PIB tem de crescer 2,4% para atingir meta anual do Governo, mas Ómicron ameaça retoma

A economia tem de crescer 2,4% em cadeia no 4.º trimestre para atingir o crescimento anual de 4,8% estimado pelo Governo. Porém, a nova variante, a subida de casos e mais restrições ameaçam a retoma.

A economia portuguesa pode desacelerar na reta final do ano, mas não demasiado se for para cumprir a meta do Governo. Após um crescimento em cadeia de 2,9% no terceiro trimestre, o PIB tem de crescer 2,4% no quarto trimestre para que no conjunto do ano a economia cresça 4,8%, tal como estimado pelo Ministério das Finanças. Mas o agravamento da situação pandémica aumenta a incerteza sobre esses números.

Segundo os cálculos do ECO com base nos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) atualizados esta semana, o PIB terá de apresentar um crescimento em cadeia de 2,4% no quarto trimestre, o que corresponderia a um crescimento de 6,4% em termos homólogos. Caso se concretize, o PIB português estará nesse trimestre a 0,9% de alcançar o nível de produção líquida do quarto trimestre de 2019, sendo que atualmente a distância é de 3,2%.

O gabinete de estatísticas irá divulgar no final de janeiro do próximo ano, daqui a dois meses, o que aconteceu nesta reta final do ano, mas já se conhecem alguns contratempos que podem colocar em causa estes números. É o caso da recente subida de casos de Covid-19 na Europa e o surgimento da nova variante Ómicron, o que já teve impacto nos mercados financeiros, nas viagens internacionais e até em algum comércio como a restauração, um setor importante em Portugal.

“Antes que haja maior clareza sobre a variante Ómicron, a expectativa dominante é de continuação da recuperação mundial e nacional, ainda que a um ritmo menor do que o anteriormente considerado“, afirmava o Fórum para a Competitividade na nota de conjuntura divulgada esta quinta-feira, assinalando que “ambos os sinais [mais casos e variante] têm um claro potencial de abrandamento da atividade, desde logo a nível internacional“.

Numa nota de conjuntura também divulgada esta quinta-feira, o BCP admitia que “no quarto trimestre, a trajetória de recuperação do PIB poderá, contudo, ser mais moderada“, em comparação com o terceiro trimestre. Os economistas do banco notam que os indicadores disponíveis apontam para uma aceleração da atividade económica em outubro, mas o “agravamento da situação sanitária poderá condicionar o desempenho do PIB no conjunto do trimestre, sobretudo por via do abrandamento do turismo“. Assim, o BCP reviu em baixa o PIB anual para 4,5%.

A partir de 1 de dezembro, Portugal entrou no estado de calamidade e introduziram medidas para conter o crescimento dos casos, sem encerrar nenhuma atividade. Passaram a ser exigidos mais testes, mesmo a vacinados, e o teletrabalho voltou a ser recomendado, por exemplo, mas também apertaram as regras para os turistas que chegam ao país de avião. Estas medidas, a par do aumento da perceção de risco, podem condicionar a atividade económica, apesar de não ser comparável à intensidade do impacto de outras fases da pandemia.

Até ao momento, o quarto trimestre deste ano estava a correr significativamente melhor do que o quarto trimestre do ano passado, período em que houve um agravamento da pandemia mais cedo e mais rápido — ainda assim, o PIB cresceu ligeiramente em cadeia nesse trimestre, aguentando melhor do que o antecipado pelos economistas. Em relação a outubro e novembro deste ano, o indicador diário de atividade económica do Banco de Portugal sinalizava um crescimento expressivo até à semana terminada a 28 de novembro.

Indicador do BdP continua a crescer face a 2020

Fonte: Banco de Portugal.

No início de novembro, com base em dados que entretanto foram atualizados pelo INE, o ISEG apontava para um crescimento do PIB entre 1 a 2% em cadeia (face ao trimestre anterior) no quarto trimestre, o que se traduziria num crescimento de 5% a 6% em termos homólogos. Nessa altura, os economistas admitiam que ainda era possível o PIB português crescer 4,8% no conjunto do ano, mas lembravam que havia várias “limitações” no quarto trimestre, nomeadamente em “alguns setores da produção industrial”.

Já a Comissão Europeia nas suas novas previsões a meio de novembro, ainda que as tenha melhorado para Portugal, apontava para um crescimento de 1,1% no quarto trimestre, o que deixaria o PIB anual com um crescimento de 4,3%.

No próximo ano, salvo alguma surpresa negativa — como uma maior disrupção das cadeias de valor mundiais, um maior impacto do aumento do preço dos combustíveis ou uma incerteza duradoura pós-eleições –, a economia portuguesa deverá conseguir recuperar totalmente no primeiro semestre. A expectativa do Governo, contando com o OE2022 (que foi chumbado), era crescer 5,5%. Em políticas invariantes, ou seja, sem o Orçamento, mas com o PRR, o Conselho das Finanças Públicas e o Fundo Monetário Internacional apontam para 5,1%.

Apesar de Portugal ter crescido acima da média europeia nos últimos dois trimestres, a retoma portuguesa continua a ser mais lenta do que a retoma europeia. De acordo com os cálculos do ECO, com base nos dados do Eurostat, o PIB da Zona Euro está a apenas 0,6% do nível pré-crise pandémica, sendo que deverá recuperar totalmente no quarto trimestre deste ano.

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