Lime desiste dos carros, mas não de Portugal. Quer ir para o Porto

No dia em que a Lime lança o LimePass, um passe semanal para trotinetas elétricas em Lisboa, o diretor-geral da empresa revela ao ECO a intenção de continuar em Portugal. E lançar o serviço no Porto.

A Lime anunciou em agosto o fim do negócio em Coimbra e revelou estar a repensar a estratégia para o mercado português. Cinco meses depois, Alvaro Salvat, diretor-geral da empresa de trotinetas elétricas em Portugal e Espanha, garante que a empresa não tem planos para deixar o país, apesar de alguns concorrentes terem optado por sair.

No dia em que anuncia o lançamento do LimePass em Portugal, um passe semanal de 4,99 euros que permite aos utilizadores desbloquear as trotinetas gratuitamente e pagar apenas a duração da viagem, o líder da Lime confessa ainda que a empresa já não vai ter carros elétricos partilhados no país. E critica a decisão da Câmara Municipal do Porto de obrigar ao recolher das trotinetas ao fim do dia e à gestão da operação só com veículos elétricos.

A norte-americana Lime entrou no mercado português no final de 2018, sendo a primeira deste tipo a operar em Lisboa. Poucos meses depois, chegaram a ser mais de uma dezena de empresas de trotinetas a explorar este negócio na capital portuguesa, motivando críticas dos transeuntes por alguns utilizadores não se preocuparem em estacioná-las nos locais apropriados.

Face ao vandalismo e à dificuldade em gerar receitas devido à vasta oferta, os suecos da Voi foram os primeiros a decidir sair de Portugal. Decisões semelhantes foram igualmente tomadas pela Tier e por outras, enquanto a Bird, uma das principais concorrentes da Lime noutros mercados, suspendeu as operações até à primavera.

“Encaramos tanto a entrada como a saída de operadores das cidades com bastante naturalidade. Operar em Lisboa supõe um custo operacional elevado e, para subsistir, é necessário ser-se eficaz”, diz Alvaro Salvat ao ECO. Reconhece que “deixar Coimbra foi uma decisão dura, mas tomada com consciência” e garante “continuar a acreditar no potencial da cidade”. “Vemos esta situação como um processo de aprendizagem: a criação de um ecossistema forte e sustentável na região Centro implica uma estratégia concertada com mais entidades locais”, refere.

No entanto, apesar de ter anunciado a reflexão em torno da expansão do negócio em Portugal, o diretor-geral da Lime no mercado ibérico garante que a Lime está em Portugal para ficar. “Sair de Portugal não faz parte dos planos. A intenção é continuar em Portugal”, garante, apontando como motivos a “aceitação” que o serviço tem tido no país e a “vontade” das autarquias.

Alvaro Salvar é o diretor-geral da Lime no mercado ibérico. Garante que a empresa de trotinetas elétricas não planeia sair de Portugal.Lime

“Gostaríamos de operar” no Porto

A Lime não esconde o desejo de lançar as trotinetas no Porto. No entanto, as regras na cidade invicta, desenhadas já numa altura em que o negócio se tinha massificado em Lisboa, são vistas como mais apertadas. E a empresa tem críticas a fazer.

“O Porto é, obviamente, uma cidade na qual gostaríamos de operar. É uma cidade fantástica, a segunda maior em Portugal. Tem uma área metropolitana muito interessante, apresentando ótimas condições, como, por exemplo, ser uma cidade mais plana, comparativamente a Lisboa”, começa por referir Alvaro Salvat.

No entanto, “no que se refere à legislação”, o gestor vê “dois pontos” que encara “com alguma preocupação”. Entre eles está “o recolher obrigatório” das trotinetas durante a noite. O segundo é a obrigação imposta pelo município de Rui Moreira de que toda a operação seja gerida com veículos elétricos. Apesar das críticas, a Lime “louva” o incentivo do Porto em tentar balizar a operação das empresas de trotinetas. E diz: “Estamos a analisar as condições em que podemos operar para garantir um serviço de qualidade para os habitantes do Porto e um mercado sustentável para nós”.

Quanto a Lisboa, a empresa faz um balanço “bastante positivo” da operação, onde conta com “mais de mil trotinetas” e fechou 2019 com “mais de dois milhões de viagens realizadas” e “mais de dois milhões de quilómetros percorridos”. Recusa, no entanto, revelar o número de utilizadores, “por uma questão de política da empresa”.

Estamos a analisar as condições em que podemos operar para garantir um serviço de qualidade para os habitantes do Porto e um mercado sustentável para nós.

Alvaro Salvat

Diretor-geral da Lime em Portugal e Espanha

Prometeu partilhar carros em 2019. Desistiu

Depois das trotinetas, Lime traz carros para Lisboa em 2019. A promessa foi feita pela Lime quando entrou no mercado português em 2018. Chegados a 2020, a empresa ainda não tem um serviço de car sharing no país. Nem vai ter, revela Alvaro Salvat ao ECO.

O que correu mal? “Neste momento não temos planos para lançar novos produtos em Portugal, por dois motivos: porque existem outras empresas focadas nessa vertente e, sobretudo, porque acreditamos que as trotinetas são o nosso melhor produto. Temos uma equipa focada no desenvolvimento de software e hardware das trotinetas e o objetivo é entregarmos o melhor produto aos nossos utilizadores”, aponta o gestor.

Um dos focos desse desenvolvimento é tentar melhorar a sustentabilidade das trotinetas. Empresas como a Lime erguem a bandeira de que, por serem veículos elétricos, são mais ecológicos do que outros meios de transporte. Mas têm sido levantadas dúvidas, devido à pegada ecológica do fabrico das baterias e o facto de as trotinetas partilharas terem curtos tempos de vida útil.

“Estamos conscientes de que algumas vozes mais céticas põem em causa a durabilidade das trotinetas e, consequentemente, a sustentabilidade da sua operação. Mas importa, neste contexto, explicar que a indústria está empenhada em tornar os equipamentos duráveis e, atualmente, a expectativa de vida útil dos modelos mais recentes ultrapassa um ano de uso intensivo”, garante Alvaro Salvar. Além disso, a Lime garante que, sempre que uma trotineta não pode ser reparada, as peças são usadas para reparar outras trotinetas.

Outro ponto são as deslocações que a equipa tem de fazer para reagrupar as trotinetas ou recarregar as baterias. “Relativamente ao processo logístico, existem opções que permitem minimizar o impacto da operação para o ambiente, por exemplo as bicicletas de carga de que dispomos em Lisboa”, contrapõe.

Correção: A frota da Lime em Lisboa tem “mais de mil trotinetas” e não “mais de 3.000”, como indicava uma versão anterior deste artigo. Aos leitores e à visada, as nossas desculpas.

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