Entrei na faculdade, e agora? Que opções de alojamento têm os estudantes?

Um quarto privado ou partilhado, uma residência de estudantes privada ou pública ou até viver com um idoso. São várias as opções que os estudantes têm, mas nem todas são acessíveis a qualquer bolso.

Com o arranque das aulas à porta, é altura de os universitários começarem à procura de um quarto. Não só pelo convívio, mas principalmente por ser a opção mais barata. Ainda assim, cada vez é mais caro encontrar um quarto acessível ao bolso de qualquer família, principalmente em Lisboa e no Porto. A solução podia ser uma residência de estudantes pública, mas há falta de camas. Quais são, então, as opções que os estudantes têm?

Lisboa recebeu, no ano passado, mais de dez mil estudantes universitários, enquanto pouco mais de oito mil rumaram ao Porto, de acordo com os dados da Direção-Geral de Ensino Superior (DGES). Este ano, os números devem ser um pouco superiores, já que as faculdades das duas cidades vão aumentar em 15% as vagas de cursos com médias mais altas, como é o caso de medicina.

Ou seja, Porto e Lisboa deverão receber, este ano, cerca de 20 mil alunos, dos quais a esmagadora maioria precisa de um lugar para ficar. As candidaturas ao ensino superior arrancaram a 17 de julho, com mais de 51 mil vagas em todo o país, e encerraram esta terça-feira. A primeira fase recebeu 51.291 candidaturas, o que representa um aumento de 1.666 candidatos face ao ano anterior. Os resultados só começam a ser conhecidos no início de setembro, mas há quem prefira não esperar até lá para começar a procurar alojamento.

A corrida aos quartos. Preços rondam os 410 euros em Lisboa e 310 no Porto

A opção mais comum dos estudantes é arrendar um quarto. Grupos no Facebook, Olx ou Custo Justo são alguns dos recursos mais utilizados para encontrar alojamento. Mas há também quem recorra à Uniplaces, plataforma fundada em 2012 por Miguel Amaro que verifica todos os alojamentos antes de os anunciar online.

De acordo com dados cedidos pela empresa ao ECO, o preço médio dos quartos na Invicta, no primeiro semestre, foi de 310 euros, mas há zonas onde os preços são bastante superiores. A zona da Sé é a mais cara, com um custo médio de 532 euros, à frente de Santa Marinha (377 euros) e Massarelos (360 euros). Mas também há zonas mais baratas, como Lordelo do Ouro (251 euros) e Pedrouços (276 euros).

Mais a sul, em Coimbra, os quartos são mais baratos, em média custam 208 euros. Assim como no Porto, há também zonas onde o valor médio é superior ao da própria cidade. Montes Claros é a mais cara, com uma média de 255 euros, à frente do Cidral, com 237 euros. Depois há zonas mais baratas, como os Olivais e Boavista onde o valor médio é de 150 euros por quarto.

Por fim, em Lisboa, o valor médio da cidade é 100 euros superior ao do Porto — 410 euros. Contudo, também há zonas que ultrapassam essa fasquia, como o Marquês de Pombal, com um custo médio de 519 euros por quarto, e o Saldanha (483 euros). As zonas mais baratas para arrendar um quarto na capital são a Ajuda (343 euros), Campolide e Arroios (ambos com uma média de 369 euros).

Quarto partilhado para arrendar a raparigas no centro histórico de Lisboa, por 200 euros por mês, por pessoa.Idealista

Uma visita pelo portal Olx, Custo Justo e até mesmo na Uniplaces mostra que há quartos com mensalidades de 800 ou até 1.000 euros, e não são necessariamente nos centros das cidades. As despesas podem, ou não, estar incluídas, assim como o contrato e os respetivos recibos de arrendamento podem não ser uma opção — uma consulta em vários grupos de arrendamento de quarto/casa no Facebook mostra que muitos senhorios praticam arrendamentos ilegais para evitarem as tributação sobre as rendas.

Encontrar um quarto abaixo dos 200 euros é raro mas, quando estes existem, são partilhados com duas ou três pessoas. Esta é uma opção cada vez mais comum usada pelos senhorios, que optam por colocar no mesmo espaço várias camas ou beliches, de forma a rentabilizar o espaço.

Residências privadas: Mais conforto… e mais caras

Com o mercado ao rubro, começaram a entrar no país empresas com o objetivo de construir e implementar residências estudantis. O problema é que, na maior parte delas, embora os quartos tenham melhores condições, os preços são superiores aos praticados pelo mercado. Exemplo disso é a Inlife, em Lisboa, que oferece quartos entre os 350 e os 500 euros, mas também apartamentos T1 a custar cerca de 700 euros. Por uma taxa de 24,5 euros, o estudante vai com os responsáveis visitar três hipóteses de imóveis, o chamado Housing Trip.

