Moody’s com olhar negativo sobre seguros na Europa
Rentabilidade dos investimentos em baixa, novas contingências em batalhas legais, o ramo Vida em queda. Seguradoras da União Europeia vão enfrentar grandes desafios.
A agência de rating Moody’s, em relatório recentemente publicado, deixa alertas à atividade seguradora europeia, a quem atribui outlook negativo por causa dos desafios e problemas associados aos efeitos diretos e indiretos da pandemia de Covid-19. A rentabilidade vai cair, esperando-se igualmente uma redução, ainda que ligeira, dos rácios de solvência das maiores companhias a operar na Europa.
O setor segurador europeu não deverá poder respirar de alívio nos próximos meses, com os desafios que a pandemia de Covid-19 veio agravar e criar. O último outlook da Moody’s para as seguradoras europeias, em geral, é negativo, com o ramo vida a ser o mais afetado.
A avaliação da agência de notação de risco coloca em ‘negativo’ as perspetivas das maiores seguradoras francesas, britânicas, alemãs, italianas e holandesas no ramo Vida. No Não Vida, salvam-se os casos britânico, italiano e alemão, com outlook estável, face ao negativo em França e na Holanda.
A nota da Moody’s, intitulada Seguros europeus: durante e após a Covid-19, recentemente divulgada, assinala que “os rácios de solvência gozam de resiliência, mas são altamente sensíveis a riscos adversos”.
O documento da agência avança que “a rentabilidade do setor vai ser afetada”, à medida que aumentam os riscos políticos, social e legais. E conclui que, após 2020, avizinham-se “riscos acrescidos para os seguradores quer do ramo Vida, quer Não Vida”.
Solvência em queda
Em termos de solvência, a Moody’s lembra que, no ano passado, o rácio de cobertura do requisito de capital de solvência (SCR) médio da indústria rondou os 210%, mas, no final de março deste ano, já se havia reduzido entre 10 e 15 pontos percentuais, para o intervalo 195%-200%. Em Portugal, no primeiro semestre deste ano, este valor foi de 165% para a indústria seguradora nacional, segundo a ASF, entidade supervisora do setor.
Na origem da revisão em baixa do SCR estão efeitos de medidas políticas, e do próprio mercado, em regra, fruto da pandemia causada pelo novo Coronavírus.
A pressionar o rácio de solvência têm estado fatores como a redução das taxas de juro e de retorno nos mercados de capitais ou o aumento dos spreads nos créditos. A Moody’s reviu igualmente em baixa as carteiras de títulos das 26 seguradoras onde se baseou para calcular a redução do rácio de solvência.
A afetar a rentabilidade, segundo a agência, estão fatores diretamente ligados à pandemia, como o aumento da mortalidade, que levou a Moody’s a atribuir perspetiva negativa às resseguradoras SCOR e RGA, mais problemas de saúde pública, assim como o acréscimo de medidas de proteção a nível laboral.
A rentabilidade é igualmente afetada pelo aumento do número de pedidos de compensação, imparidades associadas a ativos, pela incerteza associada ao retorno de seguros associados a fundos de investimento e, claro, pela redução generalizada da atividade económica.
Medidas como o distanciamento social, por seu turno, afetam também negativamente a atividade das empresas, com impacto em especial nos seguros do ramo Não Vida. Em contrapartida, esta medida pode reduzir, no curto prazo, o impacto sobre a saúde pública, assim como na pressão sobre o ramo Não Vida no setor do retalho.
Por fim, a recessão generalizada leva a agência a colocar sob outlook ‘negativo’ as seguradoras de crédito Coface e Atradius.
“As seguradoras dificilmente beneficiarão da crise”, indica a Moody’s, que enumera riscos políticos, sociais e jurídicos sobre o setor.
A indústria, lembra, sofre pressões políticas para conceder apoios a fundo perdido, para conceder contribuições monetárias e, no limite, pode vir a ser chamada a suportar novas taxas ou impostos.
Em termos de pressão social, a Moody’s destaca os pedidos de estorno, uma situação de que há “inúmeros exemplos por toda a Europa”.
Por fim, no campo jurídico, há pressão resultante de litígios sobre as cláusulas de exclusões associadas a interrupções de negócios causadas pela pandemia. Nesta fase, de acordo com a Moody’s, existem casos destes em análise por tribunais arbitrais em Inglaterra, estando em curso estudos sobre o tema em França.
“A transformação dos modelos de negócio do ramo Vida tornou-se mais desafiante, pois os seguros associados a fundos de investimento estão co-relacionados com o desempenho dos mercados de capitais”, avança a agência de notação de risco, que dá ainda conta do desafio por detrás da mudança de comportamento dos consumidores, por exemplo, em relação a viagens ou ao recurso a tecnologia.
Em março, recorde-se, uma análise da Moody’s dava conta de que a Covid -19 e a interrupção de negócio expunham as seguradoras a riscos reputacionais . Na nota, a agência referia que a generalidade das apólices comerciais subscritas por seguradoras que operam em três dos maiores mercados da Europa – Alemanha, França e Reino Unido – não cobre interrupção de negócios motivada por crises pandémicas. Mas, apesar de exposição limitada em termos de indemnizações diretas, as seguradoras poderão sofrer impacto reputacional, caso o volume de pedidos de compensação cresça, concluiu a agência.
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