Março marca o (novo) regresso ao escritório. Aposta-se em modelos híbridos e novas formas de flexibilidade
Entre torneiras ativadas por infravermelhos, pedais que abrem portas e apps de reserva de espaços, as empresas preparam a volta ao escritório. Quase sempre num regime híbrido. E há quem vá mais longe.
Desde que o Governo deixou cair a recomendação do teletrabalho, a 17 de fevereiro, que várias empresas voltaram a abrir as portas dos escritórios às suas pessoas. A PHC Software faz parte das companhias que se preparam para o regresso. Amanhã, dia 1 de março, os colaboradores já podem ser recebidos nas instalações da tecnológica, num modelo que já tinha sido implementado, mas que, com o evoluir da pandemia, teve de ser suspenso. Os trabalhadores da Vodafone terão de esperar até à próxima segunda-feira, para um regresso híbrido ao escritório. Há empresas que vão mais além e já estão a pensar como é que podem incluir a flexibilidade no próprio ADN da organização. Tornar os horários de trabalho mais flexíveis, dar possibilidade de períodos de full remote e reduzir jornada laboral são medidas em análise.
“Regressaremos ao escritório a 1 de março, no nosso modelo de trabalho híbrido já implementado em setembro. Este modelo, intitulado ‘3A 2R 1P’, significa ‘Alta responsabilidade com Alta flexibilidade para Alta produtividade’, e foi totalmente projetado para ser ágil, adaptável e produtivo, uma vez que é ajustável às necessidades de cada colaborador e respetivas equipas”, começa por explicar Luís Antunes, people experience director da PHC Software.
Neste modelo estão previstos dois dias por semana obrigatórios e variáveis de trabalho no escritório, ajustados a cada equipa. É dada ainda a possibilidade a todos os colaboradores de trabalhar dois períodos em full remote em qualquer localização geográfica.
“Desta forma, conseguimos combinar o potencial produtivo de deep work do modelo remoto com o incentivo e colaboração do modelo presencial, encontrando o equilíbrio perfeito entre a máxima produtividade e uma cultura forte e colaborativa”, defende Luís Antunes.
O mês de março marca mesmo o regresso a uma certa normalidade em várias organizações que, depois de meses a trabalharem em modelos por vezes totalmente remotos, pretendem ter novamente as pessoas nos locais de trabalho habituais. Contudo, entre as empresas ouvidas pela Pessoas não existe o desejo de voltar aos regimes que vigoravam antes da pandemia, mas sim o de abraçar modelos híbridos.
Um inquérito recentemente levado a cabo no LinkedIn da Pessoas, que perguntava aos seguidores qual o plano das suas empresas para o futuro, concluiu que 64% das entidades empregadores dos inquiridos tencionavam implementar um modelo de trabalho híbrido. 23% pretende regressar ao escritório a 100%, 9% avançar para full remote e apenas 4% acabar com o horário fixo.
“Durante os meses da pandemia, os espaços de trabalho da Vodafone foram transformados ou adaptados a várias finalidades, que se manterão neste novo ciclo: colaboração (espaços sem monitores individuais, com sistema de projeção coletiva e quadros de escrita), concentração (postos de trabalho tradicionais com um monitor) ou reunião. A Vodafone Portugal continuará a adaptar-se à evolução das circunstâncias epidémicas, tendo por base o seu modelo de trabalho híbrido, implementado para garantir flexibilidade e um bom equilíbrio entre a presença no escritório (sem dias fixos) e o trabalho remoto, e fundado em pilares como a confiança e a autonomia”, avança fonte oficial da operadora.
Até 6 de março, inclusive, a companhia mantém a aplicação da exceção ao modelo de trabalho híbrido para os seus colaboradores. Mas, a partir do dia seguinte, 7 de março, volta a aplicar-se a regra geral. Ou seja, em média a realização de dois dias de trabalho presencial por semana e de três dias de trabalho remoto.
Fnac, Repsol e Altice estão também com os seus planos de regresso já em marcha. A regra é “regressar ao modelo de trabalho que tínhamos antes, ou seja híbrido: até dois dias por semana fixos de teletrabalho, com rotação de equipas”, diz Joaquim Almeida, diretor de recursos humanos da Fnac Portugal, à Pessoas.
O mesmo acontece na Repsol, onde foi implementado um regime de três dias de trabalho no escritório e dois dias de teletrabalho. Isto “sempre que as funções assim o permitam e com a celebração do acordo de teletrabalho”, salienta Manuela Pinto, diretora de pessoas e organização da Repsol Portugal.
Na Altice Portugal o regresso aos escritórios está a decorrer “de forma gradual, em escalas de trabalho rotativas e com equipas em espelho num modelo híbrido de trabalho, que se vai manter sempre que as funções o permitam”, garante fonte oficial da empresa.
