Qual a melhor receita para preparar a sua reforma? Siga estas nove regras

Com o aumento da esperança média de vida, sai reforçada a necessidade de preparar já no presente a reforma a receber no futuro. Qual a melhor receita para obter uma almofada confortável? O ECO ajuda.

Os portugueses vivem cada vez mais tempo. Só na última década, a esperança média de vida à nascença aumentou um ano e meio, fixando-se nos 80,8 anos. E esse salto tem vindo a reforçar a necessidade de preparar durante a vida ativa a reforma a receber no futuro. É que vai precisar de complementar os seus rendimentos durante mais tempo e, portanto, tem de o planear com mais antecedência e afinco. O ECO reuniu nove regras a seguir para ter sucesso na transformação da poupança de hoje na “almofada” confortável de amanhã.

“Há uns dez anos, na DECO, dizíamos para começar a preparar a reforma a partir dos 40 anos. Hoje já não é assim. A reforma deve começar a ser preparada imediatamente quando se começa a trabalhar“, explica ao ECO António Ribeiro, economista e analista de mercados financeiros da DECO Proteste.

De acordo com Ribeiro, com o aumento da esperança média de vida, subiu também a pressão sobre essa preparação, uma vez que os portugueses terão de “complementar os rendimentos” durante mais tempo. Daí que os cerca de 25 anos de antecedência recomendados há dez anos já não sejam adequados, no quadro presente.

Contas feitas, em 2008, um português tinha, em média, 18,59 anos de vida pela frente aos 65 anos, durante os quais teria de complementar a sua pensão; em 2018, a esperança média de vida aos 65 anos subiu para 19,49 anos, quase mais um ano do que acontecia dez anos antes, reforçando a importância do planeamento financeiro desse período da vida de cada pessoa.

Pedro Lino, economista da Dif Broker e da Optimize, vai mais longe: “Devemos começar a poupar a partir do momento em que nascemos. Os nossos pais devem acautelar o nosso futuro. A poupança deve ser vista como algo mais amplo e com vários objetivos ao longo da vida, entre os quais a reforma“.

Na mesma linha, Filipe Garcia, economista da IMF, salienta que “a dura realidade é que se deve tentar criar essa poupança desde o mais cedo possível”. “Deve haver alguma imaginação neste objetivo, tentando ser mais frugal e evitar gastos desnecessários — normalmente não se deve cortar em coisas pequenas, mas em grandes despesas — e procurar aumentar o rendimento mensal”, afirma.

Tal como António Ribeiro, Filipe Garcia salienta que as pensões no futuro vão assegurar “pouco mais do que os níveis de subsistência”, tornando “crucial a construção de um fundo pessoal de poupança”.

Mas como preparar a reforma? De acordo com António Ribeiro, há três instrumentos disponíveis para tal: Planos Poupança Reforma (PPR), fundos de pensões e certificados de reforma. “Em relação aos fundos de pensões, temos tido bastante críticas, porque as comissões são muito elevadas (chegam aos 10%)”, avisa o economista. “Os certificados de reforma são um fundo igual para toda a gente e as pessoas são todas diferentes, têm riscos diferentes. E os certificados tem muito pouca liquidez”, acrescenta o mesmo especialista. Tudo somado, António Ribeiro aconselha: “O [instrumento] mais interessante são os PPR. Há uma grande variedade, há quase 700 no mercado, uns com capital garantido, outros sem”.

Para quem está longe da reforma (por exemplo, para os portugueses que ainda estão na casa dos 30 anos), o economista da DECO Proteste recomenda escolher um PPR sob a forma de fundo, sem capital garantido e com alguma exposição a ações, porque são estes produtos que têm maiores rendimentos.

E para quem está mais perto do fim da vida ativa (por exemplo, a dez anos da reforma), António Ribeiro propõe a adesão a um PPR sob a forma de seguro e com capital de garantido, ou seja, com menor risco.

Não fazer esse encaixe entre a fase da vida e o tipo de produto é, de resto, um dos erros mais comuns cometidos pelos portugueses na preparação da reforma, diz o economista. “Do montante total aplicado em PPR, 86% é sob a forma de seguro. Para quem está na casa dos 30, 40 anos, um PPR sob a forma de seguro não é adequado. Tem baixo rendimento. O montante rentabilizaria mais com um PPR sob a forma de fundo”, enfatiza Ribeiro.

O especialista da DECO sublinha, por outro lado, que a preparação da reforma não tem de acontecer necessariamente através destes produtos e admite até que seja feita, por exemplo, com investimentos em património imobiliário. “A desvantagem do imobiliário é que exige um montante de investimento muito elevado”, alerta.

Já Filipe Garcia sugere: “Em termos de ativos financeiros, atualmente faz sentido pensar em certificados do tesouro, unit links com um perfil adequado e uma exposição moderada a ações. E, claro, os PPR devido ao efeito fiscal.
Se possível deve-se considerar [também] o imobiliário desde que adquirido a bom preço e numa perspetiva de rendimento (para arrendar).Não só se materializa uma poupança como poderá gerar rendimento no futuro a valore compatíveis com a estrutura de preços compatíveis com esse futuro”.

Quando se está a investir, deve haver uma panóplia mais ampla, como fundos de investimentos“, reforça Pedro Lino, referindo ainda assim que os PPR já têm vários perfis de risco que se podem encaixar em diferentes objetivos e estilos de vida.

Lino frisa, por outro lado, que, mesmo que o património imobiliário seja uma opção, é necessário manter património “mais facilmente desmobilizável”, avisando ainda assim que a exposição direta a ações não é um caminho assim tão viável para preparar a reforma, porque exige um “maior acompanhamento”.