Outro exemplo é a LivinLisbon, com uma residência no Marquês de Pombal e outra no Bairro Alto, que oferece quartos entre os 320 e os 670 euros por mês, incluindo despesas. Outra opção é a Lisbon Rooms, com quartos entre os 325 e os 385 euros. Já a ChaletJulia tem quartos entre os 560 e os 600 euros mensais, com casa de banho privativa e que podem ficar mais baratos quando partilhados com alguém.

ChaletJulia: Quarto com 17 metros quadrados a partir de 150 euros por semanaChaletJulia

A SPRU Residências Universitárias oferece alojamento em Lisboa, mas também no Porto. São quartos e estúdios, individuais ou duplos, e apartamentos T0 para duas pessoas. Enquanto na capital os preços variam entre os 470 e os 710 euros mensais, no Porto são um pouco mais baixos — dos 385 aos 796 euros por mês.

Outra opção é a Residência Universitária COFRE, do Cofre de Previdência dos Funcionários e Agentes do Estado, que visa acolher estudantes, desde que sejam associados. Há duas residências, uma no Porto e outra em Lisboa, com preços diferentes e onde os alunos são separados por sexo. Na capital, o edifício tem capacidade para 28 estudantes e os preços variam entre os 290 euros (quarto triplo) e os 370 euros (quarto individual). Já no Porto, onde há apenas quartos individuais, as mensalidades são de 370 euros, exceto em dois quartos mais pequenos onde o valor cai para os 250 euros.

Depois há opções mais luxuosas, com por exemplo a britânica Collegiate, presente no Reino Unido e em Espanha. Localizada no Marquês de Pombal (vai em breve para o Porto), arrenda estúdios por semestre ou por um ano letivo completo. A residência, inaugurada em janeiro do ano passado, oferece aos estudantes uma sala de fitness, piscina e cinema, um lounge com sala de jantar, lavandaria, zonas de estudo e uma biblioteca.

No caso do primeiro semestre, um estúdio com cerca de 15 metros quadrados, casa de banho privativa, kitchenette e televisão começa nos 994,5 euros mensais. A opção mais cara é o estúdio penthouse, no topo do edifício e com terraço, com cerca de 30 metros quadrados, e todas as condições do anterior, que custa cerca de 1.634 euros mensais.

Collegiate: Estúdio com cerca de 15 metros quadrados, casa de banho privativa, kitchenette e televisão tem um custo de 994,5 euros mensais.

Estas são algumas das residências de estudantes disponíveis nas duas principais cidades do país mas, em breve, vão juntar-se outras. A espanhola Nexus quer ter em Portugal dez residências até 2021, em Lisboa, Porto, Coimbra e Braga. Reabilitar edifícios é uma hipótese, mas construir também está em cima da mesa, disse ao ECO Christopher Holloway, managing director da Nexo Residencias em Espanha.

No final do ano passado, a TPG Real Estate e a Round Hill Capital adquiriram um terreno na zona do Campo Pequeno onde vão construir habitações, mas também uma residência para estudantes. O projeto vai ter capacidade de 390 camas para estudantes, onde estarão incluídas áreas de estudo e de lazer para os estudantes. Depois de construída, esta vai ser gerida pela Nido Student.

Na alta de Lisboa está também a nascer um novo projeto, pelas mãos da Solyd, que vai investir 200 milhões de euros. A empresa vai lá construir 500 apartamentos, mas haverá ainda residências para estudantes e coliving.

Fazer companhia a um idoso a troco de um quarto

Outra opção mais peculiar, e pouco conhecida pelos estudantes, é a possibilidade de partilhar casa com um idoso. No Porto e em Coimbra já há programas próprios criados para esse efeito. A ideia é o idoso disponibilizar a casa ao estudante e este contribui, através da sua companhia, para a “diminuição do sentimento de solidão e de isolamento”.

A Câmara do Porto juntou-se à Associação Académica do Porto (FAP) para criar o Programa Aconchego, uma iniciativa que visa “apoiar e promover o bem-estar dos mais velhos, através do alojamento de estudantes universitários nas suas casas”, lê-se no site da FAP. Podem inscrever-se seniores até aos 60 anos e estudantes entre os 18 e os 35 anos, que não residam no concelho do Porto.

Ao ECO, a Câmara do Porto adiantou que, entre 2004 e 2019, integraram o Programa Aconchego 212 pares, dos quais 17 dizem respeito ao ano letivo de 2018/2019.

Em Coimbra, nasceu em 2009 o Projeto Lado-a-Lado, coordenado pelo Centro de Acolhimento João Paulo II em parceria com a Associação Académica de Coimbra (AAC). Contudo, no site da Universidade de Coimbra, lê-se que, “apesar de o projeto estar a ser muito bem recebido” desde que foi criado, não há idosos suficientes “para dar resposta a todos os estudantes”. Nesse sentido, apela-se à “urgente colaboração” de sete pessoas idosas que queiram acolher e receber estudantes como companhia.