Flexibilidade. Chegou e é para ficar
Já a Nhood, que implementou um modelo semelhante, optando por uma metodologia de trabalho flexível em que os colaboradores passam a estar três dias no escritório ou em algum dos espaços geridos pela Nhood, e dois a trabalhar a partir de casa ou de um outro local que lhe seja conveniente, está mais perto — embora não faça parte — dos 4% que pretendem acabar com o horário fixo.
Apesar de não ter eliminado radicalmente horários — como está a fazer a Decode –, implementou um horário flexível, uma medida que é para manter-se no futuro, e não apenas para fazer face ao contexto pandémico, que exigiu um cuidado extra do bem-estar das pessoas.
“Este horário flexível permite aos colaboradores iniciarem a sua jornada de trabalho até às 10 horas ou terminarem a mesma a partir das 17 horas, desde que cumpram as 40 horas semanais previstas legalmente. A sexta-feira continuará a ser um dia diferente, uma vez que será possível iniciar o fim de semana mais cedo, ou seja, a partir das 13 horas”, explica Margarida Madeira, diretora de people & culture da Nhood Portugal.
Estas medidas resultaram de um processo interno de consulta elaborado durante a pandemia e já em modo remoto. “Nele foram tidas em conta as diferentes realidades da equipa. Decidimos aplicar recentemente também algumas alterações no próprio funcionamento da empresa, como criar um dia sem reuniões, que, neste caso, é a sexta-feira, e que se irá manter. Face à flexibilidade de horário referida, também não é possível marcar reuniões antes das 10 horas e depois das 17 horas”, esclarece.
Assumidamente uma empresa remote-first, a Talkdesk, por sua vez, quer que a decisão de voltar ou não ao escritório seja tomada pelos colaboradores, e não uma imposição. “Auscultando os nossos colaboradores, percebemos que há quem prefira continuar a trabalhar num modelo 100% remoto e outros querem ter mais oportunidades de colaboração em espaços partilhados”, refere Filipa Ferreira, global head of employee experience and senior director people da Talkdesk Portugal.
“Estamos a terminar de desenhar a nossa estratégia, nomeadamente no que respeita aos hubs de colaboração, sendo certo que a decisão caberá aos colaboradores, numa lógica de total flexibilidade”, adianta a gestora de pessoas do unicórnio português.
Ainda na indústria tecnológica, a Claranet — que tem atualmente em vigor, impulsionado pela situação de pandemia, um modelo de trabalho flexível, em que cabe aos managers definirem escalas de home office e trabalho presencial para as suas equipas — admite que estes regimes têm tido um impacto “bastante positivo”. Seja do ponto de vista da maior conciliação da vida pessoal e profissional das pessoas, como também da atração e retenção de talento e mesmo dos resultados da empresa, garante Catarina Graça, human resources director da Claranet Portugal.
Acredito que podem existir pequenos ajustes no futuro relativamente a este modelo, em algumas equipas, mas na generalidade consideramos que é equilibrado, permite uma melhoria da qualidade de vida e satisfação dos nossos colaboradores, respondendo ao mesmo tempo aos desafios da organização
Num inquérito realizado pela empresa no final de 2021, 93% dos respondentes referiram estar satisfeitos ou muito satisfeitos com a política de trabalho flexível da empresa. “Acredito que podem existir pequenos ajustes no futuro relativamente a este modelo, em algumas equipas, mas na generalidade consideramos que é equilibrado, permite uma melhoria da qualidade de vida e satisfação dos nossos colaboradores, respondendo ao mesmo tempo aos desafios da organização”, assegura a líder de RH.
Entre os modelos híbridos, que aumentam a flexibilidade, há companhias que foram ainda mais longe. É o caso da Mercer, que desenhou uma política de trabalho remoto que tem em consideração as preferências individuais e as necessidades de negócio. Ou seja, oferece liberdade de escolhas aos colaboradores. E o objetivo é que modelo não se esgote na localização a partir da qual se trabalha, mas que vá mais além.
“Este foi o modelo que considerámos ser o mais adequado para nós e que não o assumimos como fechado, estamos continuamente a auscultar as nossas pessoas para perceber como podemos melhorar e evoluir. Cada realidade é distinta e importa refletir na política as especificidades, preferências individuais e de negócio, trabalho esse que temos vindo a desenvolver com os nossos os clientes na implementação das suas políticas”, considera Rita Xavier, head of people da Mercer e Marsh McLennan Portugal.
