Entre as economias da UE que mais caíram, Portugal foi o que controlou melhor o défice
Portugal foi o sexto país da União Europeia com a maior queda do PIB em 2020, mas o défice português ficou abaixo da média europeia. Nos outros países mais afetados, o défice foi bem maior.
Entre os sete países da União Europeia que mais viram a sua economia contrair em 2020 por causa da pandemia, Portugal foi o que conseguiu controlar melhor o défice, isto é, registar um saldo orçamental melhor do que a média europeia. Em países como Espanha, Itália, Grécia ou França o PIB caiu acentuadamente, mas o défice também foi dos maiores, mostram os dados divulgados pelo Eurostat esta quinta-feira.
Em Portugal, o PIB caiu 7,6% em 2020, a maior queda anual do período democrático, um ponto percentual acima da média da Zona Euro (-6,6%) e ainda mais da média da União Europeia (-6,1%). Este valor é justificado pelas diversas restrições implementações desde março do ano passado para controlar o impacto da pandemia.
Este desempenho colocou Portugal como o sexto país europeu em que a economia mais sofreu com a crise pandémica, superado por Espanha (-10,8%), Itália (-8,9%), Grécia (-8,2%), França (-8,1%), Croácia (-8%) — todos partilham uma dependência significativa do setor do turismo em relação aos outros países da UE.
Portugal no topo na queda do PIB, mas entre os melhores no défice em 2020
Contudo, no que toca às contas públicas, a história é outra. O défice de Portugal fixou-se nos 5,7% do PIB em 2020, abaixo da média da Zona Euro (-7,2%) e da União Europeia (-6,9%). O desequilíbrio orçamental ficou também abaixo das previsões do Governo inscritas no Orçamento Suplementar (6,3%) e no Orçamento do Estado para 2021 (7,3%), provocando duras críticas dos partidos que viabilizaram esses orçamentos.
Este foi o 11.º défice mais baixo, num total de 27 países, ficando na segunda metade da tabela — e o oitavo mais baixo da Zona Euro (em 19 países). Nenhum outro dos sete países cuja economia contraiu mais do que a média europeia registou um défice inferior à média.
Desde logo, Espanha registou a maior queda do PIB, mas também teve o défice mais elevado (-11% do PIB). Segue-se Malta com -10,1% do PIB, Grécia com -9,7%, Itália com -9,5% e França com -9,2%.
Entre os mais penalizados no PIB, apenas a Croácia aproximou-se ligeiramente da média europeia com um défice de 7,4% do PIB, mas ainda assim 1,7 pontos percentuais acima do de Portugal.
Por exemplo, Chipre registou o mesmo défice de Portugal (5,7%), mas com uma contração da economia menor (-5,1%) do que a da economia portuguesa. Aliás, há 11 países da UE que registaram um défice mais elevado que o de Portugal, mas uma contração da economia mais baixa.
O exemplo maior disso é o da Lituânia que registou um défice de 7,4% do PIB em 2020, bem acima do de Portugal, mas a sua economia apenas contraiu 0,8%, tendo o melhor desempenho da União Europeia — a exceção é a Irlanda cuja economia cresceu, mas há problemas de comparações neste indicador irlandês.
Considerando o nível de dívida pública, mesmo Itália e Grécia, que têm rácios de dívida pública superiores ao de Portugal, registaram défices maiores e tiveram uma queda do PIB mais expressiva em 2020. O outro país da UE mais próximo do caso de Portugal é o Chipre com um rácio superior a 115% e, como já referido, teve uma queda do PIB menor e um défice igual. Ou outros três países com dívidas superiores a 100% do PIB que se seguem — Espanha, França e Bélgica — tiveram todos défices maiores.
Tanto uma análise do Banco Central Europeu (BCE) como uma análise do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicavam que Portugal ia ter um dos estímulos orçamentais mais baixos da União Europeia. Esta semana um estudo do banco holandês ING alertava que Portugal é o país da União Europeia com o maior risco de ter uma recuperação lenta quando a crise pandémica terminar e um dos motivos prende-se com o menor grau de estímulo orçamental em 2020.
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