Estas sete câmaras decidem os vencedores e os vencidos das autárquicas
O resultado nacional define quem ganha e quem perde, mas há concelhos que por várias circunstâncias acabam por ter maior importância. É o caso de Almada ou de Coimbra em que a disputa está renhida.
O Partido Socialista é dado como um vencedor destas eleições autárquicas uma vez que parte do seu melhor resultado de sempre e não se prevê que fique sem muitas câmaras. Com maiores dúvidas está a interpretação dos resultados para o PSD e o PCP: ambos os partidos sofreram uma dura derrota há quatro anos e precisam de recuperar terreno nestas autárquicas. No caso dos social-democratas está em jogo a continuação da liderança de Rui Rio.
O atual líder do PSD terá de não só conquistar a presidência de mais câmaras, mas também perder por menos — é diferente perder com 10% ou 30% dos votos — e conquistar mais vereações nos concelhos em que for derrotado. Só assim conseguirá melhorar o resultado nacional, o qual contribuirá para a leitura sobre se é vencedor ou vencido neste ato eleitoral que antecede as eleições diretas no PSD. Em 2017, os social-democratas, juntando as coligações, não foram além de 30% dos votos a nível nacional.
Já o PCP tentará recuperar alguns bastiões que lhe foram “roubados” pelo PS, como é o caso de Almada. Os comunistas partem para estas eleições numa altura em que é oficialmente o suporte do Governo na Assembleia da República quando é para viabilizar o Orçamento do Estado, depois de o Bloco de Esquerda ter decidido votar contra no ano passado.
Lisboa: Moedas melhora resultado de 2017?
Não se espera que o PSD consiga tirar a câmara da capital ao PS, mas a percentagem da coligação de direita liderada por Carlos Moedas — que foi uma escolha pessoal de Rui Rio — será essencial para a interpretação do resultado do PSD. Em 2017, Teresa Leal Coelho, candidata escolhida por Passos Coelho, não foi além dos 11,22%, um resultado historicamente baixo para o PSD em Lisboa. Contudo, as contas não se fazem apenas por aqui, sendo necessário somar os 20,59% conseguidos por Assunção Cristas. A fasquia da coligação de Moedas, a qual inclui o CDS, fica assim nos 31% a 32%.
As sondagens até ao momento admitem que Moedas possa chegar a esse patamar, mas dificilmente melhorará e o mais provável é ficar aquém. Na sondagem da Aximage e na da Intercampus, o ex-comissário europeu fica pelos 27% e 25,7% das intenções de voto, respetivamente. Já na sondagem SIC/Expresso e na da TVI, o candidato do PSD chega aos 31% e aos 32,6% das intenções de voto, respetivamente, sendo que esta última coloca-o ligeiramente acima do resultado conjunto do PSD e CDS em 2017.
Ainda na capital joga-se o combate entre PCP e Bloco de Esquerda, principalmente agora que os comunistas admitem um acordo pós-eleições com PS quando em 2017 o tinha recusado (e foi o Bloco a dar a mão a Medina). Para já, o Bloco fica à frente do PCP nas sondagens, mas a crescente notoriedade de João Ferreira, que foi a votos no início do ano nas presidenciais, poderá ser testada para uma eventual sucessão a Jerónimo de Sousa. O ex-eurodeputado já indicou a Medina que, desta vez, está pronto para negociar um pelouro caso o PS não tenha maioria absoluta.
Porto: Escolha pessoal de Rio arrisca ainda pior resultado
Se Medina é quase certo na liderança de Lisboa, as dúvidas são ainda menores quando se fala na consolidação de Rui Moreira na segunda maior cidade do país. O candidato, que foi apoiado em 2013 indiretamente por Rui Rio, reúne mais de 50% das intenções de voto e é agora o incontestado líder da autarquia do Porto, a qual foi governada pelo agora líder do PSD durante 12 anos.
Para lhe fazer frente, Rio fez uma escolha pessoal com Vladimir Feliz, mas dificilmente conseguirá melhorar significativamente o resultado já historicamente baixo de Álvaro Almeida em 2017 (10,39%). As sondagens apontam para cerca de 12% e nenhuma admite um resultado mais expressivo como acontece no caso de Tiago Barbosa Ribeiro, candidato do PS, a quem a sondagem SIC/Expresso admite 25% das intenções de voto. A confirmar-se, será uma derrota particular para Rio pela sua ligação ao Porto.
Coimbra: a oportunidade de Rio para brilhar
Atualmente as duas maiores câmaras que o PSD tem são Braga (Ricardo Rio) e Cascais (Carlos Carreiras), cujos presidentes recandidatam-se e deverão ganhar. Porém, sem Lisboa nem Porto, o PSD precisa de câmaras de maior dimensão para ter argumentos para reclamar vitória na noite das eleições. Coimbra poderá ser essa autarquia e o PSD não fez por menos: no Parlamento levou a votos uma proposta para mudar a sede do Tribunal Constitucional de Lisboa para Coimbra, o que pode ser usado como trunfo eleitoral na campanha.
