta das Finanças, em declarações transmitidas nas várias televisões.

As diferenças entre o Orçamento e a sua execução decorre do aumento dos impostos indiretos. O Governo opta por um topo de impostos, mas mais injusto porque incidem de igual forma sobre as pessoas de diferentes rendimentos.

Maria Luís Albuquerque

Ex-ministra das Finanças

“Já percebemos que não será neste Governo que haverá uma abordagem de reforma estrutural ambiciosa”, acusou Maria Luís Albuquerque, criticando a ausência de reformas que associa ao clima de instabilidade fiscal. Essa instabilidade está também associada a medidas de que se ouviu falar, mas que não constam do Orçamento, acrescentou. “E como o Orçamento é importante para gerir expectativas”, a responsável acredita que “o dano pode já estar feito”, no que diz respeito às intenções de investimento dos empresários que podem temer que o aumento da derrama ainda venha a acontecer.

O aumento da tributação das empresas mesmo que não aconteça de imediato fica a pairar a ameaça de que possa acontecer um futuro próximo e o dano está causado.

Maria Luís Albuquerque

Ex-ministra das Finanças

“Portugal continua a precisar muito de investimento e no Orçamento não há medidas para o incentivar”, lamenta a ex-ministra sobretudo tendo em conta que a vertente de investimento público “tem apenas um aumento marginal face aquilo que foi em 2015”. “Falta investimento naquilo que é a qualidade de serviços públicos dada aos portugueses”, acrescenta.

Apesar de o ministro das Finanças, Mário Centeno, ter garantido na entrevista da Antena1 /RTP que este OE “aposta nas empresas, com medidas de apoio à capitalização”. A líder do CDS também apontou o dedo à falta de incentivos ao investimento. Assunção Cristas defendeu que “é necessário criar condições para haver investimento, criação de emprego duradouro e criação de riqueza para poder ser redistribuída”.

“É essencial criar condições de estabilidade política para reduzir a taxa de IRC de maneira a tornar o país mais competitivo em matéria de competitividade fiscal”, disse Assunção Cristas. A responsável centrista estranha que “o Governo assuma uma desaceleração da economia e não se ocupe de estimular o crescimento por via da promoção do investimento”, por isso, anunciou, na sua reação ao Orçamento do Estado, que vai propor uma decida do IRC de 21 para 19%.

O Governo assuma uma desaceleração da economia e não se ocupe de estimular o crescimento por via da promoção do investimento.

Assunção Cristas

Líder do CDS

Já o PSD vai apresentar propostas de alteração do Orçamento apenas nas “matérias mais importantes”. “Não vamos entrar no leilão orçamental do detalhe. Vamos apresentar apenas propostas que expressem as nossas preocupações mais macro e estruturais que respondam às nossas preocupações de futuro”, disse Maria Luís Albuquerque.

Por sua vez, o BE vai apresentar na discussão na especialidade do Orçamento propostas de alteração para eliminar o corte no subsídio de desemprego e aumentar a derrama estadual de IRC. Uma medida que tem o apoio de todos os partidos mais à esquerda.”Estamos absolutamente convencidos de que essas medidas vão passar. Uma delas já tinha o acordo do PS desde junho (subsídio de desemprego), portanto, achamos que cumprem os objetivos deste orçamento e estamos convencidos de que serão aceites na Assembleia da República e constaram da versão final do Orçamento”, disse a vice-presidente do grupo parlamentar bloquista Mariana Mortágua, em conferência de imprensa, citado pela Lusa.

Catarina Martins disse também, em declarações transmitidas pela SIC Notícias, que o Bloco de Esquerda tenciona apresentar na especialidade uma proposta para criar uma compensação social para as “vítimas de Mota Soares”. A coordenadora do Bloco referia-se às pessoas que ficaram com grandes cortes nas suas pensões por pedirem reformas antecipadas após períodos de desemprego de longa duração, mas que não têm ainda idade suficiente para pedir o complemento solidário para idosos.

Estamos absolutamente convencidos de que essas medidas vão passar. Uma delas já tinha o acordo do PS desde junho (subsídio de desemprego), portanto, achamos que cumprem os objetivos deste orçamento e estamos convencidos de que serão aceites na Assembleia da República e constaram da versão final do Orçamento.

