“Às vezes o caminho é claro, outras não”. Powell deixa porta aberta sobre futuro dos juros nos EUA

A Fed está otimista quanto à economia norte-americana, mas aponta para o elevado nível de incerteza. Após ter cortado juros pela segunda vez este ano, todas as hipóteses estão em aberto.

Os riscos e incertezas são demasiado elevados para a Reserva Federal norte-americana conseguir definir o caminho que os juros de referência nos EUA vão tomar nos próximos meses, apesar de o outlook económico se manter positivo. Foi esta a mensagem do presidente Jerome Powell no dia em que o banco central anunciou o segundo corte de juros este ano.

“Hoje decidimos descer as taxas de juro. Tomámos esta decisão para ajudar a manter a robustez dos EUA, à luz dos notáveis desenvolvimentos e dar segurança contra os riscos futuros”, explicou Powell, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião.

A viver o maior ciclo económico da sua história, os Estados Unidos caminham para o 11º ano de crescimento. Powell lembrou que a economia de expandiu a um ritmo anual de 2,5% no primeiro semestre e a Fed reviu em alta as projeções para o PIB este ano, para 2,2% (contra a estimativa de 2,1% em junho).

Mas se a Fed está tão otimista quanto à economia, o que é que justifica um corte nos juros? “Temos vistos sinais adicionais de enfraquecimento no estrangeiro e o ressurgimento de tensões políticas, incluindo a imposição de tarifas adicionais“, referiu Powell.

Após o anúncio inicial, notas de analistas apontavam para os sinais contraditórios da Fed entre a decisão tomada e o otimismo mostrado, enquanto o próprio presidente dos EUA, Donald Trump fez duras críticas. Na conferência de imprensa, os jornalistas tentaram perceber as motivações e o que é a Fed estava a pensar fazer.

Powell referiu várias vezes que não há um curso definido no que a Fed vai fazer e lembrou que o ano começou com a expectativa de subidas nos juros e que esta posição transitou para os decisores políticos estarem “pacientes”. Em julho, a Fed decidia o primeiro corte de juros desde a crise, mas dizia que era “um ajustamento de meio de ciclo”. Menos de dois meses depois, volta a cortar juros. Neste cenário, o futuro é incerto.

Esta é uma situação invulgar porque a economia dos EUA — a maior parte e a parte do consumo — está forte. A indústria não tanto… mas de forma geral, vemos uma economia com projeções a mostrar crescimento próximos de 2%, o que é um ano sólido. A diferença é que há riscos significativos e reais para o outlook. Não só geopolíticos, mas também a desaceleração do crescimento económico e a política comercial”, explicou Powell.

O presidente da Fed sublinhou que todos estes fatores, as condições dos mercados financeiros e os desenvolvimentos económicos vão ser avaliados a cada momento. “Vamos avaliar os dados económicos. Às vezes o caminho é claro, outras vezes não tanto. Vamos olhar cuidadosamente, a cada reunião, para um grande número de informações e avaliar a orientação política [dos juros] apropriada. Como disse, vamos agir da forma apropriada a sustentar a expansão”.

Para já, a maior parte dos decisores políticos aponta para que os juros de referência se mantenham no intervalo atual entre 1,75% e 2% (já considerando o corte de 25 pontos base anunciado), mas Powell deixou tudo em aberto.

Além dos juros, garantiu que o banco central irá manter a liquidez no sistema financeiro. A Fed foi obrigada a injetar 75 mil milhões de euros no sistema esta quarta-feira, depois de o ter feito também na terça-feira para aliviar a tensão nos mercados monetários. Foi a primeira vez que aconteceu depois da crise, lançando receios de que o financiamento estivesse a secar.

As tensões nos mercados monetários estiveram elevadas esta semana e a taxa de juro real subiu acima da de referência ontem. Apesar destas questões serem importantes para o funcionamento do mercado e para os participantes, não têm implicações na economia ou na política monetária”, referiu Powell, acrescentando que “as operações temporárias foram eficazes”, que foram feitos ajustamentos técnicos e que irá “continuar a monitorizar os desenvolvimentos do mercado e a conduzir as operações necessárias”.

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