Luta interna ao rubro no PSD. Afinal, quem está com quem?

Enquanto Rio mantém-se em silêncio sobre a sua recandidatura à liderança do PSD, os opositores já estão a avançar. Começa a contagem de espingardas.

Para Rui Rio, o resultado conseguido pelos social-democratas nestas eleições legislativas não foi “desastre nenhum”, mas dentro do partido há quem cultive opiniões bem diferentes e até já defenda a substituição da liderança do partido. Depois de ter “desafiado” Rio em janeiro, Luís Montenegro volta agora à carga e já anunciou que será candidato à liderança dos laranjas nas próximas diretas. Além de Montenegro, também devem entrar na corrida Miguel Pinto Luz e, potencialmente, Miguel Morgado. É tempo, pois, de contar espingardar e afiar as facas.

Esta quarta-feira, Luís Montenegro avançou que será candidato à presidência do PSD por uma “questão de coerência e convicção”. “Cada um tem de assumir as suas responsabilidades e eu assumo a minha. Serei candidato nas próximas eleições diretas que serão convocadas nas próximas semanas”, disse o ex-líder parlamentar, em entrevista à SIC. Para Montenegro, o resultado conseguido no domingo pelo PSD (27,9% e 77 deputados) foi mau e resulta de uma falha na estratégia política do PSD, daí que se propunha agora para a liderança do partido.

Montenegro já tinha “desafiado” Rui Rio, em janeiro, quatro meses antes da primeira ida às urnas (as Eleições Europeias) do PSD enquanto partido liderado por este último. Nessa ocasião, Rui Rio antecipou-se com uma moção de confiança, que acabou por ser aprovada, levando Montenegro a adiar as suas pretensões. Os fracos resultados nas Europeias (o PSD conseguiu apenas 22%) e nas Legislativas (os tais 27,9%) fizeram, contudo, Montenegro regressar à carga, tendo por isso anunciado a sua participação na corrida às rédeas do partido laranja.

Um dos nomes que veio afirmar que considera “fundamental” que o partido tenha uma “nova liderança, uma nova equipa” para se preparar para as Eleições Autárquicas, foi Miguel Relvas. Em declarações à TSF, o antigo ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares sublinhou que este é o momento para aparecerem alternativas a Rui Rio, tendo apontando os nomes de Paulo Rangel e Luís Montenegro.

Em defesa do nome de Montenegro saiu Paulo Cunha. O autarca mais votado do PSD mostrou-se “surpreendido” com a reação de Rui Rio ao resultado das Legislativas — tendo considerado que está em causa “uma derrota estrondosa. “Acho que [Montenegro] tem toda a legitimidade para se candidatar à presidência do PSD e ao longo de todo este percurso tem dado sinais claros de que está concentrado na construção de condições para que o PSD volte a ser protagonista em Portugal”, disse. Já sobre Rio, sublinhou que o atual líder do partido “não tem condições” para voltar a conquistar o lugar destaque em questão.

Também em apoio de Luís Montenegro está Alexandre Gaudêncio, presidente do PSD Açores. “Julgo que Luís Montenegro é a figura que, na minha opinião pessoal, gera mais consenso neste momento para liderar o partido“, disse. Na perspetiva de Gaudêncio, Montenegro é o que o PSD “precisa”. “É alguém que tem carisma, trabalho demonstrado, neste caso como líder parlamentar e que congrega em si uma nova esperança para o PSD nacional, que valoriza o todo nacional, onde se inclui os Açores”, reforçou.

Pedro Duarte é outro dos nomes a apoiar Luís Montenegro, defendendo que o partido precisa de “novos protagonistas”. “Luís Montenegro é claramente a pessoa que tem melhores condições, melhor perfil para conseguir liderar este novo momento da vida política do PSD”, declarou.

Também Almeida Henriques, autarca de Viseu, defendeu uma “mudança de página” rápida no seio do PSD, lembrando que não houve nenhum líder deste partido com um resultado inferior a 30% nas Legislativas que não tivesse colocado o lugar à disposição. “É preciso uma direção que possa batalhar por vitórias e não alguém que não só não consegue ganhar, como anda a encanar a perna à rã”, apontou.

Pinto Luz prepara-se para a corrida

Nesta disputa em torno da liderança do PSD, deverão participar também Miguel Morgado, que estará a recolher apoios antes de prosseguir com a candidatura, e Miguel Pinto Luz — vice-presidente da Câmara de Cascais. Resta saber o timing em que esses nomes avançarão e se Rui Rio se juntará a eles ou se fará como Assunção Cristas e cederá o seu lugar.

Para já, também Miguel Pinto Luz já conta com vários nomes notáveis do partido a mostrar o seu apoio. É o caso de José Eduardo Martins, que foi apoiante de Rui Rio, mas que se distanciou nos últimos tempos. A Pinto Luz, José Eduardo Martins elogia “as qualidades mais abrangentes” e a experiência executiva “notável” na autarquia de Cascais, ainda que reconheça que Rio tem “toda a legitimidade para se candidatar”.

Também o atual autarca de Cascais apoia Pinto Luz, defendendo que Rui Rio deve esclarecer o mais rapidamente possível se vai ou não recandidatar-se, isto é, considera que a reflexão do atual presidente do PSD “deveria ter um tempo curto”. Sobre o vice-presidente da autarquia que lidera, Carlos Carreiras diz: “É um jovem quadro do PSD, muito bem preparado, trabalhamos juntos há imenso tempo, tem capacidade de trabalho e de conhecimento e soube rodear-se de uma geração mais nova”.

