Fechar a bolsa? Não, “há pessoas que precisam vender ações para ter liquidez”
A Euronext percebeu cedo que teria de preparar a empresa para um cenário de funcionamento remoto. Começou antes do Carnaval, estando já tudo a funcionar a partir de casa. Até a CEO, Isabel Ucha.
O Covid-19 está a parar o país. Muitas empresas estão de portas fechadas, sendo que a bolsa não é diferente. A Euronext Lisboa continua a funcionar, e a ideia é que continue a permitir a negociação apesar do contexto conturbado, mas há muito que a gestora do mercado de capitais está a trabalhar em modo remoto. “Percebemos que teríamos de preparar a empresa para o funcionamento remoto”, diz Isabel Ucha, a CEO da praça portuguesa.
Isabel Ucha é um dos muitos portugueses que está a trabalhar a partir de casa e é a segunda entrevistada na nova rubrica diária do ECO chamada Gestores em teletrabalho.
“Estamos na Euronext Lisboa, e em todos os nossos países, a trabalhar a partir de casa”, diz Isabel Ucha. “Há pessoas que ainda têm de ir aos escritórios muito pontualmente, porque têm de assegurar algumas funções para que a operação continue de forma regular, mas a grande maioria dos colaboradores está a trabalhar a partir de casa”, diz a CEO da Euronext Lisboa numa entrevista realizada através do Zoom.
Trabalhar sem sair de casa “é uma nova realidade a que nos estamos a habituar”, diz, apesar de já não ser uma realidade assim tão recente na gestora da bolsa. “Há quase três semanas, antes do carnaval, começámos a preparar os acessos remotos e a enviar as pessoas para casa”, sendo que esta segunda-feira “tomámos a decisão de colocar o máximo de colaboradores em teletrabalho”. “Não foi disruptivo”, diz.
É difícil, é diferente. É preciso muita psicologia
Há portugueses que o fazem, mas para a generalidade dos trabalhadores ficar em casa a trabalhar é contranatura. “Estamos habituados a levantarmo-nos todos os dias, a ir para o escritório, encontrar os colegas, tê-los ali ao lado… colocar dúvidas”, mas agora, com a necessidade de isolamento social para evitar a propagação do vírus, tudo mudou. “Temos de trabalhar de forma diferente”, sendo que são precisos cuidados extra na forma em como se gerem as pessoas.
“Todos os dias, às 9h00, tenho reuniões com os diretores para ver como lidar com esta situação extraordinária”, conta ao ECO. “Temos alguns cuidados para mantermos um conjunto de rotinas, nomeadamente o contacto com os colaboradores que são muito mais regulares nesta primeira fase”, diz. “Temos de encontrar momentos para conversar com as pessoas, ver se elas estão bem”, diz Isabel Ucha.
“Criámos reuniões telefónicas, mas também por Skype, para nos vermos uns aos outros”, explica. E, depois, é preciso fazer também muita pedagogia e psicologia para nos apoiarmos uns aos outros naqueles momentos de frustração por estarmos fechados em casa tanto tempo, num espaço limitado em convívio com as mesmas pessoas”.
Fechar a bolsa? Investidores precisam que esteja aberta
Há, do lado da gestora da bolsa de Lisboa, um cuidado extra com os colaboradores neste contexto especial, mas também com os fornecedores, parceiros e, claro, com os investidores, muitos deles apanhados de surpresa por este momento de incerteza que tem provocado fortes quedas no mercado acionista português, mas também nos do resto do mundo. É neste sentido que, defende Isabel Ucha, a bolsa de Lisboa tem de continuar a operar.
“Entendemos que as bolsas devem continuar abertas. Isso é importante por várias razões: estão a funcionar bem, mesmo estando a lidar com volumes de ordens muito acima do normal; depois, do ponto de mais económico e financeiro, é preciso dar liquidez aos investidores — há pessoas e empresas que precisam de vender os títulos para obterem liquidez — ; e porque é precisa a formação dos preços, com a incorporação da informação nas cotações”. “Não dar possibilidade aos agentes de incorporar informação negativa (ou positiva) nas cotações, gera mais stress”, alerta.
Esta é a perspetiva da bolsa nacional, “nas condições atuais. Não sabemos como isto vai evoluir. Vamos ter de ir ajustando as nossas posições em função disso. Mas no contexto atual, é importante manter as operações”, remata.
Medidas do Estado têm “nota positiva”
Perante este vírus, tendo em conta o grau de incerteza que gera, é importante que a sua evolução seja devidamente acompanhada, não só pela bolsa, mas também, e principalmente, pelos governantes, que têm um papel importante no atenuar da tensão. Estão já a ser tomadas medidas, tanto lá fora como cá dentro. Já estão a ser tomadas, mas tem de se ver “como vão ser implementadas e quando serão implementadas. Os detalhes são importantes”.
Em Portugal, as medidas anunciadas pelo Governo, num pacote de mais de nove mil milhões de euros, parecem “bastante adequadas”, diz a gestora. Elogia as “medidas orçamentais que têm de ter preocupação de mitigar impactos de curto prazo na economia”, alertando para as marcas profundas que deixará em alguns setores. “É preciso ajudar essas empresas para preservar os postos de trabalho”, alerta.
“Medidas de crédito que depois será pago em quatro anos, medidas que dilatem os pagamentos de impostos e Segurança Social, são medidas adequadas a uma resposta imediata. Merecem nota positiva”, diz Isabel Ucha.
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