Mariana Mortágua

Deputada do BE

O aumento da derrama vai ter, com certeza o apoio do PCP. “Registamos o compromisso assumido para a aprovação da proposta que o PCP irá novamente apresentar de aumento de 7% para 9% da derrama estadual de IRC a pagar pelas empresas com mais de 35 milhões de euros de lucros”, disse o líder parlamentar comunista, João Oliveira, citado pela Lusa. Outros compromissos registados pelo PCP são o “alargamento da gratuitidade dos manuais escolares e a eliminação do corte de 10% no subsídio de desemprego”.

Também Os Verde prometem apresentar propostas de alteração ao OE, na especialidade, para aumentar a derrama estadual de IRC de 7% para 9%, Na reação ao OE2018, o deputado José Luís Ferreira anunciou que o partido também vai apresentar medidas relacionadas com a mobilidade e a promoção do recurso aos transportes públicos.

O ministro das Finanças já espera esta movimentação da esquerda no âmbito da especialidade. Na entrevista à Antena 1, Mário Centeno lembrou que “há um debate parlamentar que se vai ter” e sugere que “tudo o que é importante para a vida das empresas deveria ser objeto de concertação”. Centeno referiu ainda houve “um acumular de capital social com negociações efetivas com sindicatos e concertação social”.

A proposta do OE2018 será discutida na generalidade, na Assembleia da República, a 2 e 3 de novembro, seguindo-se o debate na especialidade e a votação final global está agendada para 28 de novembro.

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Um orçamento de consolidação nominal e não estrutural

Joaquim Miranda Sarmento, professor de Finanças do ISEG, analisa a proposta de Orçamento, "pensada para a geringonça e não para o país, num equilíbrio fino do poder que sustenta o Governo".

Numa nota inicial, peço desculpa ao leitor por esta análise tão longa, mas, citando Oscar Wilde, “não tive tempo de a fazer mais curta”.

Introdução

Com o OE/2018, o Governo continua aquilo que tem vindo a fazer desde o início de 2016. Abandonada a retórica anti Europa, o Governo apostou na consolidação orçamental nominal. Essa consolidação, como tenho desde há um ano escrito aqui no ECO, é sobretudo baseada no efeito cíclico do crescimento económico.

O crescimento nominal em torno dos 4% tem permitido aumentar a despesa e, simultaneamente, reduzir o défice nominal (embora a redução do investimento público e as cativações de despesas com serviços públicas também façam parte desta estratégia). No entanto, não há consolidação orçamental estrutural.

Pelo contrário, o défice estrutural está, na melhor das hipóteses a manter-se, embora possa agravar-se. Isto porque estamos, mais uma vez, a repetir a receita do passado: aposta num modelo de crescimento baseado no consumo e na dívida, e aumento da despesa pública estrutural (sobretudo salários e prestações sociais) com base em receita cíclica.

Outro aspeto relevante é que num momento em que o saldo primário deveria estar a aumentar, em 2018 é praticamente igual ao de 2017 (2.5% do PIB quando o Programa de Estabilidade apontava para um saldo primário em 2018 acima dos 3%). Isto é crítico para a redução da dívida pública.

Mas este é um OE pensado para a geringonça, e não para o país. Toda a estratégia orçamental visa o “equilíbrio fino” de poder que sustenta o governo. Por um lado, agradar a Bruxelas, continuando a reduzir o défice nominal. Bruxelas vai criticando a falta de reformas e consolidação orçamental estrutural, como o fez na semana passada. Mas tendo Portugal saído da vertente corretiva do Procedimento dos Défices Excessivos, a capacidade de vigilância e correção da União Europeia é menor. Enquanto o pau vai e vem, folgam as “costas políticas” do Governo. Mas por outro lado é um OE para agradar à geringonça. Este OE está centrado numa perspetiva eleitoralista: setor público e redução de IRS.

Pergunto-me: como será o de 2019, se as eleições se vierem a realizar nesse ano?

Mas o que nos diz uma primeira leitura, muito rápida, do OE para 2018?

As projeções macroeconómicas

O cenário macro apresentado pelo Governo é relativamente realista e está em linha com as estimativas das principais instituições. Teve uma avaliação globalmente positiva por parte do Conselho das Finanças Públicas (CPF), embora se mantenham alguns riscos.

O crescimento real será de 2.6% em 2017 (3.9% em termos nominais), desacelerando para 2.2% em 2018 (3.6% em termos nominais). Esta desaceleração vem sobretudo da redução do crescimento das exportações e da FBCF. Repare-se que o crescimento homólogo do 1º semestre de 2017 (3%) foi excecionalmente bom, porque comparava com um mau 1º semestre de 2016. Mas o crescimento homólogo do 2º semestre já é inferior ao crescimento total do ano. E o crescimento em cadeia do 2º trimestre de 2016 já só foi de 0.3%. Por outro lado, o saldo comercial tem vindo a agravar-se.

