Integração das TIC nas escolas? Portugal é um dos países da OCDE que o faz de forma menos eficaz
Incluir desde cedo as TIC na educação não é tarefa fácil, muito menos quando há que fazê-lo eficazmente. Que o diga Portugal que, nesta matéria, está abaixo da média dos países da OCDE.
Os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) estão a fazer a integração das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) nas escolas. Contudo, uns fazem-no mais eficazmente do que outros. E Portugal é um dos oito países da OCDE que tem feito essa mesma inclusão de forma menos eficaz.
A par da Grécia, Chile, Hungria, Itália, Letónia, Luxemburgo e Polónia, Portugal está abaixo dos 25% no que toca a integração eficaz das TIC no ensino escolar, ou seja, abaixo também da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, revela o relatório “OECD Skills Outlook 2019: Thriving in a digital world”, divulgado esta quinta-feira.
Precisamente na ponta oposta da tabela, com os melhores desempenhos no que toca a eficácia na integração das TIC nas escolas, está representada a Austrália, a Finlândia, o Japão, o México, a Holanda, a Suíça e o Reino Unido. Países que a OCDE diz estarem acima da média do conjunto dos países.
“A lacuna no desempenho dos alunos depende do nível de uso das TIC na escola”, explica a OCDE no relatório, acrescentando que, para isso, é também determinante que os professores tenham as skills necessárias para utilizar as Tecnologias de Informação e Comunicação de forma adequada durante as suas aulas. “Há mais de uma década que os países da OCDE enfrentam a necessidade de os professores desenvolverem competências nas TIC”, revela a organização.
Mas, no que toca à preparação dos professores, Portugal até apresenta melhores resultados, ainda que não sejam excelentes. De acordo com os dados da OCDE, o país lusitano está perto da média do conjunto dos membros da organização. Países como a Austrália e a Finlândia apresentam professores melhor preparados nesta matéria, contrariamente a países como a Estónia e a Grécia, que apresentam níveis inferiores à media da OCDE.
Capacitar os alunos de ferramentas TIC surge, assim, como uma “importante estratégia” na preparação dos “estudantes para o sucesso num mundo complexo e digital”. Muitos países estão, precisamente, a concentrar o ensino de novas competências desde cedo. O número de países que incluem no currículo pré-primário skills de TIC aumentou de cerca de 10%, em 2011, para 40%, em 2015. Para ter uma ideia, no que toca a skills relacionadas com a saúde e bem-estar, esse aumento foi de 50% para 90%, enquanto as competências de ética e cidadania aumentaram de cerca de 20% para 80%.
Também na educação primária e secundária se tem assistido a uma ampliação dos programas curriculares, incluindo competências digitais ou éticas, por exemplo. A OCDE destaca mesmo o caso de Portugal: que, em 2017, introduziu nas escolas um documento que define os conhecimentos, competências e valores a serem adquiridos por todos os alunos ao concluir o ensino secundário. “O documento tem como foco a habilidade de navegar corretamente num mundo complexo, através de pensamento crítico, resiliência e capacidade de aprender ao longo da vida”, refere a OCDE no relatório.
Formação em sintonia com mercado de trabalho
Na opinião da OCDE, toda a preparação na escolas deve estar estreitamente alinhada com as necessidades do mercado de trabalho, devendo ser “suficientemente flexível para para se adaptar às rápidas mudanças que ocorrem”. O sistema de educação “destinado a trabalhos manuais e rotineiros tornou-se desatualizado”, refere a OCDE, acrescentando que é preciso modernizar os sistemas para melhor preparar os alunos no momento de entrada no mercado de trabalho, que é “cada vez mais exigente”.
Mas, atualmente, mais do que skills digitais, ter sucesso na transição para o mundo digital do trabalho exige uma “mistura de skills”. O cocktail ideal deve, por isso, juntar as competências de TIC introdutórias às mais avançadas (consoante as funções de trabalho), skills analíticas, pensamento criativo e crítico, skills de comunicação, bem como a capacidade de aprendizagem contínua.
Ainda assim, perante a falta de skills no que toca às TIC — que se alia à rápida transformação digital –, “a maioria dos trabalhadores precisa de ajustar as suas competências com recurso a formação ou aprendendo no local de trabalho”, refere a OCDE.
Ligação à internet é crucial. Mas Portugal está na cauda da OCDE
Outra das facetas do mundo digital que o relatório analisa é a conectividade à internet. E, neste âmbito, Portugal ocupa os últimos lugares do ranking. Quando comparada a ligação à internet nas áreas mais rurais com a ligação nas grandes áreas urbanas, o gap é consideravelmente acentuado.
Essa diferença faz mesmo de Portugal o terceiro país da OCDE com o maior gap, apenas com uma melhor classificação do que a Colômbia e a Grécia. Nestes três países — onde mais de um quinto dos agregados familiares não estão ligados à internet — grande parte das famílias sente falta de competências para navegar na web. Mais de 70% dos agregados familiares portugueses justificam, precisamente, o facto de não terem conexão à internet com a falta de skills para o seu devido uso.
Se reduzirmos o zoom e olharmos para o conjunto dos países da OCDE, “43% dos agregados familiares apontam, como uma das principais razões para a falta de acesso à internet, a falta de conhecimento, como não saber usar um site ou considerar o seu uso complicado”, explica a OCDE no relatório.
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