Restaurantes virtuais chegam a Portugal. Não têm mesas ou cadeiras nem aparecem no Google Maps
Não tem balcão nem mesas e não o vai encontrar no Google Maps. O Savage é o primeiro restaurante virtual da Uber Eats em Portugal. Mas a empresa já conta com mais de 1.000 marcas destas lá fora.
À primeira vista, é difícil entender o grupo Uber. Sem ter carros, criou um império nos transportes. E, sem restaurantes, está a fazer o mesmo no setor da restauração: a Uber Eats não só cresce anualmente a dois dígitos como já é um departamento autónomo dentro da Uber, avaliado em pelo menos 20 mil milhões de dólares. Agora, a empresa quer provar aos parceiros que é possível fazer negócio sem ter a casa aberta ao público. Chama-lhes “restaurantes virtuais” e a moda chegou a Portugal esta sexta-feira.
Se perguntar ao Google Maps onde fica o Savage, não vai ter muita sorte. Mas a marca existe mesmo: é o novo restaurante do chef português Olivier da Costa, e fica em Lisboa. Só que o estabelecimento não existe no mundo físico: o Savage só está disponível para os utilizadores da aplicação de entrega de refeições da Uber. Trata-se do “primeiro restaurante virtual em Portugal”, garantiu a Uber Eats num comunicado.
Mas se o conceito é pioneiro em Portugal, o mesmo não se aplica lá fora. A Uber Eats tem uma autêntica cadeia de restaurantes virtuais que contava, em outubro de 2018, com cerca de 1.600 marcas em todo o mundo, entre elas, cerca de 800 nos Estados Unidos e 400 no Reino Unido. E, nessa altura, a empresa não escondia a ambição: queria fechar o ano com mais de 1.000 restaurantes virtuais no mercado norte-americano, de acordo com o site especializado Eater. Mas como funciona o negócio?
Cozinhar com dados
A lógica parece relativamente simples. Por um lado, a Uber Eats agrega vários restaurantes reais na plataforma e conta com uma base já sólida de utilizadores. Por outro, a empresa tem uma rede robusta de estafetas para entregas ao domicílio. Uma vez que o utilizador não precisa de sair de casa para encomendar uma refeição, passa a ser possível um modelo de negócio que dispensa por completo a abertura e manutenção de um espaço aberto ao público. Basta apenas uma cozinha profissional.
Mas o conceito é bem mais complexo. Como revelou a Bloomberg no final do ano passado, estes restaurantes virtuais são, basicamente, menus criados à parte em restaurantes reais que já existem. Os restaurantes que aderem a esta moda passam a confecionar as refeições pedidas pelos clientes no estabelecimento, enquanto cozinham as refeições para dar resposta aos pedidos dos utilizadores da Uber Eats.
E podemos ir ainda mais a fundo, porque, na verdade, estes restaurantes virtuais não têm surgido por iniciativa dos próprios empresários da restauração. A ideia nasce no seio da Uber Eats, mais propriamente num departamento composto por matemáticos e cientistas de dados. Com base na informação dos utilizadores que é recolhida pela Uber, a empresa é capaz de notar tendências de procura por determinados pratos em determinadas zonas. Ao identificar essas tendências, a equipa de vendas da Uber Eats sugere a um estabelecimento da região que crie um novo menu que inclua esses produtos procurados pelos utilizadores.
Nem duas semanas são precisas para passar da ideia à prática, contou o site Eats: basta criar um nome, um logótipo e um menu com os pratos sugeridos pela empresa. Um fotógrafo profissional da Uber Eats tira uma série fotos às iguarias, et voilá: nasce um novo restaurante virtual.
Segundo a Bloomberg, o crescimento nas receitas pode chegar, em alguns casos, aos 80%. A agência fala até em dois restaurantes nos quais deixou de fazer sentido manter a marca tradicional, pelo que os proprietários decidiram adotar definitivamente o novo conceito também nos espaços físicos. Foi o caso da Brooklyn Burger Factory, um restaurante virtual que funcionava na cozinha do Gerizim Cafe & Ice Crea. Hoje, esta marca já não existe. Com 28 vezes mais receitas, a primeira marca canibalizou a segunda.
É com este cartão-de-visita que a Uber Eats experimenta agora o modelo em Portugal. O Savage, com assinatura de Olivier da Costa, está apenas disponível para utilizadores “no centro de Lisboa, entre as 12h e as 24h de domingo a quinta-feira, e das 12h às 2h à sexta-feira e ao sábado”.
O ECO confirmou junto da Uber Portugal que este é mesmo “o primeiro restaurante virtual” da plataforma no país. E, a avaliar pelas declarações, não descarta novas experiências: “Por agora não temos nenhum lançamento preparado, mas estamos a trabalhar para oferecer cada vez mais seleção aos utilizadores portugueses”.
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