BRANDS' ECOSEGUROS Como podem os gestores salvaguardar o amanhã?
Ricardo Azevedo, diretor técnico da Innovarisk Underwriting, explica a importância de reduzir os riscos de quem está na tomada de decisão, num contexto tão desafiante como o que vivemos.
Se 2020 foi um ano repleto de obstáculos que trouxe um sentimento de apreensão em relação ao presente e ao futuro, 2021 será previsivelmente um ano não menos desafiante. Dos avanços na luta contra a pandemia todos esperamos, é claro, as melhores notícias, mas no entretanto parece ser prudente contar com tempos de incerteza e turbulência.
Diz-nos a história que as crises são também criadoras de oportunidades e por isso aqueles que melhor conseguirem adaptar-se às circunstâncias e antecipar tendências poderão sobressair. Mas infelizmente, para a maioria das empresas aquilo que nesta fase ganha destaque é um conjunto de riscos e desafios associados a este contexto. Falemos de alguns.
É inevitável mencionar o que se espera ser um período muito duro para a economia. Necessidade de redefinir prioridades com quebras no consumo e adiamento de decisões de investimento, aumento do desemprego, crescentes problemas de tesouraria em setores mais afetados, entre outras questões. Os gestores, chamados a mostrar as suas capacidades de resiliência e obrigados a resistir ou a procurar novas oportunidades, terão em alguns casos que reinventar o seu modelo de negócio ou encarar o cenário de investir em contraciclo, algo que muitas empresas em diversos setores têm procurado fazer na adaptação da sua estrutura tecnológica. Mas para além das questões financeiras envolvidas, a volatilidade desta era traduz-se também numa enorme incerteza legislativa que aumenta muito o risco da tomada de decisão. Podem os decisores das empresas estar seguros que um investimento feito hoje não será afetado por uma qualquer necessidade de alterar a lei dentro de pouco tempo?
"Este é o momento em que os gestores estão – e irão com probabilidade continuar – a ser postos à prova, tanto na sua capacidade de navegar pelas águas agitadas da pandemia, como também pelo teste extremamente exigente que irá avaliar a solidez das estruturas construídas no período pré-pandemia.”
A dita transformação digital que o setor empresarial tem procurado levar a cabo continuará a ser, aliás, um dos aspetos-chave a encarar pela gestão, não só porque a evolução dos padrões de consumo assim o exige – uma tendência anterior a 2020 mas que a pandemia acelerou – como por ser na atualidade um garante da continuidade na distribuição de vários produtos e serviços. Para além disso, o advento do teletrabalho força a gestão a disponibilizar melhores meios tecnológicos que permitam aos colaboradores continuar a desempenhar o seu trabalho e dando de preferência um salto em termos de eficiência relativamente a 2020 que representou para muitas empresas um ano de mera adaptação ao meio. Mas é necessário levar em linha de conta que a aposta na tecnologia, sobretudo quando realizada em contrarrelógio, não está isenta de riscos, quer pelo investimento que acarreta, que pelas questões da fiabilidade e da segurança num mundo hoje ameaçado pelo crime cibernético.
Por fim, as relações laborais. Ao mesmo tempo que as empresas e colaboradores descobrem novas formas de trabalho assentes em ferramentas digitais e na conectividade à distância, as quais têm conduzido em muitos a casos a aumentos na produtividade e nos índices de satisfação, é importante considerar também alguns dos novos problemas que nos são trazidos pelo crescimento repentino do teletrabalho e que estão a ser vividos também por muitas empresas. Baixa socialização, dificuldades na integração de novos colaboradores, entraves ao desenvolvimento do espírito de equipa e à transmissão entre pares da cultura de empresa ou desafios acrescidos para os líderes em termos de motivação, coordenação e deteção de problemas nas suas equipas.
"A exigência do presente fará que herdaremos desta crise melhores gestores, mas importa que façamos também por reduzir os riscos de quem tem no dia-a-dia de tomar decisões importantes e por vezes difíceis, para que no futuro não tenhamos menos gestores e menos empreendedores.”
Este é o momento em que os gestores estão – e irão com probabilidade continuar – a ser postos à prova, tanto na sua capacidade de navegar pelas águas agitadas da pandemia, como também pelo teste extremamente exigente que irá avaliar a solidez das estruturas construídas no período pré-pandemia. Ora, no meio de tantos desafios, o erro acaba por ser um cenário ao qual o gestor nunca está imune, mas cuja probabilidade acaba por ser mais elevada do que em alturas de maior estabilidade. De entre as consequências do erro na gestão, o insucesso ocupa naturalmente o lugar cimeiro das preocupações e dos receios de quem trabalha todos os dias, tantas vezes com enorme sacrifício, para alcançar os objetivos da empresa.
Mas, acrescente-se, para além do insucesso há outras consequências dos erros de gestão que importa levar em linha de conta, nomeadamente as responsabilidades legais a que diretores e administradores estão sujeitos pelas funções que exercem. Aqui, fica em risco o património pessoal do gestor que responderia perante uma reclamação de terceiros que viesse exigir a satisfação de uma indemnização pecuniária.
A exigência do presente fará que herdaremos desta crise melhores gestores, mas importa que façamos também por reduzir os riscos de quem tem no dia-a-dia de tomar decisões importantes e por vezes difíceis, para que no futuro não tenhamos menos gestores e menos empreendedores. Salvaguardemos o amanhã.
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