Ministro das Infraestruturas pede fasquia “bem mais alta” na transição para a ferrovia
Pedro Nuno Santos defende que a fasquia dos objetivos europeus para a transferência modal para a ferrovia deve ser "bem mais alta". Ministro salienta importância do "investimento maciço".
O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, defendeu esta sexta-feira, a bordo de um comboio na linha do Norte, que a fasquia dos objetivos europeus para a transferência modal para a ferrovia deve ser “bem mais alta”.
“Se estamos convencidos de que a transferência modal para a ferrovia é uma das chaves para a sustentabilidade do setor dos transportes, então a fasquia terá de ser colocada bem mais alta“, disse o governante a bordo da Train Summit, que junta várias empresas do setor numa viagem de comboio entre Lisboa e Porto, em carruagens acopladas a um serviço Intercidades normal.
Pedro Nuno Santos falava acerca dos objetivos elencados na Estratégia para a Mobilidade Sustentável e Inteligente da Comissão Europeia, elaborada no Pacto Ecológico Europeu (European Green Deal).
O ministro referiu que “relativamente ao transporte ferroviário, esta estratégia traça como objetivos duplicar o transporte de mercadorias e triplicar o número de passageiros em alta velocidade até 2050, tendo em conta os níveis de 2015”.
Considerando os objetivos “muito ambiciosos” devido ao investimento necessário para os alcançar, Pedro Nuno Santos vê como sendo “claro” que “a realização destes objetivos implicará a construção de centenas de quilómetros de novas linhas em Portugal, milhares de quilómetros em toda a Europa”.
“Por outro lado, quando começamos a fazer contas, estes objetivos começam a parecer insuficientes para assegurar a transferência modal para a ferrovia de que tanto falamos”, considerou, advogando por isso o elevar da fasquia.
O ministro quantificou que “triplicar o transporte de passageiros em alta velocidade de 2015 a 2050 corresponde a um crescimento anual de 3%”, mas contrapôs recordando que “o transporte aéreo cresceu a uma média de 4% ao ano entre 2011 e 2019 na Europa”.
“O mesmo se passa nas mercadorias. Duplicar os volumes de tráfego até 2050 é equivalente a um crescimento anual de 2%. Isto será facilmente ultrapassado pelo crescimento dos volumes num cenário de crescimento económico moderado”, acrescentou.
Por isso, Pedro Nuno Santos defende que o cumprimento dos objetivos “só se conseguirá fazer com um investimento maciço, desde logo, investimento público”.
“Na ferrovia, em particular, na infraestrutura, é inevitável que o seja. Os montantes envolvidos, os prazos de retorno e o facto de a maioria dos benefícios serem externalidades faz com que o setor privado tenha dificuldade em assumir o investimento”, considerou.
Não querendo “de todo, menosprezar o papel do setor privado”, que tem “parceiros importantes”, o governante relevou o papel do investimento público por se tratar de “um esforço de uma escala tal em que apenas no conjunto de todos os envolvidos” será possível alcançar os resultados, defendeu.
“A escala de progresso que colocamos nas nossas ambições não será possível enquanto os níveis de investimento em toda a Europa permanecerem a níveis tão reduzidos como têm estado na última década”, vincou.
O ministro acrescentou ainda que os Planos de Recuperação e Resiliência, a implementar por toda a União Europeia, “são uma oportunidade para iniciar um novo ciclo de investimento” rumo ao “progresso”, e que “vá para lá da recuperação pós-pandemia”.
A Train Summit decorre hoje entre as estações de Lisboa – Santa Apolónia e Porto – Campanhã, e conta ainda com a presença de responsáveis da CP – Comboios de Portugal, Infraestruturas de Portugal, Fertagus, Medway, Takargo.
Estão também presentes o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Nuno Lacasta, o presidente da associação ambientalista Zero, Francisco Ferreira, o presidente da Plataforma Ferroviária Portuguesa, Joaquim Guerra, e o secretário de Estado da Mobilidade, Eduardo Pinheiro.
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