A estes dois nomes, somam-se o de José Matos Rosa, ex-secretário-geral do PSD, e Vasco Rato, que escreveu no Jornal de Notícias: “Militantes como Miguel Pinto Luz dinamizarão a mudança que o país, fustigado por políticas anacrónicas que nos conduziram à estagnação económica e à paralisia social, não pode dispensar“. O presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, também apoia Pinto Luz, considerando-o “um dos melhores da sua geração no PSD”.

É urgente mobilizar militantes afastados, diz Cavaco

Face aos “fracos” resultados conseguidos pelo PSD na ida às urnas deste domingo, o antigo Presidente da República Cavaco Silva disse-se entristecido e defendeu que é urgente mobilizar os militantes que se afastaram ou foram afastados, apontando o nome da ex-ministra Maria Luís Albuquerque.

“A tarefa mais importante e urgente que o PSD tem agora à sua frente é a de reconstruir a unidade do partido e de mobilizar os seus militantes [e trazer] ao debate das ideias e ao esclarecimento e combate político os militantes que, por razões que agora não interessa discutir, se afastaram ou foram afastados”, sublinhou Cavaco Silva, numa declaração escrita.

“Como é o caso de Maria Luís Albuquerque, uma das mulheres com maior capacidade de intervenção, que conheci durante o meu tempo de Presidente, e muitos outros”, acrescentou, apoiando uma eventual candidatura da ex-ministra das Finanças à liderança dos laranjas. Até ao momento, a social-democrata ainda não se chegou à frente.

O outro lado da disputa

Do outro lado desta luta interna no seio do partido laranja, estão os apoiantes de Rui Rio, entre os quais está Nuno Morais Sarmento. O vice-presidente do PSD salienta: “Reconheço outra competência técnica, outra experiência, até outra capacidade de merecer a confiança dos portugueses a Rui Rio do que a Montenegro”. Morais Sarmento mantém-se, assim, confiante na liderança de Rio, considerando que, até agora, não conheceu alternativas e acrescentando que seria “irresponsável” levar o PSD para eleições antes de haver um Governo formado. “Não é o CDS-PP, é o segundo partido [mais votado]. É o partido que o país olha como alternativa”, enfatizou.

Também Mota Amaral está do lado de Rui Rio, considerando que, se este se recandidatar, é provável que seja reeleito. Num artigo de opinião publicado na imprensa regional, o antigo presidente da Assembleia da República e cofundador do PSD, sublinhou que as alternativas estão ainda “muito próximas do passos-relvismos” e, portanto, estão “carimbadas pelo seu insucesso”.

Do mesmo modo, Ângelo Correia reconhece a existência de problemas no PSD, mas apoia Rui Rio. O resultado “não foi tão grave, como se pode dizer. Para mim, as questões são, apesar de tudo, outras. Em primeiro lugar, o próprio PSD anda há alguns anos em convulsões internas, que não pode nem deve ter, se quer ser um partido de referência. Face a todas as pessoas que eu tenho visto candidatas a líderes do PSD, é indiscutível que Rio é o melhor“, defendeu.

Também Manuela Ferreira Leite defendeu Rui Rio, sublinhando que, se este não continuar na liderança, “o PSD esfrangalha-se”. Para Ferreira Leite, quem está a desafiar Rio ainda não provou que podia fazer melhor, face às atuais circunstâncias. “Se Rui Rio não continuar, o PSD esfrangalha-se. Porque isto que ele conseguiu não vejo agora no horizonte que possa consegui-lo”, disse, em entrevista à TVI 24.

Em defesa de Rui Rio está ainda Salvador Malheiro, vice-presidente do PSD. “Tenho a certeza absoluta de que Rio é o militante com mais condições para continuar à frente do partido”, disse, em declarações no Fórum TSF.

Já na opinião de José Ribau Esteves, conselheiro nacional do PSD, mudar de líder não recupera o PSD, que está “doente”. O caminho das disputas é, por isso, “negativo”, exigindo-se uma “abordagem sobre o futuro do partido mais profunda que a liderança”, disse.

Por sua vez, Luís Marques Mendes defende que Rui Rio deve recandidatar-se na próximas eleições internas do partido, para clarificar posições. “Acho que Rui Rio devia recandidatar-se a novo mandato. O PSD tem eleições marcadas em janeiro. Acho que o mais clarificador para a vida do PSD, independentemente do resultado [das legislativas deste domingo], era recandidatar-se”, declarou à Lusa, referindo que Rio “esteve bem na campanha eleitoral”, apesar da liderança não ter corrido muito bem.

Também para Pacheco Pereira, Rui Rio “deve ir à luta”. “Pela primeira vez em muitos anos, o PSD arranjou um líder que não é ‘aparelhístico’, que não é dominado por todos os dias pensar qual o lugar que tem a seguir na carreira, que é um tipo sensato, é um tipo com sentido nacional, sentido do interesse nacional e, que de facto, não tem noção do exercício do poder político”, sublinhou.

A propósito, David Justino defende que “não é óbvio” que Rui Rio decida recandidatar-se à liderança dos laranjas. “Acho que o doutor Rui Rio, como já é reconhecido e característico da sua forma de actuar, não vai expressar-se quando existe este coro autêntico de apresentação de candidaturas, de críticas, de ataques, etc. Enquanto isto durar com certeza que ele não vai apresentar [a decisão quanto à recandidatura à liderança do PSD]. Quando ele entender que tem a sua decisão tomada, ele anunciará. Não há tabu nenhum“, afirmou.

Justino considerou, no entanto, que Rio tem condições para “dar continuidade ao projeto” que está em marcha há mais de ano e e garantiu que o partido continua maioritariamente com o atual líder.

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