Casa Relvas em busca do selo de produção sustentável para os seus vinhos
A empresa familiar está neste momento a trabalhar para conseguir para os seus vinhos o novo selo de certificação de Produção Sustentável do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo.
Para perceber melhor o que muda na produção de vinho de uma empresa que se associe ao Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, o ECO/Capital Verde esteve à conversa com Nuno Franco, consultor de viticultura e enologia na Casa Relvas, uma das empresas associadas do PSVA e que neste momento está a trabalhar para conseguir o seu selo de certificação de Produção Sustentável, ainda este ano.
“Orgulhamo-nos de ser uma empresa pioneira no Programa de Sustentabilidade de Vinhos do Alentejo e com melhor classificação (3,8 de 4). Mas acreditamos na importância de uma atuação sustentável em todas as dimensões: social, ambiental e económica”, garante a empresa.
Este projeto familiar foi iniciado em 1997 em São Miguel de Machede, em Redondo, por Alexandre Relvas. Na Herdade de São Miguel plantaram-se em 2001 os primeiros 10 hectares de vinha. No ano seguinte juntou-se ao projeto Nuno Franco, consultor de viticultura e enologia, e continuou a plantação de mais 25 hectares de vinha. Em 2003 foi construída a adega, com capacidade para vinificar 500 toneladas de uvas, e no ano seguinte foram lançadas no mercado as primeiras 26.000 garrafas de vinho tinto. Em 2010 chegaram a um milhão de garrafas vendidas.
Hoje a empresa tem já três herdades, 70 trabalhadores, é gerida já por duas gerações (pai e filhos) e a Casa Relvas marca presença no mercado com vinhos de 12 marcas diferentes. Ao todo são 750 hectares de floresta de montado, 250 hectares de olival (tradicional e intensivo, em copa e em sebe) e 350 hectares de vinha, 95% em produção integrada e 5% em produção biológica. Produzem anualmente 6 milhões de garrafas de vinho, 70% das quais são exportadas para mais de 30 países.
O que é que mudou nos campos e nas adegas da Casa Relvas desde que se associou ao PSVA?
Nos solos estamos a semear prados permanentes, de acordo com o tipo de solo que temos nas várias vinhas que possuímos. Os prados permanentes, para além de reterem o carbono, minimizam as fertilizações com azoto porque nestes prados temos leguminosas que já fazem a sua contribuição com azoto. Minimizamos a erosão, aumentamos a taxa de infiltração e tentamos aumentar o teor de matéria orgânica no solo, criando condições favoráveis para uma maior retenção de água.
Na adega temos um problema que é, para além do consumo de água, o custo associado ao tratamento dessas águas residuais, já que a água vai para uma ETAR e são custos pesados e gestões difíceis. Mas, mesmo aqui, fazemos reaproveitamentos. Primeiro, fazemos um pré-tratamento na nossa ETAR e depois descarregamos na ETAR de Évora. Acabamos por “apanhar” as nossas águas tratadas e de toda a aldeia para as nossas charcas, para podermos irrigar a vinha.
E tendo em conta que a água é um bem cada vez mais escasso no Alentejo, como é que fazem a gestão hídrica?
Nós fazemos várias monitorizações durante o ciclo da água no solo, vemos como é que a planta está em termos hídricos e fazemos observações da vinha, isto tudo duas vezes por semana. Gastamos 1 milhão e 500 mil litros de água para regar por ciclo. Por isso, a gestão hídrica é fundamental e o programa veio-nos ajudar a olhar para isto com olhos de ver. Também começamos a monitorizar a água na adega por zonas e fizemos reaproveitamento de águas. Por exemplo, no enxaguamento das garrafas, usamos água limpa, que depois é reaproveitada para lavagens de pavimento, entre outras coisas. E, com isto, reaproveitamos cerca de 6 a 7 metros cúbicos por dia.
"Nos últimos anos obtivemos uma redução de 30% da água gasta por garrafa produzida e 100% da água usada na adega é reciclada para irrigação das vinhas.”
Na Casa Relvas, qual é o rácio de litro de água por litro de vinho?
O nosso rácio de litro de água por litro de vinho é de 1,6. Mas há cinco anos atrás andava nos 4, quase 5. Portanto, houve um decréscimo significativo.
E relativamente ao pasto das ovelhas? Como é que isto se processa?
As ervas crescem durante todo o ano, mas principalmente no outono e no inverno, que é quando têm mais água. Então nós, a seguir à vindima, quando não há uva no campo, e já que temos as vinhas todas com cercas, pomos lá ovelhas. As ovelhas acabam por manter as ervas infestantes baixas, controlam-nos os enrelvamentos, e os seus dejetos acabam por contribuir como matéria orgânica para o solo. Desta forma, além de reduzirmos o uso de fertilizantes químicos, conseguimos evitar o uso de máquinas para cortar as ervas, o que se traduz em poupança, mas também em menos poluição.
"Introduzimos ovelhas nas vinhas para, através da pastagemno inverno, reduzir o uso de herbicidas e de adubos químicos, com 50% da fertilização é feita de composto animal e de resíduos orgânicos da adega.”
Além das mudanças no tratamento das vinhas, que outros aspetos têm alterado para tornar o vosso produto final mais sustentável?
Tentamos produzir garrafas com menos vidro para as tornar mais leves e poupar nos recursos. Além disso, a maioria das nossas embalagens secundárias são de cartão feito a partir de papel reciclado. Também já fazemos enchimentos em garrafas PET, mas, para já, estas só têm saída para a Escandinávia. Neste caso, como a garrafa é toda feita com o mesmo material, facilita a sua reciclagem.
Com a associação ao PSVA, o que querem levar para o futuro?
Querermos deixar o ecossistema melhor, queremos deixar uma terra melhor do que aquela que encontramos aos nossos filhos e continuar a fazer vinhos nestas condições climáticas que são únicas.
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