Comissão: Havia soluções para “minimizar extensão do incêndio”
A Comissão Técnica Independente (CTI) sobre os incêndios concluiu que falhou a capacidade de "previsão e de programação" para "minimizar a extensão do incêndio" na região centro, que fez 48 mortos.
A Comissão Técnica Independente (CTI) sobre os incêndios concluiu que falhou a capacidade de “previsão e de programação” para “minimizar a extensão do incêndio” na região centro, que fez 48 mortos.
Esta é uma das conclusões da comissão criada pelo parlamento, que entregou hoje o seu relatório na Assembleia da República, em Lisboa.
“Era possível encontrar soluções prévias de programação e de previsão que pudessem ter amenizado o que foi a expansão do incêndio”, afirmou João Guerreiro, o presidente da comissão, em declarações aos jornalistas, no parlamento.
Para João Guerreiro, apesar de se estar em outubro, fim da época de incêndios, havia possibilidades de minimizar os efeitos dos incêndios, a 14, 15 e 16 de outubro de 2017.
Incêndios de outubro foram os maiores da Europa no outono
Ainda segundo a comissão técnica independente, os incêndios de outubro foram os primeiros com tamanha grandeza ocorridos no outono na Europa, refere o relatório hoje entregue na Assembleia da República.
De acordo com o relatório de 276 páginas, as ignições do dia 15 de outubro produziram sete manchas ardidas na região Centro, excedendo 10 mil hectares cada, “incluindo o maior incêndio de que há memória, com início em Vilarinho, Lousã, e área de 45.505 hectares”.
“Além da extraordinária dimensão, os mega-incêndios de 15 de outubro individualizam-se à escala europeia por serem os primeiros desta ordem de grandeza a ocorrer no outono”, acrescenta.
O relatório, feito a pedido do Governo, destaca ainda que os fogos foram intensificados pelo furacão Ophelia, pese embora a previsão para esses dias já apontasse para perigo meteorológico de incêndio, classificado como extremo, num contexto que incluía ainda a velocidade do vento e o momento de severidade da seca sazonal.
“Estes fogos incidiram principalmente em floresta (78% da superfície queimada), predominando em geral o pinheiro-bravo, sendo que 42% da área afetada nunca havia ardido (desde 1975) e o fogo é historicamente infrequente na maior parte da restante, o que indicia elevada continuidade e carga de combustível”, refere o documento.
É também esclarecido que predominou o “fogo de copas”, especialmente em pinhais densos e baixos. Foram atingidas velocidades de propagação superiores a 03 quilómetros/hora (Km/h) em todos os casos estudados, por vezes acima de 06 km/h, “correspondendo típica e respetivamente a intensidades de frente de chama de 30.000 – 45 000 kW/m [quilowatt/metro] e 50 000 – 90 000 kW/m, três a nove vezes mais do que capacidade de extinção”.
A comissão técnica independente esclarece ainda que esta sequência de factos (mistura de vários fatores meteorológicos) constitui “o maior fenómeno piro-convectivo registado na Europa até ao momento e o maior do mundo em 2017, com uma média de 10 mil hectares ardidos por hora entre as 16:00 do dia 15 de outubro e as 05:00 do dia 16 de outubro para o conjunto dos cinco mega-incêndios estudados”.
“Este movimento errático e acelerado por momentos pulsantes coincide com a ocorrência de vítimas mortais nos incêndios”, descreve.
O documento foi entregue, pouco depois das 17:30, pelo presidente da comissão e ex-reitor da Universidade do Algarve, João Guerreiro, numa audiência com o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, em Lisboa.
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