Rússia já é o terceiro fornecedor de gás a Portugal, mas Governo diz que “é prematuro falar em dependência”
Portugal quintuplicou as suas importações de gás natural à Rússia, que é hoje o terceiro fornecedor, depois da Nigéria e EUA. O Governo garante que "não há dependència" e tem outros fornecedores.
No espaço de apenas um ano, Portugal mais do que quintuplicou as suas importações de gás natural proveniente da Rússia. As estatísticas da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) mostram que o gás russo só entrou no pacote de compras de gás a país estrangeiros em novembro de 2019, com uma compra única nesse ano de quase 92 milhões de metros cúbicos, que chegaram a território nacional de navio, ao Porto de Sines, sob a forma de gás natural liquefeito (GNL).
Um valor ainda baixo (2%) face às importações da Nigéria, EUA, Qatar, Argélia ou mesmo Espanha. No entanto, no ano seguinte, 2020, os dados da DGEG já dão conta de quase 543 milhões de metros cúbicos de gás comprados por Portugal à Rússia, ou seja, uma quantidade mais do que cinco vezes superior (de 2 para 10%).
A encomenda ainda aumentou um pouco em 2021, para os 573 milhões de metros cúbicos de gás russo chegar ao Porto de Sines, mas com uma grande diferença: no ano passado a Rússia passou a terceiro fornecedor de gás natural de Portugal, a seguir à Nigéria e aos EUA.
Estamos agora a falar de um cabaz no qual a Nigéria é responsável por 49,5% (2,8 mil milhões de metros cúbicos) e os Estados Unidos garantem 33,3% (quase 2 mil milhões de metros cúbicos), enquanto a Rússia chega já a garantir 10,2% das importações de gás.
Apesar disso, o Governo garante que “é prematuro falar em dependência da Rússia” no gás e acrescenta que “não se antevê uma disrupção profunda do fornecimento a Portugal, resultado de uma potencial interrupção do fornecimento por parte da Rússia”, disse fonte oficial do Ministério do Ambiente e da Ação Climática em declarações ao ECO/Capital Verde.
“Há que considerar também os atuais níveis de armazenamento de gás natural em Portugal (78,8% atualmente), que é o mais elevado da Europa em termos percentuais”, reforçou a mesma fonte.
A DGEG não tem ainda disponíveis as estatísticas de 2022, mas ao Expresso confirmou que este ano Portugal ainda não comprou gás a Moscovo. No primeiro mês do ano, 60,2% do gás que entrou no país veio da Nigéria, 29,1% da Nigéria e 13,2% de Trinidade e Tobago, indica o Expresso.
Como não tem jazidas de gás natural, Portugal importa 100% do que consome, confirma a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos. As estatísticas da DGEG mostram que o total de gás que o país compra para suprir as suas necessidades anda entre os 5,5 e os 5,9 mil milhões de metros cúbicos, sendo 2019 um dos anos em que mais se importou gás.
O aprovisionamento de gás natural para o mercado português é efetuado através de contratos “take-or-pay” de longo prazo, com os principais países fornecedores, refere o regulador. Os fornecedores também têm vindo a variar, sobretudo com a queda a pique da importância da Argélia (na sequência do encerramento do gasoduto Magrebe-Europa, em 2019, devido a conflitos geoestratégicos com Marrocos), e a entrada da Rússia.
Em 2018, a Argélia exportava para Portugal, por gasoduto, 1,3 mil milhões de metros cúbicos de gás, valor que em 2019 caiu logo para 353 milhões de metros cúbicos, 440 milhões em 2020 e apenas 71 milhões de metros cúbicos em 2021.
A lista de parceiros comerciais de Portugal no gás natural inclui a Espanha, a Nigéria, o Quatar, os EUA, mas também Holanda, Trinidad e Tobago, Angola, Guiné Equatorial, entre outros, mas recentemente tem vindo a reduzir-se. Em 2021, Portugal só teve cinco fornecedores, face aos 11 de 2020 e aos oito em 2019.
Visão contrária tem o Governo: “O cenário atual é de uma maior diversificação de origens de gás, se considerarmos que até 2010 as importações nacionais de gás provinham praticamente de 2 países (Nigéria sob a forma de GNL e Argélia) e atualmente são 8 ou 9 países de origem, consoante o ano. As importações da Rússia representaram apenas 10% do total, pelo poderá facilmente ser substituído por outras origens. O mercado de gás é global e existem diversos fornecedores. Acrescenta-se que, por exemplo, no ano de 2019, Portugal importou gás de outros países, como Qatar ou Trinidade e Tobago”.
O gás natural chega a Portugal através de gasodutos (ligam Campo Maior a Badajoz e Valença do Minho a Tuy) ou por mar, via Porto de Sines, onde é armazenado no terminal de GNL que a REN opera.
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