Quanto ao desemprego, continuará a reduzir-se, passando de 11% em 2016 para 9.2% em 2017 e 8.6% em 2018. O gráfico abaixo mostra como a redução de desemprego esta a ser mais rápida do que aquilo que as taxas de crescimento real fariam prever, considerando uma série longa desde 1985.

A economia portuguesa está presa por quatro “grandes arames”: primeiro, a política monetária expansionista do BCE; segundo, um crescimento moderado das economias Europeias; terceiro, o baixo preço do petróleo; quarto, um efeito de crescimento do turismo (embora outros setores estejam também a crescer, o turismo sustenta parte considerável do crescimento).

Mais uma vez: fatores conjunturais que geram crescimento cíclico, que gera receita cíclica (ou menos despesa de juros no caso do BCE, que vai mantendo as taxas de juro historicamente baixas), que financia despesa estrutural.

Uma receita que sempre falhou. O que nos leva a pensar que desta vez vai resultar?

Os números e o défice de 2017

Para 2017, o Governo prevê um défice de 1.4%, em linha com as minhas últimas previsões (e estimo um défice sem “one-offs” de 1.7%, dado que existem 450 M€ da garantia do BPP e mais 100 M€ do PERES).

Em 2016, o défice nominal tinha sido de 2%, e o défice sem “one-offs” foi de 2.4% ou seja, nominalmente há uma redução de 0.7 pontos percentuais (p.p.). O gráfico do relatório do OE/2018 (pág. 26), mostra, contudo, como esta consolidação é ilusória e, mais uma vez, meramente conjuntural. Segundo o governo, o efeito conjugado na redução do défice do aumento da receita e do ciclo económico foi de 2% PIB, sendo que ainda houve menos despesas com juros e com subsídio de desemprego num total de 0.3% PIB.

Ou seja, com uma política orçamental conservadora e prudente, Portugal teria já em 2017 atingido um equilíbrio orçamental nominal. Tal como escrevi aqui há duas semanas, com este crescimento, Portugal já deveria ter um défice nominal próximo de 0%. Infelizmente, a opção foi aumentar a despesa: pessoal (+0.3 p.p.), investimento (sobretudo nas autarquias, + 0.5 p.p.) e outras despesas (+1 p.p.), obtendo um défice de 1.4% em 2017.

A tabela abaixo compara a previsão (em contabilidade pública) do governo para 2017 com a execução até agosto (últimos dados disponíveis). Vemos que as variações homólogas até agosto estão em linha (nalguns casos até abaixo) do objetivo do OE/2018 para o ano de 2017. No entanto, nos quatro meses em falta (setembro a dezembro), o saldo em contabilidade pública não se pode agravar em mais de 500 M€.

Refira-se que em 2016, entre setembro e dezembro, o saldo das Administrações Públicas (AP´s) em contabilidade pública agravou-se em 260 M€. A receita cresceu 29 mil M€ e a despesa cerca de 28.5 mil M€. O IRS cresceu 4.8 mil M€, o IRC cresceu 2.7 mil M€ e o IVA cresceu 5 mil M€. Apesar de o período setembro-dezembro de 2017 apresentar algumas diferenças (o pagamento do subsídio de natal passou de duodécimo para novembro e este ano não haverá PERES), os números apresentados pelo governo afiguram-se prováveis.

Os números e o défice de 2018

Para 2018, o governo prevê um défice de 1%. Como é que se passa de um défice de 1.7% em 2017 (sem “one-offs”) para um défice de 1% em 2018?

Esta redução resulta exclusivamente do efeito cíclico de um crescimento nominal de 3.6%, o que reduzirá o défice para um valor em torno de 0.6% segundo os meus cálculos. Estimo que as medidas que o governo tomará para 2018 terão um impacto de agravar o défice em 0.3% (mais à frente, no saldo estrutural explicarei porque).

Assim, estimo que o governo possa de facto cumprir a meta de 1%, mas dependerá da conjuntura económica, bem como de um controlo da despesa com serviços e investimentos e de poupanças nos juros. O caminho continua difícil, e quem achou que a “austeridade” diminuiria, creio que está equivocado.

