Preços sobem, mas Lagarde continua compras na dívida do euro
Pressão da inflação deverá levar o BCE a começar a repensar estratégia de compra de dívida. No entanto, a expetativa dos analistas é que uma revisão seja feita apenas nos próximos meses.
A inflação ainda não preocupa, mas é um tema inevitável dentro do Banco Central Europeu (BCE). A reunião do Conselho de Governadores desta quinta-feira não deverá trazer alterações aos estímulos monetários ainda que a presidente Christine Lagarde possa começar a preparar o caminho para uma retirada gradual. O foco será, por isso, a atualização das projeções económicas.
“A julgar pelos mais recentes dados, o acrónimo PEPP que foi introduzido no ano passado quando o BCE lançou o programa de compras de emergência pandémica (Pandemic Emergency Purchase Programme – PEPP) podia muito bem ser uma referência a pressões excecionais pandémicas sobre os preços“.
O trocadilho é feito por William De Vijlder, economista-chefe do grupo BNP Paribas, numa nota de antecipação do encontro. Referia-se ao impacto do pacote de compra de dívida — que tem atualmente 1,85 biliões de euros — na inflação.
"A julgar pelos mais recentes dados, o acrónimo PEPP que foi introduzido no ano passado quando o BCE lançou o programa de compras de emergência pandémica (Pandemic Emergency Purchase Programme – PEPP) podia muito bem ser uma referência a pressões excecionais pandémicas sobre os preços.”
Os últimos dados disponíveis indicam que a taxa anual se situou em 2% em maio na Zona Euro, contra 1,6% em abril e 0,1% em maio de 2020. Impulsionadas por um aumento anual de 13,1% nos preços da energia, as estimativas provisórias sugerem que os preços atingiram a meta do BCE pela primeira vez desde 2018.
“A próxima reunião do conselho de governadores e as novas projeções económicas são aguardadas com grande expectativa. Se o PEPP será prolongado após março de 2022 depende, em última análise, dos dados da inflação. Parece provável que o BCE adie essa decisão até ao final do verão para ter melhor visibilidade sobre o outlook de inflação”, antecipa De Vijlder.
"As perspetivas relacionadas com a pandemia da Covid-19 ainda são frágeis, com a ameaça de variantes mais contagiosas, que têm o potencial de permitir uma saída apenas gradual das restrições sociais. Em resultado disso, as pombas devem prevalecer sobre os falcões.”
A expectativa dos analistas é que a aceleração se mantenha devido a fatores como subida do preço das matérias-primas, contingências logísticas ou o regresso ao consumo por parte das famílias, tal como está a acontecer nos EUA. Apesar de a inflação na Zona Euro não ser tão elevada como nos EUA, o dilema em ambos bancos centrais é o mesmo: quando é que as compras de dívida devem diminuir.
Dos dois lados do Atlântico, as decisões deverão ser tomadas apenas nos próximos meses, mas os investidores têm tentado perceber sinais de quando vai acontecer. O último ajustamento do BCE foi contrário, com Lagarde a prometer que o ritmo de aquisições seria, ao longo de todo o trimestre, “significativamente mais elevado” do que nos primeiros meses do ano.
Esse reforço verificou-se em abril e maio, quando o total da dívida pública e privada adquirida ultrapassou os 80 mil milhões de euros. Mas Lagarde enfrenta pressões para inverter a estratégia. Portugal, por exemplo, já se está a preparar para esse cenário, como explicou esta quarta-feira a presidente do IGCP, Cristina Casalinho.
Compras mensais totais desde o início do PEPP
Fonte: Banco Central Europeu
“Os movimentos do mercado nos últimos meses – aumento das taxas de longo prazo, aumento dos spreads e valorização do euro (mais 4% face ao dólar norte-americano desde março) – indicam um aperto nas condições financeiras da Zona Euro. O BCE não pode ignorar isso“, considera Franck Dixmier, global CIO fixed income da Allianz Global Investors.
Este endurecimento, conforme indicado recentemente por responsáveis do banco central, reflete uma economia em melhoria na Zona Euro, impulsionada tanto pela aceleração da procura no exterior como — internamente — pela aceleração da vacinação.
“Porém, as perspetivas relacionadas com a pandemia da Covid-19 ainda são frágeis, com a ameaça de variantes mais contagiosas, que têm o potencial de permitir uma saída apenas gradual das restrições sociais. Em resultado disso, as ‘pombas’ devem prevalecer sobre os ‘falcões’, com a extensão de um ritmo de compra significativamente maior nos próximos três meses. A redução gradual (ou seja, uma moderação nas compras) não parece estar nos planos”, acrescenta.
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