AICEP mediou encontro do Governo com suecos da Northvolt sobre lítio português
"Contacto do Ministério do Ambiente e Ação Climática com a Northvolt aconteceu, naturalmente, e por mão da AICEP, que promoveu essa reunião", confirmou o MAAC.
O Ministério do Ambiente e da Ação Climática confirma que participou numa reunião com os gigantes suecos produtores de baterias de lítio da Northvolt, promovida pela AICEP. O encontro teve em vista futuras negociações para a compra do lítio que venha a ser refinado em Portugal, sendo que a empresa sueca continua ainda a avaliar o potencial do país como fornecedor deste minério, sabe o ECO/Capital Verde.
Este contacto vem assim juntar-se a outros dois que já tinham acontecido previamente. Primeiro foi o presidente do AICEP, Luís Filipe de Castro Henriques, a ir a Estocolmo em 2019 para se reunir com os responsáveis da Northvolt. E depois foram os empresários suecos a vir a Portugal já em 2020 para se reunirem com a Galp, no mês de novembro, sabe o ECO/Capital Verde.
“O Presidente da AICEP esteve na Suécia, em 2019, para reunir com a Northvolt, no âmbito da missão da Agência de captação de projetos de investimento para Portugal, mas é importante esclarecer que a Galp não foi mencionada“, esclarece fonte oficial da AICEP.
Do lado do Governo, fica a confirmação que “o contacto do Ministério do Ambiente e Ação Climática com a Northvolt aconteceu, naturalmente, e por mão da AICEP, que promoveu essa reunião”, confirmou fonte oficial do ministério de Matos Fernandes.
Questionada sobre o encontro, a AICEP esclareceu entretanto que “está sujeita a deveres de estrito sigilo em relação à atividade de angariação de projetos de investimento pelo que não comenta casos em concreto”. A Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal refere também que “no âmbito da captação de projetos de investimento pode estabelecer contactos considerados necessários e úteis com todas as entidades públicas ou privadas que possam ser relevantes no processo de decisão favorável ao estabelecimento do projeto de investimento em Portugal”.
No entanto, “estes contactos só são promovidos se e quando solicitados pelas empresas” e a AICEP garante que “não faz recomendações sobre parcerias de negócios, nem tem um papel de intermediação de negócios entre privados”.
Sem confirmar a reunião ou as negociações com a Northvolt no final de dezembro de 2020 a Galp garantiu não existir ainda qualquer acordo com a empresa sueca para a venda do lítio refinado em Portugal. Menos de um mês depois, em meados de janeiro, a petrolífera anunciou que chegou a acordo com a Savannah Resources: vai pagar cerca de 5,3 milhões de euros para comprar 10% da mina do Barroso e no futuro vai ficar com metade do lítio ali extraído — cerca de 100 mil toneladas por ano.
Por seu lado, fonte oficial da Northvolt garantiu também no final de 2020 ao ECO/Capital Verde que Portugal tem todas as vantagens: cadeias de abastecimento curtas, fontes de energia renovável e exploração de depósitos nacionais de lítio.
“A Europa pode, sem dúvida, desempenhar um papel muito mais importante no abastecimento das matérias-primas de que a indústria de baterias elétricas necessita. Cadeias de valor curtas, fontes de energia renovável e exploração de depósitos domésticos são do nosso interesse. Portugal preenche muitas destes requisitos. No entanto, neste momento não estamos em posição de avançar mais detalhes”, disse no final do ano passado fonte oficial da empresa sueca.
Fundada em 2015, a sueca Northvolt foi já financiada pelo Banco Europeu de Investimento (BEI) em 350 milhões de euros e tem planos para construir as maiores fábricas de baterias de lítio da Europa, para automóveis elétricos e armazenamento de energia, que deverão atingir plena capacidade em 2023.
A Northvolt quer rivalizar com a norte-americana Tesla e está ativamente à procura de fornecedores de níquel, cobalto e lítio. Em Portugal já tinha também chegado à fala no início de 2020 com a Lusorecursos para comprar o lítio que esta empresa quer extrair e refinar na mina de Montalegre, no norte do país.
O ECO/Capital Verde sabe que o CEO da Lusorecursos, Ricardo Pinheiro, esteve na Suécia reunido com Paolo Cerruti, co-fundador e COO da Northvolt, ao qual enviou depois e-mails a dar conta da preocupação da empresa sueca poder estar em conversações com a Savannah Resources para construir uma refinaria em Portugal, o que a transformaria numa rival.
Em resposta, também por e-mail (ao qual o ECO/Capital Verde teve acesso) Cerruti garantiu ao empresário português que a Northvolt “não tem intenção de competir no mercado do lítio, mas sim assegurar acesso à matéria-prima para o fabrico de baterias”, acrescentando que “razões técnicas e legais impedem a empresa de avançar para um envolvimento mais profundo” com a Lusorecursos.
Neste momento, a empresa mineira está mesmo em risco de perder a sua licença mineira, de acordo com o ministro Matos Fernandes. O projeto está agora parado na Agência Portuguesa do Ambiente (APA), à espera de mais esclarecimentos por parte da empresa sobre as medidas de mitigação ambiental.
A mina de Montalegre prevê financiamento internacional na ordem dos 500 milhões de euros para a construção de uma refinaria de lítio mesmo ao pé da mina (que será em galeria, e não a céu a aberto, como em Boticas, na Mina do Barroso).
Também a Galp chegou ainda a sondar a Lusorecursos para obter na mina de Montalegre a matéria-prima necessária para refinar, mas a empresa portuguesa de prospeção e exploração mineira no norte e centro de Portugal acabou por recusar o negócio por considerar que não se trata de um negócio rentável extrair o lítio da mina para depois o transportar para ser refinado a vários quilómetros de distância.
(Correção: Na versão original desta notícia o ECO/Capital Verde referia a existência de uma reunião entre o AICEP, o Governo, a Galp e a sueca Northvolt, para debater o tema do lítio. O Ministério do Ambiente e da Ação Climática esclareceu entretanto que a Galp não esteve presente na referida reunião. Notícia atualizada às 19h45 de 13 de maio com os esclarecimentos da AICEP)
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