A confirmar que a redução do défice passa quase exclusivamente pelo efeito do crescimento nominal, veja-se que se prevê que a receita total se mantenha em % PIB, mas com a outra receita e a receita de capital a compensar a quebra de 0.3 p.p. da receita fiscal. Por outro lado, a quebra de 0.2 p.p. da despesa está concentrada nas despesas com pessoal (-0.3 p.p.) e juros (-0.3 p.p.), que compensam o aumento do investimento (+0.4 p.p.).

Olhando assim, parece que o governo vai fazer um “grande” esforço de redução da despesa pública com pessoal e “congelar” a despesa com os consumos intermédios e prestações sociais. Contudo, vale a pena olhar para os valores projetados em milhões de €, conforme a tabela abaixo. O que vemos é um aumento dos gastos com consumos intermédios em 500 M€, mais mil M€ nas prestações sociais e mais 430 M€ nas outras despesa e mais mil M€ para o investimento. No total, a despesa aumenta 2.5 mil M€.

A grande conclusão é que a consolidação orçamental vai ser feita baseada quase exclusivamente no crescimento económico. Como a economia cresce, a receita fiscal e total vão crescer 2 mil M€ e 3.2 mil M€ respetivamente. Reduz-se o peso em % PIB, mas apenas porque crescem menos que o previsto para o PIB.

A consolidação orçamental estrutural que não existe

O OE/2018 indica que o défice estrutural em 2017 ficou em 1.8%. Para 2018, prevê-se um défice estrutural de 1.3% (mas veremos que estes valores têm algumas incongruências).

Recorde-se que o saldo estrutural não considera a redução do défice por via do crescimento (mais PIB, mais receita fiscal e menos subsídios de desemprego), nem considera o aumento do défice por via de uma recessão (menos PIB, menos receita fiscal e mais subsídios de desemprego), e também não considera as medidas “one-off”. Note-se também que desde 2015 que temos tido políticas expansionistas pró-cíclicas, ao arrepio de tudo o que se deve defender em Economia.

A tabela abaixo mostra o seguinte: primeiro, os números apresentados pelo governo para o saldo estrutural. Depois, mostra o valor das medidas anunciadas para 2017-2018, e o “gap” que falta para atingir o objetivo de variação do saldo estrutural.

Verifica-se que para atingir um défice estrutural de 1.3% em 2018, o governo tem um “gap” de medidas de 0.7 p.p. (ou seja, cerca de 1.4 mil M€). Embora a revisão do PIB potencial possa minorar este “gap”, isto significa que é claro a quem redigiu este OE que há necessidade de medidas adicionais para se atingir os objetivos do défice estrutural (ou então não os cumprir).

Além disso, grande parte das medidas que constam do OE/2018 são vagas e sem especificar claramente como serão implementadas, pelo que o “gap” poderá ser superior. Isso implica que se considerarmos apenas os aumentos de receita (ou seja, sem a redução de despesa nos “consumos intermédios”, na “outra despesa corrente” e nos juros”), o défice estrutural continuará em torno dos 2.5% em 2018. Ou seja, a consolidação estrutural depende de medidas não especificadas e de uma redução dos juros que o governo não controla. Outro aspeto preocupante é que o saldo primário estrutural praticamente fica inalterado.

Dívida Pública

Relativamente à dívida pública, o governo prevê uma descida para 126.2% do PIB em 2017 e para 123.5% do PIB para 2018. A dívida pública reduzir-se-á assim 3.9 p.p. em 2017 e 2.8 p.p. em 2018. Esta redução total de 6.7 p.p. deve-se ao efeito do saldo primário (-5.1 p.p.) e ao efeito dinâmico (ou seja, ao fato de a taxa de crescimento do PIB ser maior que a taxa de juro média implícita da dívida pública) (-1.8 p.p.), havendo depois outros efeitos (+0.2).

As necessidades líquidas de financiamento em 2018 são de 10.8 mil M€, dos quais apenas 5.4 M€ é para o défice orçamental em contabilidade pública. O restante prende-se com a aquisição líquida de ativos financeiros. Mas as necessidades brutas de financiamento ascendem a 40 mil M€, dos quais 8 mil M€ de médio e longo prazo. Isto mostra como o fluxo de reembolsos de dívida permanece alto, e vai continuar a subir até 2021.

A parte fiscal

É, contudo, na matéria fiscal que se nota (ainda) mais a aposta num modelo de consumo interno e a aposta política atrás descrita de este OE/2018 servir a geringonça e não o país.

