Banco de Portugal mantém crescimento de 3,9% em 2021. Revê em alta 2022

No boletim económico de março, o banco central mantém a previsão de crescimento do PIB de 3,9% em 2021, mas revê em alta a retoma em 2022 de 4,5% para 5,2%.

Apesar da terceira vaga da pandemia e do segundo confinamento em Portugal, a previsão do Banco de Portugal para o crescimento da economia portuguesa em 2021 não mudou entre dezembro e março. O banco central continua a estimar um salto de 3,9% do PIB este ano, após a queda de 7,6% em 2020 causada pela pandemia. Porém, reviu em alta o crescimento de 2022 de 4,5% para os 5,2%, acelerando assim a retoma no próximo ano.

“Ao longo do período 2021-23 projeta-se um crescimento económico de 3,9%, 5,2% e 2,4%”, revela o banco central no boletim económico de março divulgado esta sexta-feira, o que compara com 3,9%, 4,5% e 2,4% estimados em dezembro. Estas previsões assumem que as “restrições serão gradualmente levantadas a partir do segundo trimestre de 2021” e que a vacinação “estará concluída até ao início de 2022, em paralelo em Portugal e na área do euro”.

O Banco de Portugal detalha que “a recuperação é diferenciada entre setores e componentes da despesa”, com o principal contributo a vir das exportações e do consumo privado, que foram as componentes que mais se reduziram em 2020. “O investimento cresce 5% em média, beneficiando da entrada de fundos europeus, em particular no âmbito do novo instrumento Next Generation EU”, acrescenta. Entre setores, a retoma será “mais lenta nos serviços mais dependentes de contactos pessoais”.

Ainda que o crescimento do PIB seja o mesmo do boletim anterior, há alterações nas componentes que refletem a evolução da situação económica desde então. Como mostra a tabela seguinte, o consumo privado, o consumo público e o investimento vão crescer menos em 2021 face ao previsto em dezembro. Já as exportações vão crescer mais, equilibrando a balança.

Fonte: Banco de Portugal. Boletim económico de março.

Apesar de manter a previsão de 2021, o banco central alerta que a “incerteza permanece elevada, não obstante os progressos no controlo da pandemia“. É por isso que o Banco de Portugal volta a apresentar um cenário adverso em que vê o PIB a crescer apenas 1,6% em 2021, seguindo um crescimento de 3,2% em 2022 e em 2023. Caso seja esta a trajetória, Portugal não recuperará da crise pandémica no final de 2023. No cenário central, essa retoma é concluída durante 2022.

“No cenário adverso, assume-se uma disseminação mais gradual da vacina e que o surgimento de novas variantes permanece uma ameaça, podendo traduzir-se em novos períodos de confinamento e restrições à circulação entre fronteiras ao longo de 2021″, detalha o banco central, assinalando o “impacto negativo na confiança dos agentes económicos” e a “evolução mais contida do consumo privado”, principalmente nos serviços de maior contacto pessoal. Neste cenário, a taxa de poupança continua elevada e o consumo privado cresce menos.

Mas também há um cenário favorável. Neste caso, o PIB cresce 4,7% em 2021, 5,4% em 2022 e 2,3% em 2023. “No cenário favorável, o melhor controlo das infeções e o levantamento mais rápido das medidas de contenção traduzem-se numa redução da incerteza e num aumento da confiança dos agentes económicos”, explica o Banco de Portugal, referindo a taxa de poupança iria cair mais rapidamente e o consumo privado cresceria mais. Este cenário assume que as “famílias gastam parte da poupança acumulada em 2020, em larga medida de natureza forçada, o que permite repor mais rapidamente a despesa adiada durante a pandemia“.

Centeno admite desgaste da economia com confinamento prolongado, mas confia na resiliência

Na conferência de imprensa de apresentação do boletim económico de março, o governador do Banco de Portugal disse que os números mostram que “parece haver uma relação bastante negativa entre a duração do confinamento e a evolução da economia“, através do “desgaste da economia”, o que é visível quando o confinamento tem uma “duração prolongada” e quando não existe uma “ideia clara do futuro”. É isso que mostra o indicador diário de atividade económica do BdP (DEI) que registou “taxas mais negativas” nas últimas semanas do confinamento atual, após um período de melhoria.

A perspetiva de Mário Centeno é que o PIB regista uma queda em cadeia no primeiro trimestre, face ao quarto trimestre, mas depois deverá iniciar um “perfil de recuperação bastante rápido” no segundo e no terceiro trimestre de 2021. Contudo, Centeno alertou que “o futuro não é mais incerto que o presente” pelo que o exercício de previsão é ainda mais complexo. Por outro lado, os indicadores de consumo caíram mais de 10%. Por outro lado, há uma “certa resistência das exportações de bens” e da atividade industrial.

Além da evolução da pandemia, um dos elementos mais decisivos para a retoma da economia é o comportamento dos agentes económicos, principalmente dos cidadãos. As previsões do Banco de Portugal apontam para que “em nenhum dos anos desta crise o rendimento disponível dos particulares, em termos agregados, cai” e o mesmo se aplica aos salários, com a massa salarial a crescer 1% em 2020 e 2,6% em 2021. Estes são bons indicadores para a “reversão gradual do aumento da poupança”, um fator primordial para o consumo privado, a maior componente do PIB.

A expectativa do banco central é que a taxa de poupança, após ter atingido um máximo de 2002 no ano passado, chegue a 2023 no mesmo nível de 2019 (cerca de 6,8% do rendimento disponível). Contudo, “se a redução for mais moderada, poderemos ter uma recuperação mais lenta”, admitiu Centeno, recordando que “não seria a primeira vez que um processo de crise estivesse associado a alterações estruturais do comportamento das famílias e a uma redução mais lenta da taxa de poupança“.

Quanto às empresas, Centeno mostrou-se confiante, detalhando vários indicadores em que se vê a resiliência, logo a começar pelo investimento, o qual deverá aumentar o seu peso no PIB durante os próximos anos. “O investimento é uma das grandes novidades desta crise”, disse, argumentando que tal de ser ao facto da crise “ser considerada temporária e de haver uma situação económica-financeira das empresas bastante positiva“. Essa situação é demonstrada pelos dados dos depósitos das empresas que aumentaram 9.166 milhões de euros entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2021, subindo 192%, o que não tem precedente na série destas estatísticas. Nas crises anteriores, estes depósitos tinham descido.

(Notícia atualizada às 18h09 com mais informação)

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