“Não acreditamos num modelo de trabalho remoto definitivo, nem que o desafio da flexibilidade se esgote com a política de trabalho remoto. Definimos uma política que considera várias opções de trabalho remoto, mas queremos ir mais além. Existem outros formatos que promovem flexibilidade e wellness às nossas pessoas“, acrescenta. E exemplifica: “redução de número de horas, friday afternoon free, entre outras”. Estas são medidas a serem analisadas pela empresa.
Também a Volkswagen Digital Solutions, já a trabalhar num modelo híbrido, oferece algo mais: a possibilidade de trabalhar, até 90 dias por ano, fora de Portugal. “Não é raro ver numa mesma call pessoas lado a lado no escritório a falarem com alguém que está em casa, em Lisboa, e outra pessoa que está na África do Sul, por exemplo. A pandemia veio acelerar a iminente transformação das dinâmicas das equipas, especialmente em IT”, considera Rui Martins, head of marketing & communication da Volkswagen Digital Solutions.
Diria que nenhuma empresa da área tech irá conseguir voltar ao formato prévio de obrigatoriedade de estar presencialmente no escritório todos os dias.
“Diria que nenhuma empresa da área tech irá conseguir voltar ao formato prévio de obrigatoriedade de estar presencialmente no escritório todos os dias”, acrescenta.
Pedais para abrir de portas, torneiras ativadas por infravermelhos e reserva prévia de espaços
Para tornar o regresso ao escritório seguro, há medidas que são transversais a todas as empresas ouvidas pela Pessoas. Cumprir as medidas de distanciamento social, fazer a higienização dos espaços e utilizar máscara em espaços fechados são e/ou sempre que se circule pelos corredores são as mais comuns.
Os novos escritórios da PHC Software, que foram inaugurados em 2021, já foram pensados precisamente para a redução de riscos de contágio de Covid-19 e outras pandemias, seguindo a tendência mundial de reforço de condições de higiene e segurança no local de trabalho, nomeadamente low-touch e higienização dos espaços para maior segurança.
“Além do normal distanciamento entre colaboradores, reforça-se a utilização de pedais para abertura de portas nas casas de banho, torneiras ativadas por infravermelhos, a que se juntam os dispensadores de álcool e oferta de máscaras para visitantes. A inovação que traz maior conforto aos colaboradores prende-se com o recurso a mobiliário antisséptico, como secretárias com um tampo que extermina automaticamente o vírus, ou tapetes que desinfetam automaticamente os sapatos”, adianta Luís Antunes.
Já a Nhood acrescenta aos procedimentos mais habituais os acrílicos de separação entre postos de trabalho, bem como as horas de refeição desfasadas. E brevemente deverá proceder a algumas alterações nos escritórios, de modo a torná-los mais adaptados ao modelo híbrido.
A inovação que traz maior conforto aos colaboradores prende-se com o recurso a mobiliário antissépticos, como secretárias com um tampo que extermina automaticamente o vírus, ou tapetes que desinfetam automaticamente os sapatos.
“Temos phone boots, que são salas exclusivas para uma pessoa, para utilização em chamadas ou reuniões virtuais. Esta tipologia de espaço será aumentada em todos os nossos escritórios em breve para dar resposta ao aumento natural da necessidade para reuniões híbridas”, diz Margarida Madeira.
Numa área distinta, a Mars — onde vigora o trabalho remoto e flexível — diz que vai passar a promover viagens de trabalho “com propósito e não para marcar presença física”. “Através desta medida, as viagens de trabalho ficarão reduzidas, pelo menos, a metade ao nível global. As viagens podem acrescentar valor significativo, mas esta é uma oportunidade de viajar de forma mais ponderada e, consequentemente, melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas, reduzir os custos, e criar um impacto positivo no planeta”, diz fonte oficial da empresa.
Esta medida faz parte do modelo que a empresa denomina como “The Future of Work at Mars”. “Idealizamos onde, como e quando o trabalho é feito para maximizar a produtividade e a eficiência dos nossos associados, ao preservar o que há de melhor na nossa cultura”, esclarece.
Já as instalações da organização foram totalmente readaptadas a esta nova realidade, contando agora com uma nova configuração, mais espaço para garantir maior distanciamento e áreas distintas de trabalho e lazer, “que se interligam para assegurar a comunicação, promover a colaboração e reforçar uma cultura de trabalho energético e dinâmico”.
Para fazer uma melhor gestão dos espaços, a Vodafone optou por utilizar uma plataforma digital interna que, através do sistema de reserva prévia de espaços, serve para controlar os níveis de ocupação física dos escritórios da operadora.
Na Claranet será mantida a possibilidade de realização gratuita de testes à Covid-19 mediante marcação. Uma medida que se aplica tanto a colaboradores como também aos seus agregados familiares.
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