FMI corta previsão da Zona Euro para 3,9% em 2022
A nova variante, as pressões de preços e problemas nas cadeias de abastecimento levam o Fundo Monetário Internacional a rever em baixa as estimativas de crescimento económico em 2022.
A atualização do World Economic Outlook não traz boas notícias. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma maior desaceleração da economia em 2022, face às previsões de outubro, incluindo na Zona Euro. Alemanha e Espanha, dois dos principais parceiros económicos de Portugal, registam das maiores revisões em baixa do crescimento do PIB este ano. Entre as razões para este corte nas previsões está a nova variante, as pressões de preços e os problemas nas cadeias de abastecimento.
Na atualização do World Economic Outlook divulgada esta terça-feira, o FMI aponta para um crescimento do PIB da Zona Euro de 3,9% em 2022, menos quatro décimas do que na previsão anterior. A concretizar-se, esta expansão da economia europeia traduz-se numa travagem significativa face ao crescimento de 5,2% que se estima que se tenha registado em 2021.
O Fundo explica que no caso da Zona Euro são as “disrupções” da pandemia e os prolongados “constrangimentos” na oferta que estão a condicionar a recuperação da economia, após o choque da crise pandémica. Ainda assim, esta revisão dos números é inferior à registada nos EUA onde o crescimento da economia foi revisto em baixa em 1,2 pontos percentuais para 4% em 2022. Os EUA, em conjunto com a China, explicam a maioria da revisão em baixa do crescimento mundial de 4,9% para 4,4% em 2022.
Dentro da Zona Euro, maior revisão em baixa é protagonizada pela Alemanha, com o PIB a crescer 3,8%, menos oito décimas do que em outubro — de notar que a economia alemã só deverá ter recuperado 2,7% em 2021, um dos piores registos da União Europeia. Esta revisão maior do FMI no caso da Alemanha é justificada pela maior exposição da economia aos choques na cadeia de abastecimento.
No caso de Espanha, o crescimento do PIB é revisto em baixa para 5,8%, menos seis décimas do que em outubro, o que ainda assim representa uma aceleração face aos 4,9% que se estima que tenha crescido em 2021. A economia espanhola, tal como a portuguesa, está mais atrasada na retoma do que outras economias europeias, principalmente por causa da maior exposição ao setor turístico.
Recuando às previsões de outubro, o FMI, que não atualiza agora a projeção para Portugal, via o PIB português a crescer 5,1% em 2022, após um crescimento de 4,4% em 2021. Para 2023 a expectativa era de uma forte desaceleração para uma expansão de 2,5%.
Gita Gopinath, vice-diretora-geral do FMI e ex-economista-chefe do Fundo, explica num texto do World Economic Outlook que a desaceleração do crescimento económico é um fenómeno mundial e tal deve-se às disrupções das cadeias de valor mundiais, a uma taxa de inflação mais elevada, a uma dívida em níveis recorde e a uma incerteza persistente. A expectativa do Fundo é que a Ómicron continue a fazer estragos durante o primeiro trimestre deste ano, mas que depois irá desvanecer.
Para 2023, o FMI revê em alta o crescimento económico mundial, principalmente nos Estados Unidos e na Zona Euro. Curiosamente é em Espanha onde a diferença é maior com uma revisão em alta de 1,2 pontos percentuais para um crescimento do PIB espanhol de 3,8% em 2023, o maior entre as economias avançadas, o que poderá ser uma boa notícia para Portugal dada a dependência à economia espanhola.
Neste momento, à entrada do terceiro ano da pandemia, o FMI calcula que, em termos económicos, a crise pandémica vá provocar perdas na ordem dos 13,8 biliões de dólares até 2024, quando comparado com as previsões pré-pandemia. Porém, há diferenças significativas entre economias avançadas e as em desenvolvimento ou emergentes: as primeiras deverão retomar os níveis pré-pandemia em 2022 ao passo que as segundas demorarão muito mais tempo.
Além disso, o Fundo nota que havia mais 70 milhões de pessoas a viver em pobreza extrema em 2021, em comparação com o que se esperaria numa situação sem pandemia, o que atrasa o progresso da redução da pobreza “em vários anos”.
Inflação deve desacelerar, mas política monetária tem de tirar o pé do acelerador
O FMI admite que foi forçado a rever em alta as previsões da evolução da taxa de inflação em 2022 tanto nas economias avançadas como nas restantes, dado que as “elevadas pressões nos preços vão persistir durante mais tempo”.
Porém, o Fundo também diz que os preços da energia e dos alimentos deverão desacelerar ao longo deste ano, acreditando nos mercados de futuros. Além disso, “assumindo que as expectativas da inflação mantêm-se ancoradas, espera-se que a inflação deverá fraquejar em 2023“. Ou seja, desde que os agentes económicos continuem a acreditar que os bancos centrais conseguem controlar a inflação, os preços deverão acalmar, como mostra o gráfico.
Assim, o FMI espera que o “extraordinário” apoio da política monetária na Zona Euro e no Japão deverá manter-se, ainda que numa versão mais light, até que a recuperação económica seja mais sólida. Já nos Estados Unidos o mais provável é que os estímulos monetários sejam retirados gradualmente uma vez que a retoma norte-americana está mais avançada e, por isso, as taxas de juro deverão voltar a níveis mais elevados.
A diferença entre os Estados Unidos e a Zona Euro é visível nos dados da inflação examinados pelo FMI. Na economia norte-americana a pressão nos preços já não é apenas na energia, mas mais ampla, abrangendo outros bens e serviços. Já na economia europeia a energia continua a ser a componente que dá um contributo maior. Estas dinâmicas poderão explicar as diferentes decisões de política monetária nos dois lados do Atlântico.
A recomendação do próprio FMI está em linha com o que a Fed e o Banco Central Europeu indicaram que vão fazer em 2022: às economias onde a inflação é generalizada e a retoma é forte recomenda que a política monetária se normalize; às economias onde a inflação core (inflação subjacente) se mantenha moderada, a política monetária pode continuar acomodatícia.
Contudo, o Fundo admite que há incerteza à volta da evolução futura da inflação, principalmente por causa das disrupções nas cadeias de abastecimento, na volatilidade do preço da energia e nas pressões inflacionistas nos salários em certos setores.
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