As sondagens apontam para uma disputa muito renhida entre o PS, liderado por Manuel Machado (atual presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses), e a larga coligação (tanto junta os habituais CDS e PPM como o VOLT, o RIR e o Aliança) do PSD liderada por José Manuel Silva: 33% das intenções de voto para o socialista face a 32% das intenções de voto para o social-democrata. Já uma sondagem do Público desta terça-feira mostra uma ligeira vantagem para o PSD. Esta será uma das autarquias que mais atenção terá na noite das eleições.
Almada: o desafio do PCP de recuperar terreno ao PS
A sul do Tejo, o facto de o PCP ter perdido Almada foi um dos baldes de água fria das eleições de 2017. Os comunistas terão agora de recuperar Almada, assim como o Barreiro, e têm a tarefa de manter Setúbal. A sondagem da Cesop – Universidade Católica Portuguesa para a RTP e para o Público apontava para uma vitória de Inês de Madeiros, a atual presidente socialista, mas a diferença entre PS e PCP cabia quase dentro da margem de erro. A decisão está nas mãos dos mais de 150 mil eleitores de Almada e todos os votos contam uma vez que a derrota anterior foi por apenas 313 votos.
Certo é que esta foi uma das câmaras que definiu a derrota do PCP nas autárquicas de 2017, o que levou os comunistas a apostarem forte este ano com a ex-autarca de Setúbal, Maria das Dores Meira, a qual já sofreu uma gafe ao chamar “setubalenses” (a quem se dirigiu durante 15 anos) aos habitantes de Almada num discurso. Para o Barreiro, que também passou para o PS há quatro anos, os comunistas avançaram com Carlos Humberto, o qual já foi presidente desta câmara há 12 anos.
Figueira da Foz: a surpresa de Santana Lopes pode afetar PS e PSD
Ainda foi tentado um acordo entre Rui Rio e Pedro Santana Lopes, que curiosamente disputaram as diretas no PSD após as autárquicas de 2017 na sequência da demissão de Pedro Passos Coelho, mas não houve entendimento. Rio terá sido surpreendido pela candidatura independente de Santana Lopes, o qual tenta o regresso a uma autarquia que liderou há mais de 20 anos, e a concelhia social-democrata tentou impugnar as listas do movimento independente por duas vezes, mas sem sucesso.
Do lado do PSD acabou por avançar Pedro Machado, mas segundo as sondagens deverá ter uma derrota significativa com apenas 8% das intenções de voto. Já Santana Lopes deverá ganhar, de acordo com a sondagem do ICS e do ISCTE para a SIC e o Expresso, com 47% das intenções de voto, acima dos 35% conseguidos pelo candidato do PS e atual presidente da câmara, Carlos Monteiro. Outra sondagem do semanário Novo também dava a vitória ao ex-líder do PSD. Este resultado poderá ser assim uma oportunidade perdida para o partido de retirar uma câmara ao PS e aumentar a sua quota de votos.
Moura: o Chega vai conseguir uma câmara?
Perante o sucesso do presidente do Chega, André Ventura, nas eleições presidenciais de janeiro de 2021 no concelho de Moura, especula-se que esta autarquia poderá ser a primeira do partido. O deputado do Chega conseguiu 30,85% (1.430 votos) enquanto Marcelo Rebelo de Sousa, que a nível nacional teve uma vantagem avassaladora, registou 39,12% (1.813 votos). Este pequeno concelho alentejano no distrito de Beja, que há quatro anos passou de mãos comunistas para socialistas, poderá assim ser uma surpresa para o partido e Ventura anteviu essa oportunidade, fazendo parte da candidatura à Assembleia Municipal. A presidente da câmara candidata-se Cidália Figueira.
Amadora: “sim” de Rio a Suzana Garcia vai fazer ricochete?
Não foi uma escolha sua, mas também não colocou entraves como fez noutros concelhos: a polémica candidata Suzana Garcia à Amadora que recebeu alguma resistência interna no partido. Certo é que tanto a concelhia da Amadora como a distrital de Lisboa acabaram o aprovar a candidata e Rio não disse que não. Ao lado desta numa ação de campanha, o presidente do PSD defendeu-a: “Obviamente que cada um tem o seu estilo e cada um tem a sua maneira, mas é evidente que estamos a caminhar para um sistema cada vez mais anquilosado“, disse a propósito dos cartazes “antissistema” que Suzana Garcia tem colocado não só no concelho a que se candidata mas também à frente do Parlamento. Por causa da sua notoriedade na televisão, tem tido maior cobertura nacional e impacto nestas eleições, mas as sondagens indicam que está longe de tirar a presidência a Carla Tavares do PS e até poderá ter menos votos do que em 2017.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Estas sete câmaras decidem os vencedores e os vencidos das autárquicas
{{ noCommentsLabel }}