Porto ataca líder da TAP e insiste na extinção da companhia
A Associação Comercial do Porto critica a recusa de Christine Ourmières-Widener em ter mais voos fora de Lisboa, reafirmando que intervenção do Estado “não vai resolver problemas estruturais” da TAP.
A Associação Comercial do Porto não gostou de ouvir a presidente da TAP dizer que tinha ficado “surpreendida com a magnitude da reação” dos empresários nortenhos relativamente à escassez de serviço da transportadora aérea na região, reiterando a oposição à intervenção do Estado na companhia, que “obedece a uma estratégia irracional de investimento público, contrária aos interesses económicos do país e que não assegura a viabilidade futura da empresa”.
“A atual TAP devia ser extinta e, no seu lugar, criada uma nova companhia aérea, que salvaguardasse os ativos existentes e prestasse um melhor serviço ao país, em linha com as opções tomadas noutros países europeus, como Suíça (Swissair), Bélgica (Sabena) e Itália (Alitalia), este último caso com a particularidade de ter sido hoje [sexta-feira] decretada a extinção”, sublinha a associação de comércio e indústria liderada por Nuno Botelho.
Numa entrevista ao Expresso, a presidente da TAP, Christine Ourmières-Widener, reconhece a “frustração” dos operadores da região e diz que está “a tentar dar o mais que [pode] ao Porto numa base sustentável”, assegurando que “se pudesse fazer mais voos para o Porto, com um bom caso de negócio, claro que gostaria de os fazer”.
“É óbvio que é impossível ter dois hubs, até porque não iria funcionar de um ponto de vista de rentabilidade e eficiência. (…) Entendo o desapontamento do Porto, mas fizemos muitos estudos baseados em números e factos e tentámos explicar a situação”, sinalizou a gestora, argumentando igualmente com o facto de a tripulação da TAP estar “essencialmente baseada em Lisboa”.
Esta sexta-feira, a ACP emitiu um comunicado a manifestar a sua “preocupação” com estas afirmações de Christine Ourmières-Widener, que “reforçam a ideia, já diversas vezes manifestada por esta associação, de que a intervenção do Estado na TAP é um processo mal conduzido e que não vai resolver os problemas estruturais que, há décadas, tornam a companhia aérea numa empresa inviável”.
Recusando “qualquer tentativa de menorização do seu papel” e prometendo não abdicar da intervenção nesta matéria, lembra que alertou há mais de um ano para a “irracionalidade” deste dossiê, a nível político e económico. Em julho de 2020 interpôs mesmo uma providência cautelar contra a injeção de 1,2 mil milhões de euros na TAP, que acabou por ser rejeitada pelo tribunal, mas “alertou os portugueses para a necessidade de um maior escrutínio sobre esta aplicação de dinheiro público”.
Já em setembro deste ano, Nuno Botelho dirigiu uma carta à Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia, fundamentando que a melhor solução passaria pela extinção da TAP e pela criação de uma nova companhia aérea.
Como seria essa empresa de “base zero”? Conservaria os ativos estratégicos — hub da Portela e ligações ao Brasil, EUA e África lusófona — e asseguraria as rotas intercontinentais a partir de Lisboa, mas de forma complementar, visando o equilíbrio territorial, seriam disponibilizados apoios à criação de rotas nacionais e europeias noutros aeroportos portugueses, “devidamente geridos pelas entidades regionais de promoção externa”.
Esta semana, o ministro das Infraestruturas voltou a sublinhar a importância de o Estado ajudar a TAP, explicando o papel que a companhia aérea tem no desenvolvimento da economia nacional, sobretudo no que toca às exportações. Pedro Nuno Santos referiu que é “fácil e tentador” discutir o dinheiro que vai ser investido na TAP, mas alertou que “muitos querem ficar com o negócio” da empresa portuguesa, referindo-se às companhias aéreas internacionais.
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