Se se tivesse efetivado a subida da derrama estadual para 9% (no escalão máximo) (coisa que estará a ser negociada), somado aos 21% da taxa nominal e 1.5% de derrama municipal (taxa máxima), colocaria a taxa máxima de IRC em 31.5%. Esse seria hoje o valor mais alto dos países da União Europeia.

As medidas tomadas em sede de IRC são positivas (nomeadamente os benefícios de reinvestimento dos lucros), mas insuficientes. Mas há uma carga ideológica neste OE. E convinha recordar que houve um acordo para a estabilidade do IRC (assinado em 2013), e que não foi cumprido. Embora duvide da descida da taxa nominal, esta subida, colocando Portugal com a taxa marginal de IRC mais alta da Europa, se se efetivar, terá um efeito negativo na competitividade da economia.

Em termos do IRS, não discordando de que o imposto deve ser progressivo, recorde-se o estudo recente do FMI que conclui que o IRS é um dos impostos sobre o rendimento mais progressivos a nível mundial. A taxa marginal máxima de 48%, a que se soma a segurança social, colocando o valor nos 60%, afigura-se como uma das mais altas. Em contrapartida, das 4.5 milhões de declarações, 2.5 milhões não apuram imposto.

Adicionalmente, o que vemos é que o sistema fiscal continua a não ter uma coerência própria e em cada OE temos remendos em cima de remendos, com a criação de cada vez mais taxas e outro tipo de contribuições. Neste aspeto, a taxa sobre a indústria farmacêutica pode gerar alguns equívocos.

Vejamos: as vendas de dispositivos médicos está muito concentrada no SNS, pelo que esta taxa dificilmente escapará a um efeito de aumento do preço, e portanto o seu efeito orçamental afigura-se muito inferior ao previsto no OE.

Síntese

Temos um OE/2018 que prossegue a estratégia de consolidação orçamental baseada quase exclusivamente no crescimento nominal (embora vá continuar a ser necessário manter o investimento público em valores muito baixos e a controlar a despesa com os serviços públicos). De facto, apesar de o défice nominal passar de 1.4% em 2017 (1.7% sem “one-offs”) para 1% em 2018, o saldo primário mantém-se em torno dos 2.5%. Também o défice estrutural deverá continuar em torno dos 2%, podendo mesmo agravar-se.

Como tal, é cada vez mais claro que o país precisa de uma estratégia de consolidação orçamental com medidas estruturais e não apenas com a “bonança” de um crescimento económico um pouco melhor que o dos últimos anos.

Mas apesar dessa crítica, como “ortodoxo” das Finanças Públicas equilibradas, fico apesar de tudo modestamente satisfeito com este OE/2018 e a redução do défice nominal. Espanta-me que aqueles que nos últimos anos tanto criticaram a “obsessão” pelo défice estejam agora tão empenhados. Mas fico naturalmente satisfeito. Sobretudo por ver o PCP e o BE assumirem uma postura de responsabilidade orçamental. Creio que essa é a principal lição dos últimos anos. Pode ser a geringonça no governo. Mas esse poder implicou uma “rendição” aos princípios dos “conservadores orçamentais”. E não vale a pena falar na reposição dos rendimentos. Os cortes salariais repostos em 2016 vinham de 2010, de um governo do PS. E a austeridade não desapareceu.

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? Quiz: Acha que já sabe tudo sobre o Orçamento do Estado para 2018?

São 13 perguntas para testar o que já sabe sobre a proposta de Orçamento do próximo ano preparada pelo Governo. Do IRS às pensões, passando pelas progressões na carreiras, são várias as alterações que incidem diretamente na vida de milhões de portugueses. Se quiser recordar as notícias antes de testar os seus conhecimentos, visite a Obsessão Orçamento do Estado 2018 onde o ECO reúne todas as notícias sobre o tema.

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? Cinco minutos à conversa sobre o Orçamento para 2018

  • ECO
  • 14 Outubro 2017

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Imposto sobre o tabaco mexe. Preço do maço fica igual

O impostos sobre tabaco vai sofrer alterações na tributação no Orçamento do Estado para 2018. Mas o resultado é um equilíbrio que não se manifesta no preço ao consumidor.

Em 2018 o preço do tabaco não vai aumentar. O Orçamento do Estado para 2018 opta por agravar apenas uma das componentes da tributação, sendo que a outra desce. Assim, equilibram-se, e o efeito combinado das duas componentes do imposto é neutro. O Governo interrompe assim um aumento da tributação que vinha a ser feito nos últimos anos, para desincentivar o consumo. O aumento da fraude e do contrabando pode ter justificado esta opção.

