Economistas antecipam sucesso de Lagarde no BCE apesar de surpresa com nomeação
Apesar da sua nomeação para o Banco Central Europeu ter sido uma "surpresa", os economistas ouvidos pela Lusa antecipam que Christine Lagarde deverá ser bem-sucedida nesse cargo.
Os economistas ouvidos pela Lusa consideram que Christine Lagarde reúne as características necessárias para suceder a Mario Draghi e ser bem sucedida como presidente do Banco Central Europeu (BCE), apesar de alguma surpresa na escolha.
“Tem indiscutivelmente experiência internacional na área económica e financeira muito relevante. Os anos que esteve à frente do Fundo Monetário Internacional (FMI) e o tempo que esteve antes no setor privado e no governo [de Nicolas Sarkozy] dão-lhe seguramente os conhecimentos técnicos e políticos necessários para a condução do exercício de presidente do BCE”, afirmou à Lusa Joaquim Miranda Sarmento, economista e professor de Finanças do ISEG – Lisbon School of Economics & Management.
No entender do economista, a atual diretora-geral do FMI “vai ser uma boa presidente do BCE dentro da linha daquilo que Mario Draghi fez”, tendo “seguramente as condições necessárias para o fazer”.
Na terça-feira, os chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) chegaram a acordo sobre as nomeações para os cargos institucionais de topo, designando Lagarde para a presidência do BCE. Para Pedro Lino, economista e administrador da Dif Broker e da Otimize, “Christine Lagarde é uma escolha nova, que não estava planeada, e é mais uma política”.
Em declarações à Lusa, o economista antecipou que a antiga ministra francesa terá “um estilo provavelmente novo”, partilhando que “seria bom que Christine Lagarde pudesse seguir um rumo diferente [do de Mario Draghi] quando a economia da zona euro o permitisse”.
“Sou um pouco crítico do perfil e da política que Mario Draghi seguiu, que foi uma política de redução de taxas de juro, de taxas de juro negativas nos depósitos, e [Draghi] não aproveitou a recuperação da economia europeia para normalizar ligeiramente as taxas de juro e ter alguma folga”, frisou Pedro Lino, criticando ainda que, “nos últimos anos, o BCE serviu de bombeiro de todos os decisores políticos que eram incapazes de tomar decisões”.
No mesmo sentido, João Duque, economista e professor catedrático do ISEG, considerou que Lagarde “é uma pessoa muito experiente, que acumula a experiência de ter sido ministra e diretora-geral do FMI”, apesar de admitir que preferiria alguém com formação económica e financeira de base que acumulasse depois essa experiência.
Lagarde tem uma licenciatura em Direito e uma pós-graduação em Ciência Política e começou a exercer advocacia em 1981, contratada pelo escritório internacional de advogados Baker & McKenzie, no qual trabalhou como especialista em questões laborais, de concorrência e fusões e aquisições.
João Duque antecipou que Lagarde terá muito peso no BCE sobretudo “ao nível da representação da instituição e no uso muito comedido da palavra”. “As palavras que se usam, a seriedade que se põe na transmissão da comunicação é fundamental, e eu acho que ela tem essas características que são muito pessoais”, afirmou, acrescentando que a “forma de estar e de enfrentar o mercado e de transmitir a comunicação que se faz com seriedade, a firmeza e a independência”, que considera que Lagarde tem, tornam-na “capaz de fazer um excelente papel”.
Para Joaquim Miranda Sarmento, “não há insubstituíveis nem pessoas certas logo à cabeça”, mas, no entender do economista, no espetro europeu, não sendo escolhido um governador de um dos bancos centrais nacionais da zona euro, “Christine Lagarde é indiscutivelmente uma das pessoas mais capacitadas para o cargo”.
Questionados sobre se a nomeação da atual diretora-geral do FMI, conhecida na terça-feira, foi uma surpresa, uma vez que não figurava entre os nomes mais citados para suceder a Mario Draghi, os economistas ouvidos pela Lusa afirmaram que sim, frisando que também os mercados estão a dar sinais dessa surpresa.
“Acabou por ser um bocadinho uma surpresa porque exercendo funções no FMI a um alto nível acaba por ser uma mudança não esperada. O expectável seria que fosse um dos governadores dos bancos centrais nacionais a suceder a Mario Draghi. Lagarde nunca apareceu nas notícias como hipótese, mas não deixa de ser à partida uma boa escolha”, disse Joaquim Miranda Sarmento.
“Para mim foi uma surpresa, porque esperava que a Alemanha quisesse que o seu ‘delfim’ Jens Weidmann fosse o novo presidente do BCE, que teria uma atitude mais conservadora, ou seja, normalizaria mais depressa a política monetária. Talvez por isso é que os mercados estão a reagir fortemente em alta porque foi uma decisão que não era esperada”, considerou Pedro Lino.
Na mesma linha de pensamento, João Duque afirmou que é costume “ver o presidente do BCE com um perfil um pouco mais técnico”, mas o economista considerou que Lagarde seria “sempre uma pessoa que se esperaria que pudesse ser candidata a vários lugares de grande prestígio, como por exemplo Presidente da França”.
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