Allianz GI: “EUA vão entrar em recessão em 2020 e a Fed cortar juros não vai fazer diferença”

Neil Dwane, estratega global da gestora de ativos, não tens dúvidas que a economia norte-americana vai contrariar e que cortar juros não vai ser suficiente para relançar a expansão.

O maior ciclo de crescimento económico dos Estados Unidos vai chegar ao fim e o país vai entrar em recessão já no próximo ano. É esta a convicção da Allianz Global Investors (GI), que acredita que a política monetária não será suficiente para relançar a expansão, numa altura em que a Reserva Federal (Fed) norte-americana se prepara para cortar juros pela terceira vez consecutiva.

É muito provável que os EUA entrem em recessão em 2020“, afirmou Neil Dwane, estratega global da gestora responsável por 543 mil milhões de euros em ativos. Num encontro com jornalistas, esta quarta-feira em Lisboa, sublinhou que há, a nível global, uma mudança no paradigma de crescimento económico, que motivou alterações nas estratégias dos bancos centrais.

Após ter normalizado a política monetária ao longo do ano passado — com subidas nas taxas de juro e diminuição dos ativos comprados durante a crise –, a Fed inverteu o curso no verão. No final de julho, cortou os juros pela primeira vez desde 2008 e voltou a fazê-lo em setembro, para o atual intervalo entre 1,75% e 2%. Esta noite poderá realizar o terceiro corte consecutivo, sendo que o mercado atribui uma probabilidade de 90% que o faça.

"No momento em que a Fed vir uma recessão, vai cortar juros e relançar o quantitative easing agressivamente e quando a Fed entrar entrar em pânico, será então que os mercados financeiros vão entrar em pânico.”

Neil Dwane

Estratega global da Allianz GI

No entanto, Dwane acredita que a estratégia não terá impacto. “Mesmo que a Fed corte os juros para zero, não faria diferença porque os consumidores não estão a beneficiar, só os bancos“, sublinhou, apontando para o aumento dos preços dos bens (incluindo do imobiliário) para a população, em comparação o impacto do dinheiro mais barato para o sistema financeiro.

“No momento em que a Fed vir uma recessão, vai cortar juros e relançar o quantitative easing agressivamente e quando a Fed entrar entrar em pânico, será então que os mercados financeiros vão entrar em pânico“, defendeu o estratega.

Depois de 2018 ter sido um ano de fortes perdas para as bolsas, Wall Street tem recuperado ao longo do ano. Ainda esta semana, o índice S&P 500 atingiu um novo máximo, com a perspetiva de um acordo com a China a animarem os investidores. Mas Dwane acredita que os preços estão desajustados porque não têm em conta o impacto que a recessão terá no lucros das empresas, que poderá variar 20% e 50%, dependendo a severidade da crise.

Outro fator que ainda está por identificar o impacto é o protecionismo comercial. A Allianz GI atribui uma probabilidade de apenas 15% de China e EUA reverterem a situação atual. Assim, está tudo em aberto: a gestora vê 45% de possibilidade de um acordo parcial e 40% de uma guerra comercial. “Até ao final do ano, vamos perceber”, diz.

BCE está a cometer um erro

As críticas de Dwane à política monetária não se cingem à Fed e são até mais declaradas em relação ao Banco Central Europeu (BCE). “Taxas de juro negativas são um erro. Não veremos o Reino Unido ou os EUA a cometerem o erro de implementar taxas de juro negativas”, declarou o britânico.

Tal como a Fed, também o BCE respondeu à crise com um programa de estímulos à economia através da compra de ativos e de cortes de juros. Em 2011, começou um ciclo de descidas do preço do dinheiro que só viria a terminar dois anos depois. Pela primeira vez na história, a Zona Euro passou a ter taxa 0% e até juros negativos, na taxa de depósitos. Estes mínimos históricos caíram ainda mais em setembro, quando o BCE cortou a taxa de depósitos para -0,5%.

A estratégia em ambos os lados do Atlântica foi implementada pela primeira vez em larga escala no Banco do Japão, ainda nos anos 1990. Segundo Dwane, o Japão é o exemplo de que “não faz diferença” sem “reformas estruturais e sem eliminar as empresas e bancos zombies”.

Até que a Zona Euro limpe os bancos, a economia vai continuar a ter um desempenho abaixo do esperado. O sistema financeiro ainda está muito insolvente“, afirmou, explicando que não investe na banca desde 2008. “Não vejo qualquer razão para investir em bancos neste momento”.

Neste cenário de baixo crescimento, políticas monetárias não convencionais, em que “não há garantias de retornos dos ativos” e em que “a dívida está super sobreavaliada”, então onde é que se conseguem ganhos? “Os temas funcionam melhor que as geografias“, defendeu o estratega, que acredita que há seis grandes tendências globais que irão marcar os investimentos: urbanização, tecnologia, escassez de recursos, sustentabilidade, demografia e economia animal.

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