Faculdades têm residências mais baratas. Mas só 9% conseguem entrar

Para quem não tem possibilidades de pagar por um quarto nas residências já referidas, há sempre a possibilidade de ficar alojado na residência da própria faculdade, cujos preços são bastante mais em conta. A Universidade Nova de Lisboa (UNL), por exemplo, oferece aos estudantes três residências universitárias. A Residência Alfredo de Sousa, em Campolide, tem 180 camas disponíveis com mensalidades que variam entre os 212 euros (quarto duplo com WC partilhado) e os 395 euros (quarto individual com WC privado).

Na Alta de Lisboa, a Residência do Lumiar disponibiliza 70 camas, cujos preços variam entre os 212 e os 395 euros. Já no Monte da Caparica, a Residência Fraústo da Silva disponibiliza 210 camas com mensalidades entre os 179 euros e os 330 euros. No caso da UNL, estes alojamentos destinam-se a alunos da licenciatura e mestrado, investigadores e professores. Na atribuição dos quartos é dada prioridade aos alunos bolseiros e de Erasmus.

Residência Alfredo de Sousa, UNLUNL

No caso do ISCTE, que conta apenas com uma residência estudantil, há menos de 100 camas disponíveis e os preços variam entre os 175 euros (quartos quádruplos com WC privado) e os 250 euros (quarto duplo com WC privado). A faculdade oferece ainda a possibilidade de ter um desconto de 5% quando o estudante efetuar o pagamento do semestre ou do ano letivo na totalidade.

Já a Universidade de Lisboa oferece 19 residências universitárias, desde o Lumiar, a Benfica, passando pelo Campo Grande. De acordo com o site da própria universidade, os preços dos quartos nestas unidades começam nos 75,06 euros para alunos bolseiros e nos 140 euros para não bolseiros.

Mais a norte, a Universidade do Porto oferece nove residências, cujos preços começam nos 75 euros para estudantes bolseiros e nos 160 euros para não bolseiros. Os estudantes de doutoramento, pós-doutoramento, mestrado e investigares têm de pagar valores superiores.

O Instituto Politécnico do Porto conta com cinco residências, uma delas feminina e outra masculina, cujos quartos variam entre os 76 euros (quarto triplo) e os 85 euros (quarto individual) para alunos bolseiros e os 105 e os 125 euros para não bolseiros.

Residência do Rio Bom, Instituto Politécnico do PortoD.R.

A Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP) é um exemplo de uma faculdade que não dispõe de residência universitária, contudo, oferece aos estudantes bolseiros deslocados um complemento de alojamento de entre 25 a 35% do salário mínimo nacional. Os alunos devem apresentar uma cópia do contrato e dos recibos de arrendamento.

Apesar de praticamente todas as faculdades terem uma residência universitária, o problema é que estes números continuam a ser insuficientes para dar resposta às necessidades de todos os estudantes. De acordo com um estudo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), citado pelo Diário de Notícias, apenas 9,2% conseguem ficar alojados numa residência estudantil em Lisboa e 9,7% no Porto.

Governo reconhece falta de camas. Solução? Reabilitar edifícios

Tendo em conta esta baixa taxa de colocação, e dado que os preços praticados pelo mercado são elevados para os estudantes, continua a haver uma carência de camas, um problema que já foi admitido pelo próprio Governo e para o qual já estão a ser tomadas medidas.

Até 2030, o Ministério do Ensino Superior quer duplicar o número de camas para estudantes até às 30.000, através do Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES), que prevê a criação de 11.500 camas para estudantes universitários em 42 concelhos do país. Para Lisboa irão mais de 6.000 camas, cerca de dois terços, ficando o Porto com 1.650. Já este ano letivo, a capital vai ter mais 186 camas numa primeira fase, instaladas na recentemente inaugurada Residência Universitária da Ajuda, e 120 numa segunda fase.

Outra medida que integra o PNAES é a reabilitação e reconversão de edifícios devolutos do Estado em residências para estudantes. Na lista de imóveis identificados pelo Governo em 18 concelhos estão edifícios como as pousadas da juventude da Guarda, Leiria, Portalegre e Vila Real, o antigo edifício do Instituto de Meteorologia, em Lisboa, e as cavalariças do Palácio das Laranjeiras, em Lisboa. Destaque ainda para a prisão de Lisboa, propriedade da Estamo, que vai receber uma residência para estudantes.

À lista somam-se ainda imóveis como o Quartel da Trafaria, em Almada, a antiga Escola Secundária D. Luís de Castro em Braga, a antiga Casa dos Jesuítas em Coimbra, o ex-palácio da família Guerreiro e a antiga Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve, ambos em Faro.

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