Vão desaparecer mais de 400 mil empregos no Norte até 2030. E a culpa é dos robôs
Até 2030, os robôs vão roubar 421 mil empregos aos humanos que trabalham na zona Norte do país. Contudo, o processo de automação também deverá trazer a criação de 227 mil novos postos de trabalho.
É impossível negar: a automação vai, de facto, mudar o futuro do trabalho. Qual o verdadeiro impacto disto é que ainda não se sabe ao certo, mas entre postos de trabalho que irão desaparecer e empregos que serão criados, a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) avança com algumas previsões. Até 2030, vão ser perdidos 421 mil postos de trabalho só na zona Norte, sobretudo no setor da manufatura.
De acordo com o relatório divulgado, esta quarta-feira, pela CIP, a zona Norte de Portugal enfrenta um saldo negativo face à automatização das atividades profissionais. Por um lado, a entidade prevê que desapareçam 421 mil empregos, mas, por outro — mais otimista — estima que sejam criados 227 mil novos postos de trabalho.
Contas feitas, prevê-se uma destruição líquida de cerca de 190 mil empregos, consequência da automação. Para António Saraiva, presidente da CIP, este número não tem “forçosamente” de se vir a concretizar. “O mérito deste estudo é, precisamente, despertar as consciências (entidades, empresas, Governo, sindicatos, os vários atores) para refletirem que, se nada for feito, o cenário mais provável é este“, afirma em declarações ao ECO.
Em maior detalhe, o relatório indica o setor os têxteis (dentro da manufatura) como a área mais afetada pela automação, em termos de perda de postos de trabalho, representando “metade das perdas”, pode ler-se no relatório da CIP.
Em contrapartida, na área farmacêutica, as perdas serão quase inexpressivas. Uma discrepância que António Saraiva explica com a “própria especificidade do setor”. “Metade deste problema será no têxtil porque é um setor manual, muito especializado”, afirma.
"Metade deste problema será no têxtil porque é um setor manual, muito especializado.”
“Setores de mão-de-obra intensiva e pouco especializada têm maior necessidade de adaptação. Nestas, facilmente a robótica substitui o ser humano, ao contrário daquelas que já adotaram tecnologias mais sofisticadas, como é o caso da indústria farmacêutica”, acrescenta o presidente da CIP.
As fracas habilitações da maioria dos trabalhadores do setor da manufatura (65% tem baixas qualificações), bem como a idade mais avançada (55% tem entre 30 e 49 anos) não deixa de ser um fator que “pode introduzir alguma dificuldade” no processo de requalificação. Mas António Saraiva mostra-se otimista quanto a isto: “Recuso-me a pensar que hoje, no tempo mais moderno em que vivemos, as pessoas tenham ainda essas dificuldades como tiveram no passado na adaptação aos computadores, por exemplo. Há, obviamente, algum grau de complexidade, mas hoje é muito menor”.
Uma trilogia chamada requalificação
Para mitigar a eliminação de postos de trabalho, António Saraiva aponta, precisamente, a aposta na requalificação dos recursos humanos como o caminho. De acordo com o relatório da CIP, só na zona Norte, “234 mil trabalhadores necessitarão de se requalificar (14% da força de trabalho)”. “Só com a requalificação das qualificações é que este cenário pode ser alterado”, detalha o presidente da Confederação Empresarial de Portugal.
"Há já trabalho feito, mas tem de ser acelerado. Isto porque a mudança é veloz e nós temos de acompanhar a velocidade.”
As empresas, sendo “as principais beneficiárias” da requalificação dos trabalhadores, devem marcar o passo. E, para António Saraiva, o ritmo tem de ser muito mais rápido. “Há já trabalho feito, mas tem de ser acelerado. Isto porque a mudança é veloz e nós temos de acompanhar a velocidade”, refere.
Mas não são só as empresas a fazer parte desta equação. A requalificação de recursos “não deixa de ser um desígnio nacional onde o Estado, através do Governo, terá de ser envolvido”. “O país também sai beneficiado com trabalhadores mais qualificados. Não se pode deixar isso apenas às empresas“, sustenta.
De acordo com o estudo da CIP, os educadores são o último elemento desta trilogia. Se, por um lado, o Governo deve “consciencializar, informar e mobilizar todos os agentes da mudança” e os empregadores devem “planear a força de trabalho, executando iniciativas de requalificação”, por outro, os educadores têm a missão de “adotar novas estruturas de cursos e aumentar o foco em treino baseado em competências”.
As vantagens de requalificar são, para António Saraiva, evidentes. Tendo em conta que, segundo a CIP, o investimento em requalificações tem o retorno de um para sete, “em termos empresariais, isto diz tudo”, remata António Saraiva. “Menores pagamentos com demissões”, “não precisa de contratar novos trabalhadores ao preço de mercado”, “menor mismatch entre tarefas e skills” e o aumento da “pool de trabalhadores para novas tarefas” são algumas das vantagens para os empregadores resultantes da vaga de requalificações que a CIP destaca no estudo.
Ainda assim, nota-se que requalificar os trabalhadores pesa sobre as contas das empresas, uma vez que esses colaboradores têm de “deixar de produzir” em períodos de formação, sendo ainda previsível que se verifiquem “aumentos salariais”. A avaliação geral diz, contudo, que “uma melhoria das qualificações de 10% da força de trabalho está associada a um aumento de produtividade entre 4% e 11% por setor de atividade”.
Do lado do Governo, a CIP defende a adoção de subsídios à formação, salientando que a requalificação da força de trabalho deverá resultar em “menores pagamentos de subsídios ao desemprego” e num “maior crescimento económico” do país.
Finalmente, para o trabalhador, o alvo da requalificação, os benefícios prendem-se com “mais oportunidades de emprego, aumento de salário, fazer tarefas menos repetitivas e maior satisfação com o emprego”.
Este relatório sobre o impacto da automação na zona Norte do país surge na sequência do estudo publicado em janeiro sobre o impacto da automação em todo o país e de um outro publicado em maio, que incidia sobre a zona Sul de Portugal. Recorde-se que, de acordo com o relatório que avaliava a situação global do país, metade das horas trabalhadas em Portugal são suscetíveis de serem substituídas por processos automatizados. Em contrapartida, poderão vir a ser criados entre 600 mil e 1,1 milhões novos postos de trabalho.
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