BRANDS' ECOSEGUROS Apólices em letras grandinhas
Gonçalo Baptista, diretor-geral da Innovarisk Underwriting, fala da importância de as seguradoras "respirarem" uma cultura de serviço ao cliente, com apólices de leitura acessível.
Todos nós conhecemos o preconceito contra as seguradoras. Visto deste lado, achamos o rótulo injusto mas isso pouco importa, porque não deixa de ser a forma como o consumidor nos vê. “São uns malandros que se escondem por detrás de cláusulas escritas em letrinha pequenina para nós não vermos”, dizem. Logo acrescentando: “depois, quando as coisas correm mal, não pagam!”. Isto tem apenas um significado: os consumidores não conhecem as condições em que estão seguros. É um contrato extenso, escrito numa linguagem jurídica e com alguns vícios de linguagem do setor, difícil para o consumidor comum, aliás muitas vezes geradores de dúvidas para os próprios profissionais do ramo.
Importa então levar a cabo mais esta cruzada: melhor informação prestada ao consumidor, redação de contratos mais entendíveis por leigos e, muitíssimo importante, colocar menos limitações à cobertura. Cada exclusão ou limitação às definições da cobertura é uma provável deceção de um consumidor que algures no tempo é afetado pela mesma.
As limitações dos contratos standard são muitas e variadas. Nos ventos garanta-se “… sempre que a sua violência destrua ou danifique vários edifícios de boa construção, objetos ou árvores sãs num raio de cinco km …” Mas não chega, têm ainda de: “…atingir uma velocidade superior a x km/hora (em caso de dúvida poderá o segurado fazer prova, por documento emitido pela estação meteorológica mais próxima…)”. Essa velocidade depende da seguradora, andando genericamente perto dos 100kms/hora. É necessário ainda que mais de 50% dos materiais de construção sejam resistentes. Algumas construções de apoio ficam excluídas. E por aí fora… Nas inundações, para além destes 50% dos materiais, considera-se sinistro quando ocorre “a precipitação atmosférica de intensidade superior a x milímetros em y minutos, no pluviómetro”. Exclui-se ainda a ação do mar.
"Que as seguradoras abracem ventos, águas e outros danos mais incertos em “letras grandinhas”, se possível em apólices do tipo “todos os riscos”. No dia em que todas as seguradoras acompanharem essa tendência já existente, teremos consumidores mais satisfeitos, afinal o objetivo que mais importa.”
Mudando para o furto, este está garantido se praticado com arrombamento, escalamento ou chaves falsas. Ou por quem se introduza furtivamente ou se haja escondido. Está excluído em caso de desocupação de vários dias (imagine-se as instalações agora durante o confinamento, todas desocupadas!). E mais as variadas limitações para bens não listados. E mais limitações para furtos praticados por determinadas pessoas. E mais isto e mais aqueloutro.
Para os que se dão ao trabalho de ler, chegam ao fim cansados e a perguntar-se, receosos, como será quando tiverem um sinistro. São tantas as limitações que parece fácil à seguradora encontrar se pretender não pagar. E é: daí a importância de uma seguradora que respire uma cultura de serviço ao cliente.
Todas estas limitações são razoáveis e têm as suas razões racionais para existirem. Contudo, falham num elemento central: tornam muito difícil a compreensão por parte do consumidor. Diz o ditado que no meio está a virtude e tem por isso de haver um esforço para se encontrarem apólices com um texto de leitura acessível. Toda a gente percebe os detalhes importantes de uma apólice se forem cinco ou 10 mas se forem várias dezenas, isso já não acontece.
Pede-se, portanto, menos exclusões e limitações em “letrinhas pequeninas”. Que as seguradoras abracem ventos, águas e outros danos mais incertos em “letras grandinhas”, se possível em apólices do tipo “todos os riscos”. No dia em que todas as seguradoras acompanharem essa tendência já existente, teremos consumidores mais satisfeitos, afinal o objetivo que mais importa.
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