Geralmente, as pessoas querem o mais simples possível“, frisa, no mesmo sentido, António Ribeiro. “[Querem] aplicar de forma regular um pequeno montante, daí insistirmos em PPR“, continua o economista.

Ainda que simples, o PPR deve ser acompanhado de constante atenção e comparação da parte do subscritor, para que tenha sempre o rendimento mais elevado possível. “Muita gente tem PPR e nem sabe quanto está a render”, sublinha António Ribeiro, referindo que a DECO Proteste disponibiliza um comparador no qual é possível estudar como se posiciona o seu PPR face aos melhores do mercado. “Pequenas diferenças de rendimento transformam-se em milhares de euros”, lembra.

Portanto, a melhor receita para ter o maior bolo no momento da reforma passa por erradicar “a inércia” e estar atento. Além de verificar sempre as taxas de juro, António Ribeiro aconselha os portugueses a não aceitarem “o produto que o banco lhes dá”, porque “pode não ser o melhor do mercado”. “Procurem informação e comparem com os restantes produtos”, diz.

Depois, diz o especialista, há que estar atento às comissões, especialmente nos PPR sob a forma de seguro, nos quais essas taxas tendem a absorver uma fatia considerável do rendimento.

E desengane-se quem acha que ter vários PPR é a melhor forma de preparar a reforma, diz António Ribeiro, que salienta que tal opção só faz dispersar os rendimentos. Encontrar um produto adequado ao seu perfil de risco tornaria mais fácil acompanhar o rendimento e planear a poupança, diz.

“Acho que tem de se ter mais do que um”, discorda Pedro Lino. Segundo o economista da Optimize, se por acaso o subscritor precisar do dinheiro aplicado num PPR, terá de devolver ao Estado (com juros) o benefício fiscal que tinha recebido. Já se tiver dois PPR, pode “desmobilizar” um, com uma penalização bastante inferior.

Outro alerta deixado por António Ribeiro é relativo a um dos outros pontos que faz dos PPR um instrumento ideal para a preparação da reforma: os benefícios fiscais. De notar que o benefício “à entrada” dos PPR consiste numa dedução à coleta em sede de IRS correspondente a 20% do valor investido, com os seguintes limites: 400 euros até aos 35 anos; 350 euros entre os 35 e os 50 anos; 300 euros, acima dos 50 anos.

Já Pedro Lino salienta que, para quem já poupa, há a tentação de seguir os mercados financeiros no dia-a-dia, quando o foco deveria estar a longo prazo. Outro dos erros comuns, diz o economista, é adiar o arranque dessa preparação e fazer compras por impulso, na gestão da economia doméstica, que diminuem o rendimento investido nesse futuro.

Além disso, Lino frisa: “Existe um mito que a Segurança Social e o Estado vão estar cá para nos garantir a reforma”. O especialista sublinha que tal confiança tende a adiar a preparação, mas a verdade é que com a inversão da pirâmide etária e com o aumento dos gastos da saúde, as pensões vão garantir apenas o mínimo e não qualidade de vida durante esses anos da reforma. O melhor mesmo, remata, é começar o quanto antes a amealhar e reforçar essa “almofada” para os anos que se seguirão à vida ativa.

Noves passos para preparar com sucesso a reforma

  1. Comece a pensar na reforma desde cedo. A reforma deve ser preparada, pelo menos, desde o início de o momento em que começa a trabalhar. Nunca é demasiado cedo para iniciar esses preparativos, diz a DECO Proteste. Pedro Lino acrescenta que, a par dessa poupança, é preciso tomar conhecimento de conceitos básicos, como taxa de esforço e taxa de juro.
  2. Não aceite o primeiro produto (PPR) oferecido pelo seu banco. “Até pode ser bem intencionado, mas pode não ser o melhor do mercado”, diz António Ribeiro. Aqui o truque está na comparação entre os diversos produtos disponíveis no mercado.
  3. PPR escolhido, não se deixe consumir pela “grande inércia das pessoas, quando têm um produto financeiro” denunciada por António Ribeiro. Mantenha as taxas de juro do produto escolhido debaixo de olho e compare sempre com os melhores do mercado.
  4. Se está longe da idade da reforma, arrisque num PPR sob a forma de fundo. O risco é maior, mas o rendimento é mais elevado. Escolher um PPR sob a forma de seguro significa ter o capital garantido, mas também ganhos mais modestos.
  5. Não acumule PPR em vários bancos e instituições. Tal só resulta na dispersão de rendimentos e dificulta o acompanhamento do rendimento. Esta não é, contudo, uma opinião consensual. É que ter vários PPR permite, em situações de emergência, desmobilizar uma dessas aplicações, sem o grande peso de ter de devolver ao Estado o montante que tinha sido recebido em benefícios fiscais.
  6. Esteja atento às comissões. Em alguns casos, essas taxas chegam a “comer” a fatia de leão dos rendimentos.
  7. Tenha atenção aos benefícios fiscais implicados na aposta em PPR. Este tipo de poupança beneficia de condições fiscais vantajosas que não deve deixar escapar.
  8. Não esteja focado no dia-a-dia dos mercados. A preparação da reforma é um projeto a longo prazo e é essa a visão que deve ter.
  9. Evite o sobre-endividamento. Todos os dias tome decisões de modo a reforçar a sua poupança. “No dia-a-dia, tente maximizar as decisões para que, ao fim do mês, possa haver uma poupança” e uma contribuição para o futuro em causa, sublinha o especialista da Optimize.

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