Inflação está negativa há três meses. Economistas dizem que “fenómeno é passageiro”
Já se registaram três meses seguidos de queda de preços em Portugal. Medidas como a descida do preço dos passes estão na base deste comportamento, mas o efeito será passageiro.
A inflação está em queda há três meses consecutivos, revelam os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Este comportamento pode ser perigoso, segundo os economistas, desmotivando o consumo e impedindo o dinheiro de circular. No entanto, a tendência que se verifica agora é um “fenómeno passageiro”, garantem os especialistas ouvidos pelo ECO.
Em julho, a taxa caiu 0,3%, face ao período homólogo, enquanto em agosto e setembro a descida foi de 0,1%. Estas quedas têm-se sentido, em grande parte, devido a “decisões administrativas” que influenciam os preços, como nota o INE. Medidas implementadas ao longo do ano, em áreas que têm peso no índice, tais como:
- Eletricidade, depois da revisão tarifária e da descida parcial da taxa de IVA,
- Gás natural, com a descida parcial da taxa de IVA,
- Transportes públicos, devido às alterações implementadas nos preços dos passes,
- Manuais escolares, com o alargamento da gratuidade a todos os alunos do ensino público obrigatório.
“Há aqui uma tendência de baixa da inflação em Portugal”. “É verdadeiramente clara”, aponta Filipe Garcia, presidente e economista da Informação de Mercados Financeiros (IMF), já que “não há efetivamente pressões inflacionistas relevantes em Portugal nos últimos tempos”.
A variação da taxa é também a mais baixa da área do euro. Tendo em conta que “a inflação está baixa um pouco por toda a Zona Euro”, estes valores em Portugal, “bastante abaixo dos outros países, refletem essa baixa de preços administrados, mostra também que, se calhar, não sobra assim tanto dinheiro quanto isso aos portugueses, caso contrário havia pressão maior sobre compras”, reitera.
Mesmo assim, o economista não vê que os “portugueses estejam a alterar os seus comportamentos de consumo devido a inflação baixa”. “A teoria diz que, quando estamos perante uma deflação, os consumidores podem-se sentir tentados a não consumir e esperar, por uma altura em que os bens sejam mais baratos. Mas não vejo isso a acontecer nesta altura“, indica Filipe Garcia. Uma situação que caracterizou durante vários anos a economia japonesa, onde o fenómeno de deflação era acompanhado de uma desaceleração.
O economista aponta ainda que “é normal que demore alguns meses a haver reflexo dos cortes na economia”. Por isso, no futuro, “a inflação negativa irá dissipar-se à medida que o efeito destes cortes, por exemplo nos transportes, manuais escolares e telecomunicações, que são ‘one off‘, se dissipem”.
A opinião é partilhada por João Loureiro, professor na Faculdade de Economia da Universidade do Porto. O economista diz ao ECO que estas quedas na inflação só são um mau sinal quando “são acompanhadas de quebra do PIB devido a recessões”, e de uma falta de procura. “Não é o caso, já que a economia portuguesa continua a crescer, portanto é um fenómeno passageiro e temporário”.
Como não está nas previsões um período de desaceleração económica bastante pronunciado, sendo que ainda esta quinta-feira foram conhecidas as estimativas do Conselho das Finanças Públicas, que apontam para um crescimento de 1,9% este ano, e do Banco de Portugal que aponta para uma progressão do PIB de 2%, Filipe Garcia acredita que “voltaremos a registos de inflação baixa, mas positiva”.
Aliás, nas previsões das duas instituições a inflação deverá terminar o ano em terreno positivo. Carlos Costa aponta para 0,4% em 2019, o que compara com 1,2% no ano passado enquanto Nazaré Cabral projeta uma inflação (medida pela taxa de variação do IHPC) de 0,3% para 2019, uma
aceleração para 0,6% em 2020 e uma estabilização em 1,2% no médio prazo.
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