Munich Re pondera rejeitar cobertura de pandemia em linhas comerciais
A resseguradora pondera retirar cobertura de pandemia em novos contratos de seguro e resseguro de linhas comerciais, ou P&C. Francesa FFA quer solução público-privada para pandemia.
A Munich Re, cujo balanço intercalar apresentou elevado montante de perdas associadas a contratos que confirmaram risco de exposição à Covid-19 (como cancelamento de eventos e, em menor medida, interrupção de negócios), pondera agora deixar de oferecer cobertura de resseguro em determinadas linhas comerciais, nomeadamente propriedade e danos (P&C), suscetíveis de apresentar perdas relacionadas com a pandemia.
Segundo a Bloomberg, que entrevistou Torsten Jeworrek, responsável do departamento de resseguro da Münchener Rück, a companhia está a avaliar se, no futuro, nos novos contratos, inclui (ou não) proteção contra pandemias no seguro de propriedade e de acidentes.
Depois da forte quebra nos resultados do primeiro trimestre, as contas do período abril a junho já mostraram efeito (da pandemia) menos acentuado do que a média do mercado, reforçadas também pelo desempenho da ERGO (subsidiária de seguro) que ajudou a compor o resultado líquido do 2º trimestre.
Supostamente, notam fontes na imprensa, a Munich Re continuará a cobrir o risco de pandemia nos contratos de vida e de saúde. Na entrevista, Jeworrek mostrou-se cauteloso, escusando adiantar estimativa de potenciais perdas na segunda metade do ano, dada a incerteza sobre o que irá acontecer no outono. “Poderíamos deparar-nos novamente com um momento crítico, por exemplo, se houver novos encerramentos e confinamento”, justificou.
No comunicado que reportou os números do primeiro trimestre de 2020, a companhia adiantou que a estimativa de perdas associadas à pandemia para o conjunto do ano rondaria 1000 milhões de euros. Em comunicação mais recente (7 de setembro), a Munich Re refere que, desde 30 de junho, o nível de perdas ligadas à pandemia abrandou face aos montantes quantificados na primeira metade do exercício.
Indústria insiste na criação de solução público-privada
Nessa comunicação virtual (“RE|Think complexity – Be better prepared fo systemic risks”) para a cimeira de Monte Carlo (Mónaco), este ano remediada com contribuições online de diversos players (evento presencial foi cancelado por causa de pandemia), Jeworrek, também membro do conselho de administração da Munich Re, salientou: “A pandemia do coronavírus tem de ser uma lição para todos nós: Temos de tomar medidas mais rápidas e vigorosas para garantir que não estamos tão impreparados como estávamos com a COVID-19 para riscos tais como ciberataques ou alterações climáticas”.
Reiterando ideia que parece consolidar-se na indústria, Torsten Jeworrek acrescentou: “É possível uma melhor salvaguarda contra as consequências financeiras de tais riscos para o benefício da humanidade. Tem de ficar claro que riscos sistémicos como pandemias também exigem contramedidas sistémicas – por exemplo, a criação de pools de risco apoiados pelo Estado para tornar os riscos não seguráveis suportáveis”.
No mesmo sentido, Florence Lustmam, presidente da federação francesa de seguros (FFA), em artigo institucional sob o título “Um dever de transparência”, afirma que as resseguradoras excluíram dos seus contratos a cobertura da pandemia. Sem a possibilidade de transferir riscos desta amplitude, as seguradoras “sozinhas” são incapazes de suportar o fardo e não têm soluções para acudir às empresas vítimas deste tipo de catástrofes.
“As seguradoras estão prontas para assumir a sua parte (…), a proteção financeira contra estes macro danos não pode ser assegurada senão através de uma parceria público-privada.”, lê-se na tribuna.
Desde a emergência da crise sanitária, o setor tem reafirmado que a pandemia é “insegurável,” em particular pelos custos que a indústria teria de enfrentar – até ao esgotamento dos recursos das seguradoras – para indemnizar, por exemplo, a interrupção de negócios. Por isso, recorda ainda Lustman, a FFA dirigiu (em junho) ao Governo francês propostas para construir (em conjunto) um mecanismo de proteção contra catástrofes excecionais.
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