BRANDS' ECO Sabia que foi a Renault que “inventou” o turbo na F1?
Em 1977, no Grande Prémio da Grã-Bretanhaum, a marca francesa apresentou-se com um motor V6 de 1500c.c., com um turbo capaz de desenvolver 510cv de potência, uma grande inovação para aquela época.
Em meados dos anos 70 do século passado o panorama dos motores de Fórmula 1 estava estagnado, com as potências as rondarem os 500cv, mas uma inovação introduzida pela Renault iria levar uma evolução exponencial e, uma década depois, era possível ultrapassar os 1300cv de potência.
Os anos 70 foram de grandes descobertas na categoria máxima do desporto automóvel, mas o campo favorito dos engenheiros foram os chassis, com a utilização de novos materiais e conceitos, e da aerodinâmica, onde todos tentavam ganhar vantagem face aos seus rivais.
O desenvolvimento dos motores desde 1966 demonstrava ser lento e sem grandes novidades técnicas, procurando os construtores aumentar o número de rotações para obter mais potência, mas sem que se assistissem a grandes avanços, mantendo-se a cavalagem dos motores um pouco abaixo dos 500cv.
No entanto, na segunda metade da década tudo se alteraria de forma dramática, criando uma era em que foram dados saltos tecnológicos quânticos que alterariam para sempre a face da Fórmula 1, tendo a Renault como força motriz.
A marca francesa era uma presença assídua no automobilismo desde final dos anos sessenta, competindo na Fórmula 2 com um motor V6 e com chassis da Alpine – marca que no próximo ano ingressará na Fórmula 1.
Mas foi no mundial de resistência que uma nova tecnologia começou a emergir, com um motor V6 turbo de dois litros montado num chassis produzido pela Alpine.
A performance da máquina francesa era extraordinária e em 1978 venceria as míticas 24 Horas de Le Mans, esmagando a Porsche, que ficou em segundo lugar a cinco voltas do Alpine Renault A442 de Didier Pironi e Jean-Pierre Jaussaud.
Mas, entretanto, a Renault tinha já decidido rumar ao grande palco do automobilismo mundial – a Fórmula 1.
Em 1977 um carro em que o amarelo dominante contrastava com uma faixa preta apresentava-se em Silverstone para o Grande Prémio da Grã-Bretanha. A sua carroçaria, em letras garrafais, ostentava o nome do seu construtor – Renault, a vencedora do primeiro Grande Prémio da história –, mas era o componente aparafusado ao chassis que encerrava a grande novidade – um pequeno motor V6 de 1500c.c. com um turbo capaz de desenvolver 510cv de potência.
Desde que o regulamento tinha sido introduzido em 1966 que existia a possibilidade de construir um motor superalimentado, sendo a tecnologia mais usual para este efeito o compressor mecânico, acionado pelo próprio motor, mas o turbo era uma novidade na Fórmula 1.
Neste caso, uma turbina aproveitava a velocidade dos gases de escape para acionar o compressor, no que representa um dos primeiros avanços na recuperação de energia desperdiçada durante o ciclo de um motor de combustão interna.
A adaptação do motor turbo a um monolugar revelou-se muito mais desafiante que a um protótipo de Le Mans devido à sua menor dimensão e peso – então, um Fórmula 1 pesava 530kg contra 715 do Alpine Renault que venceu na clássica francesa – dado que exigia uma maior dissipação de calor relativamente aos propulsores atmosféricos, implicando radiadores maiores e mais pesados.
"A nova tecnologia desenvolvida pela Renault vingava na mais exigente categoria do desporto automóvel e em 1987 todos os monolugares que participaram no Campeonato do Mundo de Fórmula 1 eram animados por motores turbo.”
Para além disso, o uso de um motor turbo obrigava a toda uma adaptação dos pilotos, pois nem sempre a potência passada às rodas correspondia ao que o pé direito pretendia, devido a fenómeno do atraso da resposta do motor – o conhecido “turbolag”.
O início da caminhada não foi fácil para a Renault, que assumiu o tortuoso caminho de todos aqueles que procuram a inovação, mas o tempo deu-lhe a razão que acompanha os audazes.
Depois de quase dois anos de aturado desenvolvimento, o motor V6 turbo da Renault impor-se-ia no Grande Prémio de França de 1979 através de Jean-Pierre Jabouille, tendo o seu colega de equipa, René Arnoux, terminado em terceiro.
A nova tecnologia desenvolvida pela Renault vingava na mais exigente categoria do desporto automóvel e em 1987 todos os monolugares que participaram no Campeonato do Mundo de Fórmula 1 eram animados por motores turbo.
Nesse período, a potência subiria dos 500cv até aos 1500cv em configuração de qualificação, valores impensáveis quando a Renault levou para o Grande Prémio da Grã-Bretanha de 1977 o seu RS01 munido de um pequeno motor turbocomprimido.
De 1981 em diante, a Renault era uma força na luta pelos títulos, sempre liderada em pista por Alain Prost, tendo até à proibição dos motores turbo, em 1989, os V6 turbo do construtor francês conquistado 20 triunfos, 50 pole-positions e 51 pódios.
A marca que o espírito inovativo da Renault deixara na Fórmula 1 era incomensurável, passando a tecnologia de ponta na área dos motores a ser um intenso cavalo de batalha de inúmeros construtores automóveis que se digladiavam em pista para mostrar a validade das suas soluções… e tudo começara com um difícil início de caminhada que acabou por democratizar os motores turbo, sendo hoje quase impossível encontrar um carro de estrada sem que o seu propulsor tenha um turbocompressor.
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