APED pede que autotestes sejam vendidos em super e hipermercados
"Queremos ajudar a disponibilizar à população mecanismos que sejam importantes para combater a pandemia", sublinhou Gonçalo Lobo Xavier.
O diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) defendeu, em entrevista à Lusa, a venda dos autotestes covid-19 nos supermercados e hipermercados, salientando que o setor quer estar “na parte da solução”. Gonçalo Lobo Xavier classificou de “muito importante” o facto de os autotestes covid-19 “já estarem a ser vendidos em farmácias e parafarmácias” e defendeu que, “à semelhança do que tem sido feito noutros países, se possa alargar a venda noutras áreas, concretamente de supermercados e hipermercados”.
Sublinhou que a vida dos associados do retalho alimentar “é vender produtos essenciais”, recordando o seu papel na venda de equipamentos de proteção individual durante a pandemia, como máscaras, álcool gel, entre outros. “Nenhum deles quer fazer negócio” com isso, “até porque há regras e há limites do ponto de vista do lucro” para equipamentos de proteção individual, destacou. “No caso dos autotestes é a mesma coisa: nós queremos ajudar a disponibilizar à população mecanismos que sejam importantes para combater a pandemia“, sublinhou Gonçalo Lobo Xavier.
Na entrevista, o responsável lançou um apelo de que é “preciso valorizar a carreira no setor da distribuição”. A distribuição alimentar, disse, “tem um processo de carreiras que deve ser valorizado, foram os nossos colaboradores que tiveram desde o princípio [da pandemia] na linha da frente, que asseguraram que nada faltava na vida dos portugueses do ponto de vista de bens essenciais, leia-se retalho alimentar”, prosseguiu. “Mas há também as outras carreiras que devem ser valorizadas e que hoje têm que ser inventadas”, acrescentou.
“Nós percebemos todas as prioridades que são definidas em termos de vacinação de setores, dos setores das pessoas ligadas à saúde, sem dúvida, não nos queremos pôr, nem colocar em ‘bicos de pés’, mas queremos que olhem para nós como pessoas que estiveram e estão todos os dias na linha da frente e que merecem uma atenção especial”, sublinhou o responsável.
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o aumento dos preços dos bens essenciais durante o primeiro ano da pandemia de covid-19 só começou a abrandar em dezembro do ano passado. Instado a comentar o tema, o diretor-geral da APED salientou que “o aumento dos preços não reflete apenas, ou sobretudo não reflete um aumento da margem na distribuição alimentar”, considerando que “há vários mitos” que é preciso “desmistificar”.
Citou estudos do EuroCommerce que “indicam que as margens no retalho alimentar estão na ordem dos 2%, 3%, enquanto, por exemplo, na indústria de processados, de alimentação processada, as margens estão entre os 15% e os 30%, diferentes em função do produto”. A isso acresce, no caso da produção agrícola, segundo o EuroCommerce, que “só cerca de 17%, 18% da produção agrícola europeia é comprada diretamente pela distribuição”, sendo o restante comprado pela indústria, apontou.
“Portanto, estamos aqui perante alguns dados que permitem ter uma leitura um bocadinho mais equilibrada de como se forma o preço que nós apresentamos finalmente ao nosso cliente”, afirmou. “Os nossos associados do alimentar estão muito à vontade nesta matéria, na medida em que os preços refletem os preços de custo que estão associados quer à produção agrícola, que é diretamente comprada aos agricultores, quer a que é comprada à indústria”, disse o responsável da APED.
Por isso, “se houve aqui algum crescimento”, como referem os dados do INE, “são crescimentos residuais, mas que refletem também um aumento da procura e que tiveram que ser refletidos no preço final a entregar ao consumidor”, argumentou.
“Não se pense que este aumento de faturação é o reflexo do aumento dos preços finais ou sequer se isto representa um ganho da mesma proporção para o setor alimentar”, reforçou, apontando que devido à pandemia cada insígnia teve de realizar “um investimento brutal na ordem dos 2%, 3%” face ao orçamento para garantir a limpeza dos espaços, ter equipamentos de proteção individual, reestruturar lojas, para cumprir as regras de segurança e as recomendações da Direção-Geral de Saúde (DGS).
De acordo com o barómetro da APED, a faturação no retalho alimentar cresceu 8%, enquanto o retalho especializado registou uma queda de 15%, “valores que contribuem para o decréscimo total do setor de 1,5%”. Gonçalo Lobo Xavier salientou que o crescimento da faturação dos associados “não foi por via do aumento dos preços”, apontando que o retalho é constantemente auditado e fiscalizado pelas autoridades, em concreto pela ASAE. “E até agora não temos indicação de nenhuma contraordenação nesta matéria”, rematou.
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