Durão Barroso critica “futebolização” do discurso político
O antigo primeiro-ministro, Durão Barroso, esteve em Lisboa para criticar aquilo que considerou ser o fenómeno da "futebolização" do discurso político.
O antigo primeiro-ministro Durão Barroso advertiu esta terça-feira para o “nível mais baixo” do discurso público no plano global, contrastante com o aumento da educação formal, com “uma linguagem cada vez mais ordinária” e “uma futebolização da política”.
O ex-presidente da Comissão Europeia e atual presidente do Banco Goldman Sachs International falava durante uma conferência na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, promovida pelo Club de Madrid, organização internacional que junta cerca de cem antigos Presidentes e primeiros-ministros e da qual faz parte.
Sem mencionar nenhum caso em concreto, Durão Barroso falou em tom de advertência para as lideranças políticas, defendendo que lhes cabe agir como contraponto a esta tendência global: “É esse o papel dos líderes, temos de promover a tolerância nas nossas sociedades, começando entre nós, na vida política, tratando-nos uns aos outros com respeito”.
"Hoje em dia estamos a ver, no discurso público em geral, do futebol à política, às vezes até com uma futebolização da política, um nível a baixar.”
Situação não está “tão mal” em Portugal
À saída desta conferência sobre “Educação para sociedades partilhadas”, o antigo primeiro-ministro considerou que, em termos comparativos, a situação não está “tão mal” em Portugal, mas preveniu para o “efeito de cópia”, declarando que “mais tarde ou mais cedo vamos também consumindo aquilo que vem de fora”. Por outro lado, apontou “o mundo do futebol em Portugal” como outro fator negativo: “Eu não quero entrar por aí, mas é triste, é mesmo vergonhoso, as pessoas falam de uma maneira agressiva e constantemente mal-educada”.
“A agressividade faz parte da política, eu fui líder da oposição, eu fui primeiro-ministro, eu sou a favor da competição política. Agora, há maneiras de fazer. E hoje em dia estamos a ver, no discurso público em geral, do futebol à política, às vezes até com uma futebolização da política, um nível a baixar”, criticou.
Durão Barroso defendeu que a comunicação social tem também um papel a desempenhar, “não obviamente limitando a liberdade”, ressalvou. “Mas, haja vozes que contrariem isto, que haja a coragem de dizer: por aí não vamos. Porque, se não, então fica tudo muito feio”, apelou.
Nesta conferência sobre educação, Durão Barroso esteve num painel com os antigos Presidentes da República Jorge Sampaio e Aníbal Cavaco Silva. O ex-presidente da Comissão Europeia associou o “nível mais baixo” do discurso público a um “efeito de massificação” do ensino.
“A democratização do ensino, que devemos todos saudar, foi acompanhada também por um efeito de massificação que está, a meu ver, a fazer mal às nossas democracias”, afirmou. “E hoje em dia vemos, nas sociedades em geral, incluindo nas democracias mais avançadas, um nível de confronto, de agressividade, um discurso, como se diz em português, ordinário. Desculpe a expressão, mas é isso mesmo, está uma linguagem cada vez mais ordinária”, considerou, acrescentado que estava “a falar em geral do discurso público, não só político”.
Durão Barroso questionou “como é possível” esta situação verificar-se quando há “um nível mais alto de educação”. “Estamos a perder a boa educação no discurso público em geral”, lamentou. Por outras palavras, no seu entender, “hoje em dia mudou a gramática da aceitabilidade” e “aquilo que dantes não se podia dizer no espaço público, hoje em dia diz-se, nas redes sociais e não só”.
“Até há grandes políticos, ou políticos que têm grande importância, que fazem isso”, disse. Interrogado se estava a pensar nalgum caso em concreto, o presidente do Banco Goldman Sachs International retorquiu: “Para evitar ser agressivo, não vou referir ninguém, mas as pessoas sabem a quem é que me estou a referir, não é?”.
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