Diana Policarpo, uma artista “que vai ao ponto”, vence Prémio Novos Artistas Fundação EDP
O 13ª Prémio Novos Artistas Fundação EDP foi para Diana Policarpo, com a instalação multimédia "Death Grip". Pode ser vista até 9 de setembro na Central Tejo, em Lisboa.
Atrás da cortina cinzenta, o ambiente é escuro. Dois ecrãs, imagem real e animação, uma voz que narra uma história, sincronizada com uma composição musical que viaja pela sala, três esculturas sonoras no chão que lembram os rochedos de Dolpa, no Nepal, distribuindo sons graves, a temperatura alterada. É assim Death Grip (2019), a instalação multimédia de Diana Policarpo que lhe deu o Prémio Novos Artistas EDP, anunciado esta terça-feira de manhã no MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa.
Em janeiro e fevereiro, ainda sediada em Londres, onde estudou e trabalhou por quase uma década, Diana Policarpo viajou até Varanasi na Índia, para uma residência artística, e esteve em Dolpa, no Nepal, para mergulhar na vida e percurso do fungo parasita que se aloja em espécies hospedeiras para se reproduzir e nas mulheres que o colhem. De tão raro, converteu-se em mais valioso do que o ouro e, por isso, numa fonte de conflitos e violência. São “a metáfora” e pilar da sua investigação artística – a colaboração, a (in)visibilidade das mulheres, as relações de trabalho e algo “subtil” de ficção científica.
“O fungo apropria-se de outros corpos para se reproduzir e contaminar outras espécies. Death Grip é o momento em que exerce o controlo da mente do hospedeiro e o obriga a mover-se para o local que lhe é propício”, disse Diana Policarpo, 33 anos, aos jornalistas depois de ser anunciada como vencedora do Prémio Novos Artistas Fundação EDP.
“Tento contar uma história sobre o ciclo do fungo, um cogumelo, que tem muita capacidade de resistir e sobreviver, mas é também muito aberto à colaboração com outras espécies. É um trabalho que tenho vindo a desenvolver: observar modos de pensar e viver além do humano e não-western e questionar o papel do género na história do capitalismo”, refere a artista, natural de Lisboa e formada na ESAD – Escola Superior de Artes e Design, nas Caldas da Rainha e com um mestrado na Universidade Goldschmit.
Em 2009, plena crise, Diana Policarpo foi viver para Londres, voltou no final de maio, em pleno Brexit. Conta que “Londres é uma bolha e começa a mandar muitos artistas embora. Portugal é onde quero estar, onde quero investir a minha energia”.
Capacidade de síntese e ir “ao ponto”
“O júri decidiu atribuir o Prémio Novos Artistas a Diana Policarpo pela coerência da pesquisa e do discurso traduzidos numa inovadora instalação multimédia com grande valorização da componente sonora criando um ambiente imersivo que assegura uma grande eficácia na tradução do conceito da artista no espaço”, anunciou Miguel Coutinho, diretor-geral da Fundação, citando a ata do júri internacional.
“Ela consegue fazer uma formalização ao ponto – a narração, a composição de muitos canais, com a sua capacidade de compor música, as animações, projeções… É algo muito inteligente. A gente participa da escultura sonora”, esmiuçou Jochen Volz, diretor-geral da Pinacoteca de S. Paulo e membro do júri.
Sobre Diana Policarpo, Jochen Volz salientou “a capacidade de síntese do trabalho, que tem imensas referências, amplas, mas com uma força e um foco que nos convenceu muito. Tem um vocabulário artístico muito próprio.”
Nesta 13.ª edição do Prémio Novos Artistas, o júri atribuiu ainda uma menção honrosa a Isabel Madureira Andrade “como incentivo à mais jovem concorrente pela energia e técnica reveladas na sua pintura”. Jochen Volz elogiou a “coragem e sensibilidade de inventar novas formas de pintura”. Natural dos Açores, e formada na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, a mais jovem dos finalistas criou uma conversa com o visitante com o seu painel de 12 telas de cores e texturas distintas.
À 13ª edição, 530 candidaturas
O prémio da EDP para os Novos Artistas procura apoiar e dar visibilidade a novos valores da arte contemporânea nacional. E desde 2000, distinguiu Joana Vasconcelos, Leonor Antunes, Vasco Araújo, Carlos Bunga, João Maria Gusmão e Pedro Paiva, João Leonardo, André Romão, Gabriel Abrantes, Priscila Fernandes, Ana Santos, Mariana Silva e Claire de Santa Coloma.
Os seis finalistas desta 13.ª edição foram escolhidos entre 530 candidaturas. “É o retrato da produção de uma geração”, classificou Jochen Wolz, em nome do júri internacional de que também fez parte ao lado de António Mexia (presidente da EDP), Andrea Lissoni (curador sénior da Tate Modern), Natxo Checa (diretor artístico da ZDB), José Manuel dos Santos (diretor cultural da Fundação EDP), o artista luso brasileiro Artur Barrio (vencedor do Grande Prémio Fundação EDP Arte e ausente por motivos de saúde) e do próprio Miguel Coutinho.
Os projetos tiveram a curadoria de Inês Grosso (MAAT), Sara Antónia Matos (Galerias Municipais de Lisboa) e João Silvério (Coleção FLAD). Além de Diana Policarpo e Isabel Madureira Andrade, foram selecionados:
- As fotografias da luso-espanhola Ana Mary Bilbao, a viver entre Lisboa e Londres. A doutorar-se em Estudos Artísticos, passou pela Universidade de Londres e pela Ar.Co, onde estudou pintura e cinema. Está representada nas coleções de António Cachola e Figueiredo Ribeiro assim como coleções privadas em Espanha, França, Inglaterra, Alemanha e Brasil.
- A pintura de grandes dimensões de Dealmeida Esilva, artista que se desdobra entre Lisboa e Zurique. Mudou-se para a Alemanha após a licenciatura em Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Entre 2010 e 2017 viveu entre Hamburgo, Berlim, Leipzig e os Alpes. Além de Portugal e Alemanha, já expôs na Suíça, República Checa e nas Filipinas.
- O mapa militar de Lisboa que deu origem a várias áreas suburbanas e foi o ponto de partida da obra de Mónica de Miranda, investigadora de pós-doutoramento no Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa. Licenciou-se em Artes Visuais na Camberwell College of Arts (Londres, 1998) e fez o doutoramento na Universidade de Middlesex (Londres, 2014). Foi bolseira de doutoramento e pós-doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. É uma das fundadoras do centro de residências artísticas Hangar (Lisboa, 2014).
- Os vídeos e memória resgatados por Henrique Pavão no seu trabalho – um triângulo de viagens no espaço e no tempo. Atrás da pegada do artista Robert Smithson no México, o português fotografou o hotel que o norte-americano viu degradado e em renovação contrapondo-o à passagem do tempo na pirâmide de Yucatán. Licenciado em escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, em 2013, prosseguiu os seus estudos com uma bolsa da Fundação Calouste Glubenkian, entre 2014 e 2016, concluindo o mestrado em Artes Visuais na Malmö Art Academy, onde estudou sob a orientação do artista dinamarquês Joachim Koester. Vive e trabalha em Lisboa.
“Conseguimos uma ótima exposição”, disse Diana Policarpo na hora dos agradecimentos. Pode ser vista até 9 de setembro na Central Tejo.
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