ECO24: Questões a que Francisco Lacerda vai ter de responder
Desde a quebra no dividendo a pagar aos acionistas até ao cumprimento do serviço postal universal, não faltam perguntas sobre o presente e o futuro dos CTT que precisam de resposta.
A bolsa portuguesa pode ter aprovado o plano de restruturação dos CTT, com a empresa a subir 4,61% para os 3,65 euros no dia a seguir à apresentação dessa nova estratégia, mas ainda há muito a esclarecer perante os acionistas e os consumidores. Esta quarta-feira à noite, o presidente do conselho de administração dos CTT, Francisco Lacerda, vai responder às questões do publisher do ECO, António Costa, e do editor de Economia da TVI, Vasco Rosendo, no programa ECO24. Aqui estão alguns dos temas que ainda falta esclarecer.
Porque não surgiu o plano de restruturação mais cedo?
Há um ano, o Governo já anunciara que ia deixar maioritariamente de enviar cartas aos cidadãos, passando o email a ser o meio de comunicação privilegiado. Entre esta decisão e a tendência generalizada para o envio de cada vez menos correio postal com a crescente utilização dos meios tecnológicos, não deveria ter surpreendido os CTT que os seus lucros caíssem drasticamente entre janeiro e setembro deste ano: 57% relativamente ao mesmo período do ano anterior.
Grande parte do negócio dos CTT — cerca de 70% — depende do correio postal, enquanto empresas europeias semelhantes já reduziram esse valor para estar à volta dos 50%. O plano de restruturação apresentado ontem já podia ter vindo mais cedo? O que impediu o conselho de administração de ver estas fraquezas antecipadamente e agir para prevenir tantas perdas?
Os cortes na despesa são grandes mas… E aumento de receitas?
O plano de restruturação inclui planos para poupar até 45 milhões de euros a partir de 2020, cortando nos custos. No entanto, onde estão as medidas para aumentar as receitas? Os analistas do CaixaBI, por exemplo, escreveram uma nota aos clientes na qual assinalavam que “o mercado iria apreciar mais medidas de incremento de receitas”.
Numa altura em que a queda dos lucros no serviço de correio postal parece certa, os CTT terão de apostar mais nos seus outros serviços: as encomendas e os serviços de expresso, com base no crescente volume de compras online que precisam de ser expedidas, um mercado que os CTT esperam vir a crescer; e o Banco CTT. Mas o Banco nunca deu lucro desde que foi fundado.
O Banco Postal é para manter, mesmo sem dar lucro?
O Banco dos CTT, fundado em março de 2016, sempre deu prejuízo. Qual é o caminho daqui para a frente para este negócio? Por um lado, nos resultados muito negativos dos CTT, o Banco CTT foi uma nota positiva: aumentou os depósitos em 197%, para 540,4 milhões, enquanto as receitas se fixaram em 5,3 milhões.
Qual é o caminho para o Banco CTT daqui para a frente? A instituição ainda não dá lucros e pesa nas contas. No ano passado, o banco reportou prejuízos de 21,4 milhões de euros, superiores aos 5,9 milhões que tinha registado em 2015, apesar de o número de clientes estar a aumentar. São sobretudo os gastos operacionais que estão a penalizar o banco (passaram de 7 milhões em 2015 para 26 milhões em 2016), o que se justifica com a abertura de novos balcões.
Como vão garantir o cumprimento do serviço público com cortes?
O serviço postal dos CTT pode ser o maior peso morto nas suas contas, devido à quebra no envio de cartas, mas a empresa é obrigada a cumprir o serviço postal universal. O ECO preparou um guia para perceber ao certo o que é o serviço postal universal, que os CTT são acusados de não prestarem adequadamente — uma auditoria da PwC mostrou que em cada mil cartas, 2,3 não chegavam ao destino dentro de 15 dias. A Anacom decidiu penalizar os CTT, obrigando-os a cortar o preço do correio em 0,03 pontos percentuais em 2018.
Com os cortes que se anteveem no serviço dos correios, com despedimentos, assim como o ajustamento do serviço de balcões para maior poupança, o que pode levar a encerramentos, é preciso saber como é que os CTT pretendem melhorar o cumprimento do serviço postal universal, cujo contrato de concessão, que data de 2000, termina a 2020.
Existe o risco de os CTT perderem a concessão do serviço postal universal?
O Governo criou na semana passada um “programa de trabalho” para avaliar o serviço prestado pelos CTT, no sentido de decidir que ações de “melhoria contínua” poderão ser tomadas. Também foi aprovado, posteriormente, o projeto de resolução do Partido Socialista de fazer um grupo de trabalho para o mesmo efeito.
António Costa já descartou uma nova nacionalização dos CTT, no debate quinzenal desta quarta-feira, perante pressões dos partidos de esquerda como o Bloco e o PCP. “Não, não é intenção do Governo nacionalizar os CTT”, começou por afirmar António Costa, acrescentando que “sendo uma entidade pública sob concessão não havia lugar a nacionalização” mas sim, “quando muito, haveria lugar ao resgate da concessão”.
Como pode ser afetada a relação com os acionistas com mais cortes nos dividendos?
O dividendo aos acionistas relativo ao exercício de 2017 vai ser 20% inferior ao prometido inicialmente: os CTT vão pagar apenas 38 cêntimos de dividendo, um corte significativo relativamente aos 48% iniciais. Mas não é apenas isso. No seguimento da apresentação do plano de restruturação, deverão vir aí novos cortes.
“Durante o período de investimento do plano de transformação operacional (2018-2019), o Conselho de Administração tenciona propor que a empresa implemente uma política de dividendos alinhada com o seu resultado líquido, reforçada com a utilização de reservas distribuíveis”, lê-se no comunicado da empresa liderada por Francisco Lacerda ao mercado. O mercado tem reagido bem ao plano de restruturação, mas como será a relação com os acionistas se o dividendo continuar de facto a cair?
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