Pandemia trocou as voltas aos adágios. Só o Pai Natal se salvou
Velhas máximas dos mercados dão, pelo desempenho histórico das bolsas, algum vislumbre sobre o que pode acontecer. Este ano, a pandemia derrotou a maioria dos adágios, cá e lá fora.
Todos gostariam de saber o que vai acontecer antes de acontecer mesmo. Então nos mercados… Seria a receita para o sucesso de muitos investidores, que poderiam engordar de forma expressiva as suas carteiras. Mas isso não é possível. Por isso, são muitos os que procuram outras formas de tentar antever movimentos futuros dos mercados, recorrendo a desempenhos passados.
Há muito que os padrões de negociação de anos anteriores são seguidos por alguns investidores, tentando com esses seguir estratégias de investimento que podem, tendencialmente, resultar em ganhos com as ações. Há quem olhe para gráficos, recorrendo a análise técnica (em detrimento da análise fundamental), para fazer “jackpot”. A ajudar a esse estudo estão aqueles que são conhecidos como os adágios.
São velhas máximas dos mercados que dão, pelo desempenho histórico das bolsas, algum vislumbre sobre o que pode acontecer. Estas velhas máximas podem ser um bom guia, mas também falha. E este ano, falharam bastante. Janeiro não foi grande conselheiro, “sell in may” deu mau resultado e setembro não foi “negro”. Foi março o mês terrível para os investidores, por causa de um “cisne negro”: a pandemia.
Janeiro, um guia com a pontaria desafinada
O adágio referente ao primeiro mês do ano é simples: “Como vai janeiro, vai o ano inteiro”. E como foi janeiro? Um misto. Por cá, o ano arrancou relativamente bem, com o PSI-20 a apresentar uma valorização de 0,72%, contrariando o comportamento das restantes praças europeias. No primeiro mês do ano, o Stoxx 600 cedeu 1,23%. Nos EUA, 2020 também começou com sinal negativo, ainda que muito ligeiramente. O S&P 500 recuou apenas 0,16%.
Seguindo o adágio, este teria sido um ano bom para Lisboa e mau para as restantes bolsas europeias e norte-americanas. Resultado? Praticamente 12 meses volvidos, só no Stoxx 600 o mês de janeiro revelou ser um bom conselheiro. O índice que agrega as maiores cotadas do Velho Continente prepara-se para fechar o ano com uma queda de quase 5%.
No caso do PSI-20, a subida de janeiro foi enganadora, já que o índice nacional prepara-se para fazer até pior que as restantes bolsas europeias ao rumar a uma queda em torno de 7%. Será a maior queda anual da praça portuguesa desde 2018.
No S&P 500, o “engano” acabou por ser positivo. Se a queda em janeiro foi um mau presságio, aqueles que ignoraram o adágio conseguiram uma boa valorização das suas carteiras. Num ano marcado por muitos recordes em Wall Street, o índice americano prepara-se para fechar 2020 com um ganho de 14%.
Vender em maio? Deu prejuízo
É, provavelmente, o adágio mais conhecido por quem investe nos mercados acionistas. O “sell in May and go away, and come on back on St. Leger’s Day“, ou seja, venda em maio e só volte às bolsas depois do feriado de St. Leger, no final de setembro, é sempre tido em consideração pelos investidores tal o número de vezes que se tem revelado certeiro.
Este ano, este adágio foi bom conselheiro, pelo menos em Lisboa. O PSI-20 acabou por apresentar um desempenho negativo entre o final de abril e 30 de setembro, com o índice nacional a recuar 5%. Mas lá fora, não foi bem assim. Vender deu mau resultado.
Depois do forte trambolhão das bolsas com o confinamento por causa do novo coronavírus, a reabertura das economias antes do verão deu um novo ânimo aos investidores, que ainda desconheciam que viria aí uma segunda vaga. Assim, neste período, tanto o Stoxx 600 como o S&P 500 conseguiram apresentar fortes valorizações, com o primeiro a ganhar 6,19% e o segundo a dar um salto ainda maior: disparou 15,47%.
E o pior mês do ano foi…
Regra geral, setembro tende a ser um mês negativo nos mercados acionistas a nível mundial. Com os investidores ainda a regressarem das férias, o que se traduz em menor liquidez nas bolsas, o nono mês do calendário costuma trazer muitas notícias, seja ao nível empresarial, seja de política monetária, o que muitas vezes faz com que o adágio de que setembro é o pior mês do ano nas bolsas se concretize. Este ano foi assim?
Setembro foi mau para os investidores. Tanto cá, como lá fora. O PSI-20 acumulou uma quebra de 5,44%, bem mais expressiva do que a apresentada pelas bolsas europeias (Stoxx 600 cedeu 1,48%) e que a queda de 3,92% do S&P 500.
Mas se setembro comprovou o estatuto de um mês negativo para as bolsas, o adágio acabou por não se cumprir. Nenhum outro mês do ano foi tão negro para os mercados como o de março. Com o novo coronavírus a chegar à Europa e aos EUA, obrigando a medidas duras para travar a sua propagação, que fez afundar as economias dos dois lados do Atlântico, registaram-se quedas de dois dígitos.
O S&P 500 cedeu 12,51%, ainda assim uma queda menos expressiva que a registada pelo Stoxx 600 que nesse mesmo período de crise pandémica afundou 14,8%. Lisboa foi a “reboque”, recuando 14,6%.
Pai Natal traz a vacina no trenó
O ano não termina sem mais um adágio. Quando muitos já procuram o presente ideal para oferecer no Natal, o “rally” do Pai Natal costuma presentear os investidores com valorizações expressivas no último mês do ano, período em que muitos grandes investidores (fundos de investimento, por exemplo) começam a mexer nas suas carteiras para se prepararem para o ano seguinte.
E o Pai Natal apareceu mesmo, este ano. Impulsionado por uma enxurrada de estímulos monetários e orçamentais dos dois lados do Atlântico, mas também com a expectativa quanto ao sucesso das várias vacinas contra a Covid-19, que pode ser o estímulo necessário para uma forte recuperação da economia, as bolsas valorizaram.
Depois de algumas sessões de fortes ganhos, o surgimento de uma nova estirpe do novo coronavírus, mas também o impasse em torno do Brexit, ainda provocaram algumas quedas nas bolsas mundiais, mas o saldo a poucos dias do fecho do mês (e do ano), acabou por ser positivo tanto na Europa como nos EUA. Enquanto o Stoxx 600 soma 1,8% em dezembro, o S&P 500 ganha cerca de 2%. E o PSI-20? O “rally” do Pai Natal trouxe ganhos ainda mais expressivos a Lisboa, com o índice de referência a valorizar quase 5%.
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