O Fisco aumenta uma das componentes do imposto sobre o tabaco em 1,4%, o valor correspondente à taxa de inflação registada em setembro de 2017. Desta forma, passa a cobrar 94,89 euros por cada mil cigarros, quando no Orçamento anterior o valor era de 93,58 euros. Este valor recai sobre cada mil unidades produzidas (elemento específico).

No caso dos charutos e cigarrilhas, o valor do elemento específico é bastante superior: 60,84 euros no caso das cigarrilhas e 405,6 euros no caso dos charutos. Também o elemento ad valorem é superior, fixando-se nos 25%.

A segunda componente é uma taxa que recai sobre o preço de mercado (ad valorem). Esta última vai descer, de 16% para 15%. O efeito combinado entre ambas dita assim a manutenção do preço do maço de tabaco.

Se o resultado é o mesmo, porquê as mudanças?

Amílcar Nunes, fiscalista da consultora EY, explicou ao ECO que a diminuição da componente ad valorem tem como objetivo “impedir uma guerra de preços”, o que teria como consequência “inundar o mercado de cigarros baratos” e seria nocivo para a saúde pública. Nas palavras do analista, “descer a componente ad valorem visa impedir que o mercado seja inundado por cigarros baratos. Esta componente funciona como o IVA, ou seja, é uma percentagem sobre o preço de venda. Quanto mais baixo este preço, menor o valor a pagar pelas tabaqueiras ao Estado”, o que poderia incentivar a uma descida do preço de venda da parte das empresas e levar um maior consumo.

"Descer a componente ad valorem visa impedir que o mercado seja inundado por cigarros baratos.”

Amílcar Nunes

Fiscalista EY

O Estado prevê no Orçamento do Estado para 2018 que as receitas com o imposto sobre o tabaco subam de 1.413 em 2017 para 1.443, em 2018, uma variação positiva de 2,1%. Por outro lado, os preços do tabaco não podem aumentar continuamente, pois há um ponto em que o contrabando e a fraude tendem a aumentar.

Recorde-se que no Orçamento do Estado para 2017, os cigarros tiveram um aumento de dez cêntimos. Esta subida resultou de um aumento de 3% no elemento específico dos cigarros de 88,2 euros para 93,58 por cada mil cigarros.

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Estado quer cortar custos com… dez mil carros apreendidos

  • Rita Atalaia
  • 14 Outubro 2017

Fruto de vários processos judiciais ao longo dos anos, o Estado tem apreendidos dez mil carros. Estão distribuído em 380 parques. Há mil agentes a guardá-los. É um custo que o Governo quer cortar.

O Estado tem dez mil carros apreendidos, fruto de vários processos judiciais que duram vários anos. Estão estacionados em 380 parques. E são guardado por mil agentes. É um custo que o Executivo de António Costa quer cortar em 2018, de acordo com a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano entregue na Assembleia da República. Para o Governo, é necessária uma “gestão mais racional e eficaz dos veículos apreendidos”.

“O trabalho de diagnóstico em curso permitiu já quantificar cerca de 10.000 veículos apreendidos, distribuídos por 380 parques com uma área total de 165.000 metros quadrados. Para a guarda destes veículos, encontram-se afetos cerca de 1.000 agentes, guardas e outros funcionários do Estado”, lê-se no documento apresentado por Mário Centeno no Ministério das Finanças.

O trabalho de diagnóstico em curso permitiu já quantificar cerca de 10.000 veículos apreendidos, distribuídos por 380 parques com uma área total de 165.000 metros quadrados . Para a guarda destes veículos, encontram-se afetos cerca de 1.000 agentes, guardas e outros funcionários do Estado.

Proposta de Orçamento do Estado para 2018

De acordo com a proposta, estes milhares de veículos apreendidos e parados, envolvem “elevados custos económicos e ambientais diretamente relacionados com a guarda destes veículos e a alocação de agentes de força pública para garantir a administração dos veículos apreendidos”.

Apesar de o Governo reconhecer que já existem mecanismos legais que preveem que, em determinadas circunstâncias, estes carros sejam usados pelas forças policiais, acontece que nem sempre a tipologia dos veículos o permite. É por isso que “está em preparação um plano para promover uma gestão mais racional e eficaz dos veículos apreendidos, diminuindo os custos que a sua guarda prolongada provoca, seja pelos imóveis que lhes estão alocados, os custos ambientes inerentes, nomeadamente de contaminação de solos, e os recursos policiais afetos a estas tarefas”.

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